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Já havia perdido a conta das vezes que tentei pegar no sono, mas cada tentativa era frustrada, como se os pensamentos inquietos não me dessem trégua. Me virei na cama mais uma vez, em um gesto automático de procurar conforto, mas só encontrei o vazio. Desisti de lutar contra a insônia, e levantei com a intenção de pegar um copo d'água, talvez na esperança de que aquele simples ritual me ajudasse a encontrar algum tipo de paz. A casa parecia um gigante adormecido, guardando segredos que só se revelavam no silêncio da noite. O frio do chão sob meus pés me lembrava de que eu estava viva, ainda que tudo ao meu redor parecesse estagnado.
O corredor estava escuro, exceto por alguns feixes de luz que vinham das janelas, atravessando as cortinas. Foi quando, ao passar por uma sacada aberta, um vento frio atravessou o espaço e me atingiu em cheio, arrepiando a minha pele. Então a vi — a lua. O seu brilho pálido atravessava as sombras da noite como o olho de uma criatura vigilante, fitando-me com uma atenção que quase me arrepiava mais que o vento. O céu ao redor dela estava infestado de nuvens densas, escuras, que pareciam querer engolir sua luz lentamente. Contudo, mesmo enquanto desaparecia, aquele olhar prateado não me abandonava.
A intenção de ir à cozinha se dissipou. Fui irresistivelmente atraída para a sacada, meus pés movendo-se como se guiados por uma força além da minha vontade. Ao cruzar o limiar, senti a madeira fria sob meus dedos enquanto me inclinava sobre o parapeito, o vento brincando com meus cabelos e as dobras da minha roupa. Então pensei: Por que não? Mas logo recordei, que não podia falhar comigo daquela forma.
A vida passa como um sopro. Nos iludimos, acreditando que certos momentos durarão eternamente — até que se quebram, e nos quebram com eles. No entanto, seja dor ou alegria, se pudesse dizer algo para mim no passado, diria apenas: viva. Aproveite cada fase, altos e baixos, sem temor, pois tudo é passageiro.
A dor nos fortalece, sim, mas também nos consome lentamente, até o fim. O tempo, que parecia tão longo, é breve quando o encaramos no último instante. E ao chegarmos lá, a caminhada parece um sonho esquecido — resta-nos apenas a sensação de que a vida foi um mero sopro. As lembranças tornam-se como sombras, e às vezes, é como se nunca tivéssemos realmente estado lá. Pois o que outrora nos parecia tão real, ao ser revivido na memória, não passa de um eco distante.
— Não está pensando em se jogar, esta? — A voz de Anthony cortou o ar, surgindo como uma sombra que se materializa de repente, inesperada, mas sempre presente.
— Admito que passou pela minha cabeça — respondi, sem desviar os olhos do céu noturno, com suas nuvens inquietas que pareciam deslizar como espectros no firmamento.
Ele se aproximou, seus passos tão leves que quase se confundiam com o murmúrio do vento. Parou ao meu lado, apoiando-se no parapeito frio, seu olhar também voltado para aquele céu, onde estrelas desapareciam e ressurgiam, engolidas por nuvens que pulsavam como um coração sombrio.