Capítulo III

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P.O.V YEONJUN 

Acordo em minha cama e observo o copinho de pílulas novamente em cima da escrivaninha. Levanto e as tomo. Olho para o espelho. Minha roupa foi trocada. Levanto a blusa e vejo diversos roxos e vermelhos espalhados pelo abdômen e costas. Suspiro alto ao ver alguns pontos na região da costela. Quanto tempo eu estive inconsciente?

Olho para o relógio na parede do quarto: 21:30. Perdi o almoço e provavelmente o jantar. Bufo irritado. Meus olhos se enchem de lágrimas e a dor física me atinge. Sento no chão de costas para a porta, observando através das grades da janela. A lua brilhava. Não sei por quanto tempo fiquei ali, mas volto à realidade quando a porta do quarto é aberta devagar. Me assusto e me encolho com medo de serem os homens novamente.

— Yeonjun? — A voz rouca de Beomgyu me atinge. Minha garganta se fecha. Não queria que ele me visse desse jeito, vulnerável. — O que aconteceu? Você não foi no almoço, nem no jantar... — Ele para de falar, provavelmente ao perceber algum hematoma visível por causa da blusa que levantou um pouco quando eu me sentei. Eu não consigo olhar para ele.

— Os coroinhas vieram... — Sinto a pena nos olhos dele queimando nas minhas costas. Detesto tudo isso. Ele murmura um "sinto muito" e entra no quarto, fechando a porta atrás de si e caminhando até mim.

Levanto meu olhar e o vejo parado na minha frente com um pequeno saco de papel nas mãos. Ele me entrega e eu o abro: é um sanduíche. Meu estômago ronca alto e minhas orelhas esquentam de vergonha.

— Trouxe para você — ele diz, sentando-se à minha frente. — Se não foi à cafeteria, você não comeu. Não há outro lugar para comer aqui. Provavelmente estava com fome... E eu queria agradecer por ontem.

Eu só balanço a cabeça enquanto mordo devagar o sanduíche e agradeço por ele não perguntar nada. Eu estava abalado, mas ficar ali, de frente para ele, era de alguma forma confortável. Eu gostava da sua companhia. Após comer, expiro pesadamente e consigo finalmente encarar o par de olhos opacos que vigiavam cada pequeno movimento meu.

— Quer conversar? — ele pergunta, e não consigo mais segurar. Desabo em seu colo, choro e soluço alto, murmurando coisas que nem eu mesmo entendo. Ele acaricia meus cabelos, me deixando extravasar ali mesmo. Era tudo tão pesado. Eu estava destruído. Mas Beomgyu fazia tudo parecer minimamente bem. Não sei até quando chorei e em que momento adormeci, mas sei que foi em seus braços, em seu colo, diante de seu aconchego e paciência. Ele estava comigo, e nada mais importava.



P.O.V BEOMGYU 

Percebo que já passava da meia-noite. Yeonjun ainda dormia tranquilamente em meu colo. Embolando os fios macios de seus cabelos castanhos, penso como ele conseguia parecer tão sereno mesmo após uma grande tempestade como aquela. Ele era calma. Paz. Tudo que eu queria ser. Tudo que eu queria ter, penso, observando os detalhes de seu rosto: o nariz bem definido, o maxilar marcado, as maçãs do rosto salientes e rosadas. Meu olhar desce para sua cintura, descoberta por causa da blusa fina que subiu quando ele se debruçou sobre mim. Vejo os hematomas e meu estômago embrulha. Ele passou pela bênção, assim como eu passei também, assim como todos aqui. Sinto-me extremamente incapaz; queria que ele não tivesse passado por isso. Mexo-me devagar para não acordá-lo. Levanto-o com facilidade nos braços; ele é extremamente leve, mas é compreensível, já que seu corpo magro e esguio nunca me provou o contrário. Deito o moreno em sua cama e puxo o lençol branco fino para cobri-lo. Passo a mão por seus cabelos uma última vez e saio do quarto, indo para o meu.

Sento na minha cama respirando com dificuldade. Ver Yeonjun daquela forma me quebrou. Era assim que eu parecia quando estava em crise? Tão machucado, tão assustado. Sinto náuseas; não gosto de ver as pessoas sofrendo. Lembro do meu pai. Meu corpo estremece; odiava não conseguir odiá-lo. Coloco a cabeça no travesseiro e tento dormir. Mas o sono não vem. Opto por ficar deitado. Não era como se ele pudesse vir aqui apenas para me ninar novamente.

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