Capítulo XXIV

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P.O.V YEONJUN

Beomgyu me encarou incrédulo, provavelmente desconhecendo minha atitude. E buscou em meu olhar um resquício de brincadeira que fosse, naquele pedido.

Caminhou até a mesa atrás de si, tomando nas mãos a garrafa plástica com o conteúdo avermelhado, e riu, anasalado, negando com a cabeça ao ver meus olhinhos negros à sua frente brilharem em antecipação. Mas logo aquele brilho sumiu ao vê-lo caminhar em direção ao banheiro.

— Nem a pau, criança – riu, me encarando por cima do ombro. – Eu disse que isso é uma merda, por que achou que eu te daria? – questionou enquanto despejava o líquido ralo na pia.

— Beomgyu! – o encarei incrédulo, cruzando os braços. – Eu achei que você fosse um cara mais liberal. – Fiz um bico e me deitei na cama de qualquer jeito.

— E eu achei que você tivesse mais juízo que eu – riu, indo em direção ao seu guarda-roupa e pegando uma bermuda ali. – E só pra você saber, eu sou sim um cara liberal. – Jogou a toalha em qualquer lugar e foi mudar de canal na televisão, em um volume baixinho.

— Não parece...

— Yeonjun... – suspirou, apagando a luz e se jogando ao meu lado na cama. – Entenda, se fosse qualquer outra pessoa, eu estaria me fodendo se ela quisesse virar aquela droga daquela garrafa e morresse logo depois – disse agora com meu olhar sobre si. – Mas é você, droga – disse calmo. – Eu disse que queria cuidar de você, não te arrastar pras merdas que eu faço.

— Eu só...

— Olha, eu estaria mentindo se dissesse que nunca imaginei nós dois chapados de qualquer coisa, juntos nessa cama, ou em qualquer outro lugar, fazendo sei lá o quê – riu soprado, se aconchegando debaixo dos edredons. – Mas eu não posso fazer isso, ok? – Selou a pontinha de meu queixo, me vendo assentir compreensivo. – Não vale a pena a curiosidade. Talvez quando você tiver um pouco mais de maturidade e saiba com o que tá se metendo. Algumas escolhas não têm volta – se ajeitou agora, olhando para a televisão velhinha de tubo, que passava algum filme antigo.

Eu vaguei meu olhar ainda preso no rosto do mais velho, mordiscando a parte interna de minha bochecha, ainda analisando as palavras dele.

Cada coisa que ouvia contribuía para a formação de meu pensamento. Eu ouvia, julgava, filtrava e separava o que considerava certo. E naquele momento, minha imaginação criativa devaneou tão alto que eu consegui criar rapidamente um universo alternativo, onde eu usava aquelas drogas, ficava viciado, fugia de várias clínicas de reabilitação e morria de overdose. Até mesmo quis rir quando me dei conta de que estava triste pela morte do meu "eu" imaginário.

Balancei a cabeça tentando dispersar aquelas cenas imaginadas em minha mente. E apenas tentei focar no filme que passava na telinha em frente à cama, me dando conta do quão estranho era estar assistindo algo depois de tanto tempo.

Senti o braço do outro pedir espaço entre meu pescoço e o travesseiro, onde levantei minha cabeça prontamente, deitando-a sobre este membro do outro, que me puxou mais para perto agora.

— Desculpe – me senti na obrigação de dizer.

— Nah... – deu de ombros, estalando a língua, como se me dissesse para esquecer.

— É sério, eu... Às vezes eu acho que se eu começar a fazer certos tipos de coisa, eu vou ficar... diferente logo – comecei a roer a unha, agora tendo os dedos do outro em meus cabelos.

— Diferente como? – perguntou calmo, ainda prestando atenção no filme.

— Eu não sei explicar... – respirei fundo. – Como você se sentiu quando... pintou o cabelo, ou colocou esses piercings e as tatuagens? – o encarei, mais especificamente para cada coisa das quais havia acabado de citar.

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