Capítulo IV

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P.O.V YEONJUN 

Ouço a porta se escancarar e me viro rapidamente. Derick está na porta, com um semblante severo e seu jaleco branco. Eu sabia que ele tinha uma pequena birra comigo, ou com os gays em geral. Forço um sorriso, tentando amenizar a situação, mas parece que isso não adianta.

— Que porra é essa aqui? — Derick pergunta, em um tom alto. Eu me encolho. A sensação é a mesma de quando meu pai me encontrou com Taehyun. É humilhante, mas não deveria ser. — Beomgyu, você está arruinando o tratamento do meu paciente. Onde está sua enfermeira? — Beomgyu não diz nada, ele está paralisado.

Não entendo por que Derick está culpando Beomgyu, sendo que o beijo foi recíproco. Observando-o, vejo as marcas em seus ombros e sinto uma revolta crescer dentro de mim. Como alguém pode feri-lo dessa forma?

Derick fala algo no walkie-talkie e logo tudo começa a zumbir. Meu cérebro entra em modo de proteção, como se estivesse na bênção novamente. Tudo ao meu redor parece um borrão. Lembro-me de ser carregado para fora do quarto, e logo Beomgyu é jogado com brutalidade em uma das muitas salas. Tento protestar, mas também sou empurrado para uma sala ao lado.

A sala é toda branca, com apenas uma cama e um bidê. É pequena, talvez uns 5 metros quadrados. Suspiro e me encosto na parede, sentindo-me completamente perdido. Ouço um ruído fraco atrás da parede. Encosto o ouvido e percebo que é Beomgyu... Ele está chorando. Meu coração se parte. A culpa é minha, eu não devia ter o chamado para entrar ou pedido para ver suas cicatrizes.

— Beomgyu... — sussurro. O choro para. — Ei, Be, estou aqui, está tudo bem. Mantenha a calma, estamos juntos nisso.

— Yeonjun... — A voz dele é fraca. Sinto uma dor no peito. — A gente não vai sair vivo daqui. Estamos na solitária. Eu não quero morrer...

— Não vamos morrer, acredite em mim. — Falo, tentando acalmá-lo, mesmo com o medo que sinto. Queria que ele soubesse que podia confiar em mim e precisava estar calmo. — Eu vou orar por nós.

Então começo a cantar a oração de Santo Inácio de Loyola, que sempre me acalmou.

"Tomai, Senhor, e recebei toda a minha liberdade, a minha memória também" — canto baixinho. Ouço a respiração de Beomgyu falhar. — "O meu entendimento e toda a minha vontade" — Continuo, sempre com a certeza de que Santo Inácio me guiaria, assim como me guiou em momentos difíceis.

"Tudo o que tenho e possuo Vós me destes com amor" — canto um pouco mais alto, sentindo meus olhos marejarem. — "Todos os dons que me destes, com gratidão vos devolvo. Disponde deles, Senhor, segundo a Vossa vontade."

Sinto uma onda de gratidão, não apenas por estar vivo, mas por ter Beomgyu ao meu lado. Fecho os olhos e imagino seu calor através da parede. — "Dai-me somente o vosso amor, a vossa graça" — a última parte é a mais significativa para mim. Ouço a respiração de Beomgyu se acalmar. Ele havia adormecido. Sorrio, pensando que consegui acalmá-lo. Juntos, éramos mais fortes.


Passei o resto do dia na minha cama, tremendo e com medo de que os homens voltassem. Estava sujo, sem um banho há quase dois dias, e minha febre parecia alta. Ouvi vozes ao meu redor, mas não conseguia identificar nada. Sentia mãos me tocando, me erguendo de onde estava.

Meu corpo estava fraco e sem forças. Odiava me sentir tão vulnerável. Senti a claridade e percebi que estava sendo levado para um lugar frio. Quando fui colocado no chão, não consegui me levantar e logo senti jatos de água fria sobre meu corpo nu. Gritei até minha garganta doer, tentando me proteger inutilmente da água gelada.

— P-parem, por favor... — implorei, mas a água parou e as mãos me ergueram novamente. Um dos homens me entregou uma toalha e ordenou que eu me enxugasse. Tremendo, vesti minha roupa novamente. Eles me arrastaram de volta para minha cela, onde me deitei na cama, puxando o cobertor para me aquecer. Eu estava morrendo de frio e adormeci tentando ignorar a fome.



Acordei com a porta da cela se abrindo. Não sabia há quanto tempo estava ali. Beomgyu havia parado de me responder e eu tentava escutar sua respiração, mas as paredes eram grossas demais. A febre e a tremedeira tinham passado.

— Anda logo, viadinho. — Um homem me puxou da cama. Eu estava fraco e com fome. Olhei para o quarto ao lado e ouvi a primeira respiração de Beomgyu, enquanto era arrastado para longe. Repreendi um sorriso. Pelo menos ele estava vivo.

Fui levado de volta ao meu quarto e jogado na cama. Olhei para o relógio: 10:30. Logo seria hora do almoço. Senti um alívio ao perceber que o cheiro de Beomgyu ainda estava nas colchas não trocadas. Agradeci mentalmente à camareira indiana. Sorri ao pensar no dia em que ele esteve ali.

No refeitório, peguei minha refeição e me sentei ao lado de Hope. Ela se espantou e me abraçou, fazendo-me saltar.

— Eu estava tão preocupada. Onde você esteve? — Sua voz estava chorosa.

— Eu e Beomgyu... — Fiquei sem graça ao explicar. Hina, a morena que eu não conhecia, deu uma cotovelada em Hope, fazendo-a se calar.

— Nós soubemos... Sinto muito. — Hina se apresentou, e eu sorri. Beomgyu entrou no refeitório, pegou sua refeição e veio em nossa direção, sentando-se à minha frente.

— Oi. — Ele disse calmamente, e eu sorri. Estava com saudades dele.



Após a refeição e as despedidas das meninas, caminhamos lado a lado pelo corredor do quarto andar. Beomgyu parecia leve e não dizia nada. Quando chegamos na porta do seu quarto, acenei e tentei ir para o meu, mas ele me puxou para dentro do quarto 437.

— O que está fazendo? — Perguntei, e ele sorriu de lado.

— Desculpe, eu só queria te agradecer. Se você não estivesse no quarto ao lado, eu não sei o que teria feito... — Ele começou, com um sorriso tímido. — A música me acalmou. Passaram-se três dias e eu nem pude te dar um feliz ano novo direito.

— Feliz ano novo, Be. — Respondi sorrindo. Seu sorriso era lindo e ele parecia mais leve.

Um silêncio se instaurou. Ambos queríamos agir, mas nenhum de nós tinha coragem. Eu mordia a parte interna da minha boca e sentia seu olhar sobre mim. Decidi agir e o puxei para perto de mim. Aproximando meus lábios dos dele, nossos corações dispararam. Seus lábios encontraram os meus em um beijo longo e intenso.

— Beomgyu, não... — Com muito esforço, o afastei. — Alguém pode nos ver.

— Desculpe... — Ele se afastou, corando. — Você pode me encontrar aqui na hora do jantar?

— Por quê? — Perguntei com receio.

— Eles não vão nos ver, eu prometo. Quero te mostrar um lugar.

— Tudo bem então — concordei, sorrindo. — Até mais tarde, Be.

Caminhei de volta ao meu quarto, enquanto ele me acenava.


eu amo eles :((

até a próxima.

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