O lado da Mona

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  Eu quase cochilava sob o Sol da manhã quando aqueles energúmenos chegaram para tornar minha existência um pouco mais desprezível.

  -Mona! Mona! Mona! Você não vai acreditar! Tenta adivinhar! Tenta! Tenta! Tenta!

  Aquela praga monocromática era mais hiperativa do que o pestinha número 1 que importunava todo o palácio vinte e quatro horas por dia.

Ambos aborreciam minha alma profundamente.

  -O que foi Patas? -Perguntei por educação, pois pouco me importava o que tinha a dizer.

  Muito provavelmente se tratando de outro brinquedinho ridículo que teria ganhado. E agora já se encontrava todo babado e asquerosamente deformado pelos seus dentes ainda de filhote.

  -Adivinha! Adivinha! Aposto que você não vai adivinhar! A Clem-Clem não conseguiu.

  -É verdade que não consegui, mas deve-se notar o fato de que nem tentei.

  Clementine, a única outra alma canina sã deste lugar se sentou ao meu lado ao Sol enquanto Patas alegremente nos rodeava sem conseguir ficar parado por mais de três segundos.

  -Seus pelos estão muito sedosos, o que fez? -Perguntei sentindo um odor agradável de lavanda.

  -Ah, eu tomei banho mais cedo.

  -Hmm. Que estranho, hoje nem é quarta.

  -Eu sei, mas Cicil resolveu fazer um café da manhã das fadas e me cobriu de glitter rosa.

-Oh! Minha nossa, que horror!

-Eu sei, rosa não é a minha cor. Não me valoriza em nada.

-Você tem razão. -Voltamos a apreciar o Sol quando o filhote manchado de vinte e cinco quilos começou a querer atenção novamente.

-Vamos Mona! Tenta adivinhar! Tenta! Tenta! -Ele abanava aquele rabo comprido. Era capaz que, se os jardineiros quisessem, poderiam usá-lo para podar os arbustos.

  Cruzei as patas.

-Ah! Mas você é tão melhor que eu neste jogo! Porque não me conta de uma vez?

Para você poder dar o fora daqui. Completei em minha mente. Claro que jamais diria isto em voz alta. Afinal, esta era a alta classe, e mesmo que a ralé como Patas conseguisse se infiltrar aqui, tínhamos que manter um padrão.

Além do quê, que um cachorro tristonho é muito mais irritante do que um cachorro agitado.

-A Angi vai se casar! Não vai ser legal? Talvez o marido dela tenha mais cães de estimação. Não seria divertido? Teríamos mais pessoas com quem brincar! E eu ia lamber os filhos dos dois! Ia lamber, lamber, lamber e aposto que iriam querer brincar também! Não é legal, Mona?

Espera, o que? Abri os olhos.

-Onde você ouviu isto, Patas?

Ele se sentou coçando a orelha com a pata traseira para se concentrar.

Lá íamos nós.

-Eu acordei hoje muito animado e meus dentes estavam coçando. Eles tem coçando muito ultimamente. Redas disse que é porque eu estou deixando de ser filhote e meus dentes estão acabando de crescer. Então depois de comer e ir no jardim ter certeza de que ninguém tinha roubado meu osso que enterrei no natal, eu fui procurar algo para mastigar.

" Procurei na casa toda e uma das criadas, sabe? A gordinha com cheirinho de amora que não me deixou lamber o pote de amendoim aquela vez. Ela me expulsou enquanto eu estava caçando algo na cozinha."

"Depois eu subi as escadas e encontrei.... Mona você não vai acreditar o que eu encontrei!"

Ele começou a andar em círculos ansioso.

-Concentre-se, querido. -Clementine incentivou.

Como ela conseguia ser tão gentil com estes debiloides adoradores de ossos, eu nunca saberia.

Deveria ser uma santa.

-Bom... -Ele se sentou novamente lambendo os beiços e começando de novo. -Então eu fui para o quarto da Angi porque lá sempre tem um cheirinho gostoso de biscoito amanteigado e me escondi debaixo da cama dela para roer o brinquedo que eu guardo lá desde a Páscoa."

Só conseguia pensar em como aquele coelhinho de pelúcia já deveria estar nojento.

-Mas tinha alguma coisa diferente. Senti cheiro de creme de barbear e mar.

-Você nunca foi ao mar, Patas, não sabe como é o cheiro. -Constatei.

-Eu sei, mas o Redas já foi e ele disse que aquele cheiro era de mar.

Suspirei. Deveríamos ter tomado o controle da educação de Patas das mãos dos outros três há muito tempo. Aqueles cachorros não tinham a mínima condição de criar um filhote, e Patas era a prova viva disto.

-Então eu engatinhei até conseguir ver a Pam escondendo alguém no armário. No começo eu não entendi, mas não me importei porque eu estava muito feliz que a Senhorita Pam estava aqui.

Seu rabo batia tão forte contra a grama que fazia um "Tum Tum Tum" contra a terra.

-Depois de um tempo a Angi chegou também com a Fran e a Mariane e eu fiquei muito, muito feliz!

-Fico feliz, Patas, mas pode chegar logo ao ponto em que descobre que a Angel vai se casar?

-Paciência Mona, ele está quase lá. -Clementine cruzou as patas. -Continue, está indo muito bem.

E para quê? O cachorro só ficou mais animado com seu monólogo interminável.

-Então eles falaram um monte de coisas que eu não ouvi porque estava focado no Sr. Cenouras, mas ouvi quando Seth disse que o rei queria que ela se cassasse.

-E o que Seth estava fazendo lá?

-Não sei, ele apareceu de repente e Fran e Mari não estavam mais lá... Eu fiquei confuso, mas aí a Angi começou a chorar e eu fiquei sem saber o que fazer. Até que eu saí de debaixo da cama e subi nela. Deixei o Sr. Cenouras com as outras almofadas e lambi o nariz dela!

-Oh, Céus! -Tampei meu focinho com a pata. Que desastre!

-Ela começou a rir então eu lambi ela mais! Lambi tanto que Seth teve que me segurar para eu parar de lamber. Então eu lambi ele também. Eu fiz bem não fiz Mona?! -Ele voltou a andar de um lado para o outro.

-É Patas, fez muito bem. -Por sorte o filhote ainda não tinha vivido o suficiente para reconhecer o sarcasmo.

Suspirei e me virei para Clementine.

-Temos que tomar uma atitude.

.......
Está é a Monalisa. Collie.
"Uma verdadeira dama"
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Um estranho no palácioOnde histórias criam vida. Descubra agora