Um estranho no palácio

Mais que uma simples amizade

Não sabia que horas eram.

  E para falar a verdade, nem me importava.

  Não conseguia dormir, muito menos ficar parada.

  Sem ser capaz de tirar aquele conflito dos meus pensamentos.

  Conseguiria algum tempo acalmando a rainha de Inar. Mas e depois?

  Não poderia, não iria me casar com Aaron. Aquela cobra traiçoeira, fanático por poder...

  Mas, no momento, esta não era a única coisa que me corroía.

  Desde que deixara o quarto de Jonathan na noite passada, não conseguia mais parar de imaginar no que o havia metido.

  Estava desesperada e exaltada e não assimilei direito. Fui impulsiva e agora Harper talvez tivesse que pagar com a vida.

  Afinal, não sabíamos se eles aceitariam a entrada do avião no país. Menfor tentou me acalmar dizendo que haveriam quatro caças protegendo o jato se eles, por algum acaso, atacassem.

  Mas pensar em aeronaves militares atirando nos nossos não me tranquilizou em nada.

  E por isto estava indo lá, dar uma chance para Jonathan reconsiderar.

  Tudo bem que eu praticamente o obrigara a aceitar essa missão. Mas agora, pensando bem, ele arriscaria sua vida e ele tinha família e, sinceramente, não suportaria seu espírito provocador me assombrando pelo resto da vida.

  E, por sorte, desta vez eu consegui bater. Uma voz sonolenta e um tanto quanto mal-humorada perguntando:

  -Quem é?

  -Está vestido? -Indaguei.

  -O que?

  -Vou tomar isto como um sim. -E entrei.

  Talvez aquelas seis doses de café não tivessem me feito bem.

  -Bom dia.

Anunciei.

-Jonathan? -O procurei em volta.

  Talvez ele tivesse afundado no meio daquela bagunça de roupas, papelada e... Aquele era um exemplar de "O Sol é para todos"?

  Olhei um livro meio surrado debaixo de outros três quando alguém resmungou do outro lado do quarto.

  -O que você está fazendo aqui? E às cinco da manhã?

  Um Jonathan bem ranzinza olhava indignado o relógio em seu criado mudo.

  E deve-se notar que ele ainda estava esparramado de barriga para baixo na cama. As cobertas o cobrindo até a cabeça.

  O que era bom e ruim ao mesmo tempo. Porque, ao mesmo que isto me impedia de ter uma visão nada confortável de meu sócio, também me impossibilitava de saber se ele estava mesmo usando algo além dos lençóis.

  -Eu vim debater nosso plano de ataque!

  Tomei o cuidado de manter alguns metros de distância em prol de sua privacidade e minha virtude. Afinal, nunca havia visto um homem assim antes.

  -Volte daqui duas horas. -Jonathan se desmanchou nas almofadas.

  Me empertiguei.

Parecia Colin de ressaca.

O que era ridículo. Gostava de pensar que o senhor Harper era muito mais sensato e maduro que meu irmão.

  Abri as cortinas deixando a luz entrar.