A opinião de Clememtine

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  Eu odiava quando vossas majestades deixavam o palácio.

  Tudo sempre acabava num desastre. Da última vez, Sir James botara fogo na biblioteca! Não sei como, nem por que, só senti o cheiro de queimado do outro lado do palácio. Não fosse meu querido Moscada para avisar Sir Colin à tempo, quem sabe o que teria acontecido.

  Mas lá estavam eles. Indo visitar a irmã caçula da rainha que acabara de ter um filhote.

  Não sei porque ela simplesmente não vinha nos ver. Por que os dois tinham que ir até lá? Afinal, ambos tinham coisas mais importantes a fazer.

Mas, quem sabe o que se passa na cabeça de um humano, não é mesmo? Eu com certeza não fazia ideia.

  Nós já tínhamos nos despedido e agora era a vez dos filhotes.

  -Tomem cuidado e não se esqueçam de ligar quando chegarem. -Angi deu um beijo nos dois.

Sempre tão preocupada com o bem-estar dos outros... Ela aprendeu isto conosco.

  -Tomaremos, minha princesa. -O rei a abraçou. -E lembre-se de que é você quem está no comando até voltarmos.

  -Podem deixar. E deem um beijo na tia Beth por nós.

  -Claro, meu bem. -Foi a vez da rainha.

  -Fique longe da adega e daquela garrafa de uísque que seu tio te deu no natal passado! -O amigo avisou Colin.

-Que garrafa? -Ele perguntou de forma inocente, o rei lhe olhando feio, todos sabíamos que Colin era tudo menos ingênuo.

-Vai querer mesmo tentar me enrolar? Eu sei de tudo que acontece nesta casa.

-Eu sei, pai. -Ele suspirou derrotado.

  Realmente, o garoto ficava deplorável quando bebia, por mais que eu e Mona déssemos boas risadas.

Ano passado, depois de algumas doses de Vodca, ele foi parar na fonte do pátio fazendo a dança do ventre em uma confraternização com seus melhores amigos e alguns estranhos.

Por sorte, nem mesmo vossas majestades souberam dos acontecimentos graças a Angi que foi ligeira em tirá-lo de lá com a ajuda de Francine e Mariane.

Uma lástima as três terem caído na primeira tentativa.

Mas, no final, pelo menos, nenhuma delas tinha que se lavar depois disto, já tinham tomado um belo de um banho ao ar livre.

Suspirei.

Tomara que desta vez fosse melhor.

  -Preocupada? -Era incrível como nada passava despercebido pelo atento olhar de Mona.

  -Um pouco. Sim. -Admiti cruzando as patas.

  -Fique tranquila, conosco no controle tudo ficará bem. -Ela ergueu o focinho.

Nem queria ver quando Labaredas descobrisse que ela era quem era a chefe.

  Iria ser um escândalo.

  -Se comporte, querido. Voltaremos o quanto antes. -A rainha beijava a testa do, mal-humorado, James que fazia birra por não poder ir com eles.

Mas, nem se eles quisessem, não havia como.

  Afinal, já era complicado o suficiente a partida dos dois. A família inteira então...

Da última vez, me lembro que Patas, ainda um filhote recém-nascido, ficou perdido entre o labirinto de malas, bolças e apetrechos. Até hoje não entendo porque Sir Colin insistira em levar aquele piano. Eles só iriam passar um mês na praia, afinal.

  Homens... Quem sabe o que se passava na cabeça deles?

  Chegou a vez de Cicília, que se encontrava a um passo de desabar em lágrimas ao meu lado. Pobrezinha... Até hoje não conseguia dormir sem o beijo de boa noite de um dos dois.

  -Prometo que seus irmãos irão colocá-la na cama todas as noites que ficarmos fora. Está bem?

Ela concordou fazendo beicinho.

  O rei se aproximou e a abraçou falando que não tinha o que temer.

  E não tinha mesmo. Afinal, eu e Noz Moscada já tínhamos combinado que faríamos a guarda do quarto dela a noite inteira, se preciso. Ninguém entraria ali sem a nossa permissão. Sem falar que Vênus prometera que dormiria debaixo da cama dela para afastar os tão horrendos monstros que ela dizia morarem lá. Eu, particularmente, nunca tinha visto nenhum, mas não custava nada se precaver.

  -Adeus, vossas majestades. -Seth e Pam acenavam.

  -Não se preocupem, cuidaremos de tudo!

Angel olhou de soslaio para os dois.

  Eles cuidariam de tudo... Uff! Até parece que não estavam lá quando derrubaram o candelabro de cristal da sala verde com aquela bola de futebol, dois anos antes.

  Ainda me lembro de Sethilian gritando: "Eu pego". Dois segundos depois estava tudo estilhaçado no chão.

  E por fim, era a vez do adorável bebê Anthony.

  Acho que ele não entendia o que estava prestes a acontecer, mas não parecia querer largar o colo do pai de jeito nenhum.

  -Está na hora de irmos, querido. -A rainha tentava arranca-lo, contra a sua vontade, dos braços do rei, contra a sua vontade. -Mamãe promete que vai voltar o quanto antes, meu amor. -Ela o abraçou e o entregou a Angel.

  Meu osso roído! Por que simplesmente não lambiam cada um e iam logo embora como qualquer matilha normal?

  A rainha já estava a um passo de chorar antes mesmo de saírem, quando os dois acabaram de se despedir e foram para o carro escoltado.

  Aleluia!

  -E lá vão eles. -Mona os observava partir. -Achei que nunca conseguiriam.

  -Demora cada vez mais. -Me levantei, entrando junto de Cicíl.

  A coitadinha precisaria de bastante apoio emocional e muitas lambidas para se esquecer da partida dos pais.

  -Eles foram embora. -Colin sorriu observando os portões do palácio abrirem e se fecharem.

  -Nem pense nisto! -Angélica o alertou. Ela sabia exatamente no que ele estava pensando e não aprovava nem um pouco.

  -Minha estimada irmã, você precisa começar a aproveitar as chances que a vida te dá. -Ele entrou assoviando com as mãos nos bolsos, tranquilo como se tudo estivesse acontecendo como havia planejado.

E isso nunca era um bom sinal.

  -Já disse que não, Colin! -Ela foi atrás.

  Pam sorriu.

  -Aposto que a convenço até o fim do dia. -Cruzou os braços.

  -Até o fim do dia? Me dê até o almoço e ela estará destrancando a adega por conta própria. -Seth foi na frente deixando uma Pam irritadiça para trás.

  Lá íamos nós de novo.

.......

  E aí está Clementine. Pastor Australiano.
"A colher de chá".

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Um estranho no palácioOnde histórias criam vida. Descubra agora