Noivo

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  O que Aaron Vancovur fazia aqui?

  Como ousava entrar por aqueles portões?

  Como ousava se direcionar a mim como se nada estivesse acontecendo.

  Ele era o inimigo. E no momento estava pisando no tapete persa preferido de minha mãe.

  -Não vou perguntar outra vez, o que você está fazendo aqui? -Sibilei descendo os últimos degraus.

  Ele tirou o sobretudo entregando para o vassalo que o acompanhava.

  -É assim que recebe seu futuro marido?

  Perguntou em tom zombeteiro com aquele sorriso convencido no rosto. Dava quase para ver seus dentes pontiagudos e uma gota de veneno escorrendo do canto de sua boca.

  Aquela cobra dissimulada...

  Parei à, seguros, dois metros de distância dele. O espaço logo diminuindo com ele se aproximando enquanto fingia ajeitar as abotoaduras já impecáveis de sua camisa social.

  Tão arrogante... Tão egocêntrico...

  Tão perto.

  Ele deu uma risada consigo mesmo, o que ele via de engraçado naquela situação, eu não fazia ideia.

  Aqueles dois metros se transformando em dois centímetros.

  Seu sorriso se suavizou.

  Eu não me afastaria.

  -Acha que eu não sei o que você queria mandando aquele seu subordinado submisso?

  Não me afastaria. Repetia a mim mesma.

  Pude sentir sua respiração no meu pescoço, ele aproximando seus lábios da minha orelha, sussurrando em meu ouvido.

  -Acha que não percebi seu plano inútil de impedir esta guerra? De me derrotar ludibriando minha querida avó com suas promessas vazias?

Não recuaria.

-Achou mesmo que conseguiria tempo com este teatrinho? Que mandando um Inarniano criado em Amer adiantaria de algo?

Ele bufou.

-Tenho que admitir que você pode ser bem astuta quando quer. A ideia foi brilhante, por mais que mal executada.

Não. Recuar.

Não me afastar, não me exaltar, não perder o controle.

Não recuar.

Respirar.

-Já deveria saber que quando se encurrala uma presa, tem que ter certeza de que ela não terá por onde escapar.

Ele afastou seu rosto para me observar.

Eu fitava uma mesa de canto, sabendo que não poderia encara-lo sem dar-lhe um soco bem no meio daquele seu nariz perfeitamente esculpido.

Um estranho no palácioOnde histórias criam vida. Descubra agora