As formas de se conhecer alguém

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Tinha acordado mais tarde que o normal.

Mas me sentia muito bem.

Por algum motivo os pássaros pareciam cantar mais alto e afinadamente. Uma delicada melodia, música de fundo que me acordou aos poucos.

As cobertas estavam mais macias do que nunca. Nuvens brancas nas quais me deitava.

Os raios de Sol que entravam pelas portas de vidro da varanda aquecendo meu rosto. A luz amarelada me provocando uma certa sensação de paz e felicidade.

O cheiro de grana molhada entrando pela janela entreaberta junto da fragrância das rosas presas à trepadeira que subia até a minha sacada.

Abri mais os olhos ainda sonolenta. Tinha remexido a noite toda e me encontrava de barriga para baixo abraçada a um travesseiro enquanto apoiava a cabeça em outro.

As moléculas de poeira voando no ar e refletindo à luz da manhã.

Me espreguicei, ficando de bruços e dando uma olhada no quarto.

E então meus olhos fixaram no que estava em cima da mesinha redonda de café da manhã.

Croissants, tradicionais, de chocolate e caramelo juntos de um copo de suco de laranja e uma maçã verde.

Como Mari poderia me conhecer assim?

Acho que nem eu me conhecia tão bem.

Me sentei, meu cabelo tão bagunçado quanto um ninho de corvos. Peguei a gominha presa no meu pulso e fiz um coque frouxo.

Peguei meus óculos e livro na escrivaninha, bem onde deixara na noite passada, acabando por revelar a carta de Jonathan bem debaixo dele. O havia pegado de volta da caixa de joias ontem depois que Coli foi embora.

A peguei e a levei até o nariz. Aquele cheirinho de lavanda impregnado ao papel... E então olhei para os tênis do outro lado do quarto.

Ele fora o único.

O único que me decifrara em tão pouco tempo.

Todos os outros que me conheciam assim, demoraram meses, se não anos.

Ele só precisou de uma noite.

Como uma futura rainha poderia ser tão transparente?

Ou seria ele que era muito perspicaz?

Não importava, pensei guardando a carta na primeira gaveta da escrivaninha.

Me levantei indo até a mesinha e tomando um gole do suco enquanto voltava a olhar meu quarto.

Desde que eu me lembrava ele tinha aquela mesma pintura.

Paredes rosa claro típicos dos aposentos de uma menina bem comportada.

Inspirei fundo.

Mas eu já não era mais uma garotinha e por algum motivo estava com vontade de mudanças. Precisava de mudanças.

  Inspirada, em fazer algo novo.

Iria pintar aquelas paredes. E iria pintá-las hoje!

Logo depois de tomar o café e ler mais alguns capítulos, é claro.

.......

Vênus me olhava como se eu fosse louca.

Eu podia ver.

Lá, deitado na minha cama me olhando de baixo para cima.

Para muitas pessoas ele poderia parecer apenas entediado, mas eu sabia! Sabia que estava pensando que eu tinha perdido a sanidade!

Um estranho no palácioOnde histórias criam vida. Descubra agora