- Você pode comer isso aqui! Não é muito gostoso, mas você vai precisar para se recuperar.
Disse ele entregando-me uma tigela com uma espécie de ensopado gurduroso, com pedaços estranhos em quadradinhos laranjas flutuando na sopa. Peguei uma colherada e enfiei na boca, estava quentinho, mas não tão ruim, tinha um leve sabor amargo no entanto ainda assim gostoso ou talvez fosse minha fome falando mais alto. Ele sentou-se ao meu lado com um pote menor nas mãos e uma espátula pequena, o pote parecia conter algum tipo de pasta verde incomum, ele aproximou-se da minha coxa ferida.
- Vou dar uma olhada, e passar um pouco de gume por cima, vai ajudar a cicatrizar, então se concentra na sua comida e me deixe fazer as mágicas - disse estralando os dedos e em seguida puxando o tecido rasgado da minha calça ao redor do ferimento - Vamos precisar de uma calça nova pra você - disse isso e aproximou uma tesoura do tecido, próximo ao meu ferimento, senti um espasmo rapidamente percorrer minha perna tentando afasta-lo - Vou tomar cuidado, eu juro, mas precisa me deixar limpar.
Dito isso tentei me acalmar, ele cortou o tecido ao redor do ferimento e seu rosto fazia uma expressão tensa, preocupada, contraindo a mandíbula com olhos fixos. Seus cachos do topo da cabeça balançaram levemente pendendo pra frente. Voltei a me concentrar na sopa, várias colheradas de uma vez, eu estava com muita fome. Sentia os dedos dele deslizando levemente ao redor da ferida, uma ardência era provocada a cada contato, se ele pesasse a mão só mais um pouco seria uma dor insuportável. Senti a minha tigela ficando vazia, dei as últimas colheradas e a repousei no canto da mesinha ao meu lado, então voltei meus olhos para o garoto que agora pegara a espátula e passou pela pasta verde juntando uma quantidade considerável na ponta, algo me dizia que o processo seria doloroso. O garoto voltou-se para mim com a espátula suspensa no ar, deu um leve sorriso de canto como se pedisse desculpa.
- Então... Quando é que você vai resolver falar comigo? - disse isso e abaixou a espátula - Porque até o momento eu acho que eu possa estar sendo indelicado e você não saiba falar, mas também tem a possibilidade de você saber falar e não querer falar comigo, é compreensível. Você não dá nenhum sinal então como vai perguntar o que me quer perguntar? E eu sei que quer pois dá pra ver no seu olhar, precisa estabelecer um tipo de comunicação, sabe? Quero ouvir sua voz. Eu não falo com ninguém há....- ele mudou a expressão com se estivesse distante dali - sei lá... muito tempo.
Ele baixou a cabeça e voltou-se para minha ferida e com a espátula ele espalhou a pasta sobre a mesma, a dor me consumiu subitamente foi crescendo em proporções avassaladoras até minha nunca tirando o ar dos meus pulmões e me queimando por dentro, senti minha garganta formando um nó e então de forma gradual foi diminuido camada por camada, mas ainda queimava, queimava e eu ainda sentia minha nuca como se tivesse sido espetada por agulhas. Ele foi terminando de espalhar a pasta, e eu fui apagando, a dor roubou as últimas forças que eu tinha pra me manter sentada e antes que eu batesse minha cabeça no piso o garoto segurou minha nuca e a repousou no chão de forma delicada, eu olhava nos olhos dele, o mesmo olhava pra mim.
- Tudo bem. É ruim assim mesmo, amanhã você vai tá melhor. Eu devia ter avisado. - disse enquanto me olhava, eu não estava feliz e agradecida naquela hora, na verdade me sentia anestesiada pela intensa dor.
Eu não consegui dormir, fiquei meio consciente e meio desacordada, meus olhos estavam fechados, mas ainda podia ouvir e senti-lo. Ele ficou ali do meu lado por tempo, tratou dos meus arranhões no braço com água e pomadas normais em seguida enfaixando cuidadosamente, no entanto senti que media minha mão com a dele unindo nossas palmas, e mantendo meu braço suspenso sobre o dele. Minha outra perna ele também cortou a calça, e com uma tala feita pelo mesmo a imobilizou prendendo com uma faixa suja de pano puído. Seus movimentos eram cuidadosos, precisos, e em seguida me vi completamente enfaixada e tratada senti que ele se acomodou alguns metros distante de mim no canto da sala, e que já havia adormecido, minha consciência foi se apagando também.
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Preciso Te Ver Além Do Céu Noturno
Ficción GeneralNum mundo apocalíptico a beira da extinção dominado por seres bestiais, Leona sobrevive sem memórias de seu passado. Após ser salva por um garoto desconhecido, sente que seus destinos se uniram em meio ao caos mesmo com receios em relação a ele. Amb...