Preciso Te Ver Além Do Céu Noturno

Capítulo 15

Minha cabeça ainda rodava tentando por as ideias no lugar, não fazia muito sentido, mas ele falou claramente para que eu "voltasse pra casa", era irreal pensar que no meio de um mundo destruído e com a vida sem cor que eu tinha, imaginar que havia uma "família". Pensei no termo e automaticamente me senti estranha, como se fosse outra pessoa, se eu tinha uma "família" porque eu não estava com ela durante todo esse tempo? Todas as minhas memórias iniciais começavam numa rua enlameada, seguida de uma sala escura sendo torturada, e além de tudo matei alguém. Era impossível que fosse eu.

Vanuza brigava com os outros, sua voz estava distante demais na minha cabeça para que lhe desse ouvidos, mas captei poucas de suas frases.

- Eu disse! Eu falei! Essa garota estranha e esse moleque estranho são da mesma linha. A porcaria de um encapuzado?! Faça-me o favor! No mínimo tudo isso já estava armado. Não devíamos ter confiado.

Dario ainda estava com as mãos pro alto revezando o olhar entediado para o pequeno grupo a quem Vanuza gritava e o olhar impaciente para mim, que até então não havia pronunciado uma palavra. Vicent era o único de fora da rodinha que me encarava incessantemente, não pudia saber o que pensava mas imaginei o que diria a mim, e eu devia reagir, qualquer mínima reação era esperado de mim.

- Chega disso! - falei mais alto do que pude, chamando toda a atenção para mim - Você aí, como pode ter certeza? Do que você ta falando? - perguntei dando passos na direção de Dario.

Ele abaixou as mãos e me encarou de volta.

- Com certeza não é pelo seu cabelo! - brincou ele, eu o empurrei com uma das mãos exigindo respostas melhores - Você não tem memórias da sua vida de antes, você ficou presa durante anos com Demétrios, e tem algo em você que reconheço de longe, tem mais força de luz dentro de você do que imagina, seus olhos transbordam isso a todo momento.

- Então ta dizendo que eu sou sua irmã? - questionei.

Todos ao nosso redor nos encaravam, tentando absorver o máximo de informações.

- Não seria surpresa! Gente vocês idênticos! - falou Leoncio, em seguida Ícaro deu lhe um tapão na nuca para que se calasse.

- Sim, somos irmãos, e não somos também! Veja bem, você é a primogênita, eu sou adotado, somos da mesma família, mas meus pais de verdade morreram protegendo você, e seu pai havia perdido uma filha, ele cuidou de mim.

- Pai? - meus olhos estavam a ponto de ceder, tudo era novo demais, tudo me acertou rápido demais.

- Peraí! Então tem mais de vocês? - perguntou Lítia.

- Claro é uma linhagem antiga.

- Precisamos de mais respostas! - exigiu Vanuza.

- Vocês querem resposta? Pra quê? Sinto em dizer que eu só respondo coisas importantes para a primogênita ali! - falou apontando para mim - E principalmente só vou embora com ela.

- Tem mais de vocês?... De nós? - me corrigi tentando estabelecer uma conexão com algo do que ele dizia - Mas espera, não pode ser eu, eu não faço nada do que você faz.

- Mas é claro que não! Você não nasce com tudo! Algumas habilidades de luta podem despertar em você no calor do momento, mas o resto você precisa treina pra entender. - respondeu cautelosamente.

- Quer saber, você devia ir com ele! Ouviu o que ele disse se ficarmos com você outro Deponial pode vir atrás de nós. Eu não sei o que você fez pra ligar o GPS deles mas não dá pra ficar com nós. - falou Vanuza firmimente.

- Não! - protestou Morgon - Como assim? Desde quando as palavras desse cara se tornaram absolutas?

- Desde que ele transformou um Deponial em pó com uma espada que some! - respondeu Vanuza ríspida.