Capítulo 6

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Existe algo de muito errado em tudo isso. O mundo simplismente virou do avesso e por mais que não tenha sido minha época eu sei que as coisas nem sempre foram assim, eu corro e me escondo nos escombros de uma civilização passada que não viveu o que vivo agora, eu me protejo com os restos de ruínas que deixaram para trás, as marcas de uma outra vida em aspecto tão contrastante com o atual. O mundo simplismente eclodiu em si mesmo e devastou tudo que existia mas ainda permitiu que ouvesse vidas a pisar sobre essa terra oca, permitiu que gerações continuassem, penso eu que é só pra ter o prazer de sentir o desespero em cada um de nós. 

E ainda dizem ser obra do demônio, eu posso não acreditar fielmente na história da troca das almas antigas, mas ela as vezes faz sentido, quando meu coração acelera, quando sinto meu sangue derramar, quando olho nos olhos de um Deponial eu sinto algo mais forte rindo e caçoando da dor. Minha dor. Minha vida. O que era minha vida?  

 Esse pode ser o fim do mundo mas com toda certeza o fim do mundo mais demorado que existe, a tantos ainda pra morrer, tantos que se agarraram a isso de sobreviver. Um simples "CABUM!!!" resolveria mas o mundo está louco e os seres humanos tem instinto de baratas, se ploriferam até mesmo nas eras mais impossíveis de viver. 

Eu fui deixada no fim de uma rua... com lama pra todo lado e me venderam pro Velho, ele me torturou, eu não lembro de nada antes disso. Eu fugi. 

Eu fugi. 

  Vicent, seus olhos ficaram sombrios, você me ajudou, mas seus olhos me faz querer fugir ou bater em você até que fique inconsciente, é  algo além do que eu possa explicar. Porque me ajudou? 

   Onde eu tô exatamente? O decrépito que transformou o planeta nessa vala do inferno, se é que existe um culpado físico que eu possa arrebentar espero que ainda tenha vida, espero que esteja tão perdido quanto o que restou de humanidade sob esse chão frio. Palco de inúmeras demonstrações de insanidade através dos anos, guerra, nacionalismo exacerbado, mortes sem motivo, humanos sendo humanos, e então isso... o grande e esplendoroso final a humanidade se superou em todos os aspectos negativos possíveis.     

   E tudo isso me levou até aquele lugar, naquela noite me embriaguei de inércia e não me lembrei de todo caos, de todo o rumo apocalíptico que minha vida estava trilhando desde de o início, não imaginei meu fim nas garras de um Deponial, eu fiquei inerte a tudo isso.                                                                             

  Na minha cabeça tudo parecia amplo como se alguém tivesse esticado o meu cérebro, vez ou outra meus pensamentos ricocheteavam uns nos outros causando um efeito de mola, minha visão embaçava e tremia, minha pernas pareciam geleia, eu mal entendia se estava de pé ou se estava no chão, mas a sensação de incoerência física e da falta de estabilide me trouxe um alívio em meio a minha rotina. Eu me sentia como parte da onda na multidão que se mexia incessantemente. 

   Alguns flashs vinham a minha mente e me lembro de Morgon e eu aproveitarmos a multidão e ficar brincando de esconde-esconde entre as pessoas, mas ele era péssimo nisso sua estatura era maior que a grande maioria e eu pulava nas costas dele assim que o encontrava e gritava em seu ouvido, mas meu grito era unísso a tantos outros a minha volta que não era possível distinguir um vocal de outro, quando Morgon me achava na multidão ele também pulava em cima de mim mas nos caímos no chão muitas vezes, minha estatura não se aproximava nem um pouco da dele. 

  Lítia estava mais a frente ela dançava feito louca, com jogada de cabelo e pulos contínuos, um cara se aproximou dela mas ela riu e o empurrou seguindo sua dança maluca no meio de tudo aquilo, a perdi de vista segundos depois. Em seguida Leoncio me alcançou pondo a mão no meu ombro, a mão dele parecia algodão líquido se espalhando pela minha pele, eu ri com a sensação. 

Preciso Te Ver Além Do Céu NoturnoOnde histórias criam vida. Descubra agora