Capítulo 22 (Um Mês)

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 O enterro após a recuperação de dois dos três corpos na fenda d'água estampava meu fracasso mas Aretha também sentia isso amargamente, ela se mantinha calada e presa no próprio mundo observando a tudo, eram os amigos dela que foram trucidados mas eu sei que eu poderia ter evitado tudo aquilo se fosse mais forte, quanto mais eu olhava a dor no rosto dela mais eu pegava aquele peso que ela sentia e colocava sobre meus ombros eu iria atrás da responsabilidade e não mais fugir de tudo aquilo, a dor dela era minha e o meu fracasso seria minha impulsão pra seguir em frente.

  A família de Juvilya e Ladrian permaneciam firmes, uma conduta de Kahaal em honrar seus filhos que morreram em batalha, Jerley mal conseguia olhar nos olhos da família de Ladrian ele também se culpava imensamente por te-lo deixado e mesmo que a situação fosse inevitável ele mantinha dor que sentia, sua expressão dura e impassível agora tomava o lugar da disposição irônica e sarcástica, eu também tomei sua culpa para mim, afinal Ladrian ficou para me proteger.

  Os corpos foram entregue as chamas  numa área mais distante da cidade subterrânea passando por túneis que davam próximos a superfície, a cerimônia pareceu singela e sem grandes adornos, a morte ali era simples e passageira como mais uma fase concluída ao invés de ser o fim, assim como as memórias e esforços feitos que não seriam apagados mas unidos a chama de uma luz primordial.

   O corpo de Galfyn não foi encontrado, isso era um mal sinal, os destroços do barco foram localizados mas o corpo não estava lá ao que tudo indica foi levado pelos Deponiais e torciamos para que com sorte o corpo dele estivesse debilitado o suficiente para extinguir os componentes do fluxo de luz, pois estava mais que provado o horrendo resultado das experiências que vinham sendo desenvolvidas. A família dele queimou uma mortalha dourada em simbolismo e também em prece  para que seu corpo fosse deixado em paz de quaisquer profanações. O conceito de fé a quem eles tentavam alcançar suas esperanças era intrigante para mim, mas ao que parece a existência de um povo divino da luz era a fé necessária que sentiam para crer em uma força universal.

   Meu treinamento se seguiu logo após isso, agora era mais intenso e em áreas fora da sala de aula eu treinava em locais íngremes e derrapantes, escalava rochas e me equilibrava em espaços minusculos a metros do chão, todo meu treinamento estava sendo conduzido agora por Kírio e ela era rígida em todos os treinos e todo o esforço surtia efeito na minha agilidade e na minha força no entanto o controle da ancestralidade do fluxo de luz ainda é inutil, eu consigo senti ela dentro de mim mas não há meios que me façam molda-la da forma que ela despertou na fenda d'água. 

  Aretha tem ficado mais próxima, ela vem compartilhando do meu treinamento com Kírio quando não está ocupada em suas missões, por vezes me vejo tentando supera-la e eu acho que ela percebe isso pois intensifica a defesa e o ataque me provocando e apesar de parecer perigoso aquilo estava mais para um jogo restrito entre nós duas. Ela vem me orientando em como reagir a cada situação de combate e mesmo sendo muito difícil alcançar as expectativas dela eu mantenho o ritmo e agrego tudo que sinto ser necessário e que eu consiga fazer. Dario vem me acompanhando e ajudando em termos mais técnicos ele me ajuda a me habituar aos longos túneis e passagens, me explica lugares e partes pequenas sobre Kahaal assim como a divisão de trabalhos e setores. 

   Meu pai tem estado muito ocupado e eu mal vejo ele, o estudo sobre mutações de humanos com infernalidades de bestas vem sendo um desafio para ele e a divisão de pesquisa e ciência. Todo o terror envolta daquela figura humana preucupou a quais avanços o Velho pode ter chegado e até onde se estendia, a cidade subterrânea agora parecia estar sob ameaça e medidas protetivas era emergenciais. 

   Quando não estou treinando geralmente passo tempo na casa de banhos da Lúcia ou passeando com Joab e Alan que se queixam da falta de Dario com suas ocupações, não posso dizer que estou indo mal ou que me sinto mal na verdade toda a pressão que cai sobre mim é mais um estimulante, as vezes me sobre carrega mas me foco em pequenas conquistas que vou conseguindo e quando me sinto engolida por tudo aquilo eu respiro fundo e apago tais problemas, se eu me deixar levar jamais vou progredir em nenhum aspecto e isso não faz parte do meu plano, tenho que seguir rápido e precisa no objetivo, eu preciso combater meus demônios até que eles deixem de me afetar.

  Quanto mais me concentro nisso menos me lembro da minha vida antiga, tudo mudou drasticamente e agora todo o ambiente era familiar e importante para mim como se eu tivesse escavado a terra profunda e encontrado minha raiz e quanto mais eu escavo mais forte essa raiz se torna. De nômade a herdeira primogênita de um povo estranho e subterrâneo, eu poderia chutar diversas versões  mas isso era mais do que minha imaginação teria alcançado, por vezes me lembro dos amigos que deixei lá em cima e se eles ainda se lembravam de mim, foi muito pouco tempo e seus rostos ainda estavam marcados no entanto suas vozes misturavam uma com as outras. 

   O esganiçar de Deponiais me assombram a noite lembrando do inferno e a assolação que permeia toda a Terra, vidas e subvidas largadas em ruínas que se deterioravam a sociedade esquecida enquanto os humanos sobreviventes mantinham o pulsar de suas vidas fracas correndo em labirintos sendo perseguidos por Deponiais, e agora que eu estava em Kahaal via mais do que apenas um lado, antes aquilo era apenas uma penitência da existência, agora eu entendo que existe NÓS e existe ELES, se Deus ou o Diabo tem algo nisso já não tem importância, porque eu finalmente entendi que isso não é castigo divino, é  uma guerra.



Preciso Te Ver Além Do Céu NoturnoOnde histórias criam vida. Descubra agora