Capítulo 6

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               _Entendendo o passado de Sofy _
     
                                **Ecos do Passado**

Era uma tarde nublada quando Sofy se lembrou de um dia que parecia distante, mas que ainda a assombrava como um eco persistente em sua mente. Dois anos haviam se passado desde aquele fatídico aniversário de quinze anos, mas as cicatrizes emocionais ainda estavam frescas, como se o tempo não tivesse conseguido apagar as marcas do sofrimento.

Sofy encontrava-se em seu quarto, envolvida em lágrimas, enquanto seus pais protagonizavam uma acalorada discussão na cozinha. O som dos pratos se chocando e das taças se partindo ecoava incessantemente, criando uma trilha sonora de desespero que penetrava em sua alma. A dor em seu quadril persistia, fruto das memórias de seu pai, Cézar, que a lançara brutalmente contra a parede da sala naquela noite fatídica. Sua mãe tentara intervir em sua defesa, mas acabara sendo violentamente agredida com um jarro de centro de mesa, quase perdendo a visão devido às surras que lhe desferiam no rosto. Aquela cena já se tornara corriqueira, uma triste realidade que se repetia como um ciclo interminável.

A dor física era constante, mas as cicatrizes em sua pele eram testemunhas silenciosas de um passado permeado pelo sofrimento e ódio. Sofy olhou para suas mãos, observando as marcas que contavam sua história e a história da mulher que sempre tentara protegê-la. As memórias do passado a assombravam: as noites em que se escondia sob as cobertas, tentando abafar os gritos e os sons de socos e choro. O cheiro do álcool na respiração de Cézar era um lembrete constante da tempestade que ele trazia para dentro de casa.

— Mãe... — murmurou para si mesma, lembrando-se do esforço dela para evitar que Sofy sofresse o mesmo destino. Sua mãe sempre fora um escudo contra a tempestade que se abatia sobre elas, sacrificando-se para mantê-la a salvo. Mas havia momentos em que Sofy via o olhar derrotado dela refletido no espelho, como se cada golpe recebido fosse também um golpe em seu próprio coração.

Cézar nunca se dignara a trabalhar; ao invés disso, explorava a mãe de Sofy para sustentar a família através de meios obscuros e ameaçadores. A subserviência materna era a única forma de sobreviverem em meio àquele ambiente hostil; ela se tornara uma peça em jogos perigosos envolvendo empresários e homens poderosos, sempre à mercê de um mundo cruel.

Sofy recordou-se vívida daquela tarde fatídica dois anos atrás: o cupcake decorado com uma vela erguida representava muito mais do que um simples gesto. Era um símbolo de esperança em meio ao caos. Contudo, a chegada de seu pai transformou aquele momento especial em um pesadelo cruel.

— Papai, não! — gritou Sofy ao vê-lo entrar na sala como uma tempestade.

Sem hesitar, ele arrancou o bolinho das suas mãos e o atirou ao chão, esmagando-o sem piedade sob seus pés. O doce que simbolizava sua infância foi reduzido a migalhas na frieza do piso.

— Você não merece isso! — ele rosnou, enquanto Sofy sentia o coração afundar na dor da humilhação.

Mas o pior ainda estava por vir. Naquela mesma noite fatídica, após a cena do cupcake, Cézar decidiu descontar sua raiva acumulada em sua esposa. Sofy assistiu horrorizada enquanto ele empurrava sua mãe contra a parede da cozinha como se ela fosse apenas um objeto. O barulho do corpo dela atingindo o chão ecoou em seus ouvidos como um sino de alerta.

— Você é uma inútil! — gritou Cézar com desprezo. — Não sabe fazer nada certo!

Sofy sentiu sua própria respiração ficar pesada enquanto lágrimas escorriam pelo seu rosto. Naquele momento, ela teve certeza de que nada poderia salvá-las daquela vida infernal. O amor por sua mãe misturava-se com o medo paralisante do homem que deveria ser seu protetor.

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