Capítulo 7

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Em meio à tranquila colheita de verduras na horta, a presença travessa de Luke, o filhote de cachorro, revelava-se desafiadora e inusitada. Enquanto minha tia dedicava-se ao cuidado das mudas brotantes, o pequeno canino empreendia uma verdadeira revolução, desfazendo em instantes o trabalho meticuloso do plantio. A algazarra provocada por sua energia juvenil era tão intensa que surpreendia a todos os presentes, inclusive a mim.

Diante da desobediência canina, ergui minha voz em um chamado firme e autoritário:

— "Luke! Venha aqui agora!"

Contudo, suas travessuras pareciam desafiar minha autoridade, e ele prontamente desconsiderou minha ordem, saltando destemidamente para dentro da horta de alfaces. Determinada a resgatá-lo daquele cenário caótico, lancei-me em uma corrida desesperada, porém infrutífera, pois a agilidade de Luke superava em muito meus esforços. Num instante de brincadeira e cumplicidade, consegui finalmente capturá-lo entre meus braços, celebrando nossa conexão única.

A história de Luke remontava a um triste episódio de abandono em uma rodoviária distante. Ao cruzar meu caminho em Oslo, seu olhar carente e sua lealdade incondicional conquistaram meu coração, levando-me a acolhê-lo como parte essencial de minha vida. Em meio às incertezas e desafios que se apresentavam diante de mim, a presença reconfortante do fiel companheiro canino se tornara um símbolo de amor e esperança, preenchendo um vazio afetivo há muito tempo latente.

Agora, instalada temporariamente na imponente mansão sob os cuidados generosos de Leon, sentia-me grata pela acolhida e pela oportunidade de estabilidade que ali encontrava. Embora as circunstâncias ainda demandassem resoluções complexas e decisões difíceis, vislumbrava no horizonte a possibilidade de reconstruir meu futuro com determinação e coragem. A perspectiva de concluir meus estudos, conquistar independência financeira e assegurar a proteção de minha mãe eram metas claras que delineavam meu caminho rumo à autossuficiência.

No entanto, o peso das incertezas e das mágoas do passado pairava sobre meus ombros como uma sombra constante. A solidão forçada pela necessidade de guardar segredos e proteger os que amo impunha um fardo emocional difícil de suportar. As palavras sábias de minha mãe ecoavam em minha mente:

— "Lembre-se da importância da paciência e da confiança no fluxo natural da vida."

A busca por justiça e redenção ocupava um lugar central em meu íntimo, desafiando minha fé nas recompensas do destino e na existência de uma ordem superior que regesse os acontecimentos.

Ao adentrar meu novo aposento na mansão, deparei-me com uma realidade contrastante: entre poucas roupas dispostas em uma mala negligenciada jazia um quarto modesto porém confortável. A cama macia convidava ao descanso reparador; o amplo guarda-roupa refletia possibilidades ainda não exploradas. Observando os detalhes do ambiente que seria meu refúgio temporário, vislumbrava oportunidades de transformação e renovação. A proximidade com o jardim através da janela emperrada simbolizava a liberdade ansiada que aguardava para ser conquistada.

O cenário repleto de objetos pessoais desconhecidos despertava minha curiosidade e alimentava minhas expectativas em relação ao futuro incerto que se descortinava diante de mim. Entre livros empoeirados, cadernos esquecidos e caixas misteriosas guardando segredos silenciosos, vislumbrava um universo de possibilidades ainda não exploradas. A iminência do retorno às atividades escolares no dia seguinte adicionava um senso urgente de propósito à minha estadia na mansão.

O último ano letivo se apresentava como um capítulo final repleto de expectativas e desafios a superar. Ansiava pelo término dessa etapa significativa em minha jornada educacional, vislumbrando novos horizontes profissionais e pessoais a serem conquistados com determinação e perseverança.

Após horas dedicadas à limpeza minuciosa do quarto, o ambiente reluzia imaculado, rivalizando com a imponência da Casa Branca. Luke exibia-se radiante sobre a almofada improvisada; gesto que sem dúvida denotava profunda gratidão. Subitamente, batidas ressoaram à porta.

— "Menina, venha me auxiliar com o jantar!" — bradou Dona Estela, solicitando a presença de Sofy para ajudá-la na cozinha.

— "Já estou a caminho, Tia," — prontamente respondeu Sofy, seguida por Luke em saltitantes brincadeiras. Estela contemplou maravilhada a destreza da sobrinha ao manejar habilmente uma faca profissional durante o corte ágil das verduras.

— "Querida, você certamente não herdou o jeito de sua mãe! Ela era uma cozinheira inábil em sua idade... mal sabia manejar uma faca. Veja só você!" — expressou Estela perplexa diante das habilidades culinárias de Sofy.

— "A respeito de minha mãe... ela trabalhava arduamente; então eu tive que aprender," — explicou Sofy com melancolia.

— "Falando nisso, onde ela anda? Não tenho contato há anos... fiquei surpresa quando soube de sua vinda para cá. E seu pai?" — indagou Estela curiosa.

Ciente de não poder revelar detalhes à tia, Sofy prontamente desviou o assunto:

— "Acho que a lasanha está queimando..." — distraindo Estela que correu para verificar o forno. Ao constatar que a massa ainda estava crua, aliviou-se e retomou a conversa.

— "Precisa de mais alguma ajuda? Tenho que organizar minhas coisas para amanhã," — tentou se esquivar Sofy.

Ciente de que não podia compartilhar os detalhes com sua tia, Sofy rapidamente desviou o assunto, sua mente fervilhando com a tensão escondida. — Acho que a lasanha está queimando... — disse ela com um tom leve, mas seu coração batia rápido. Estela, distraída, correu para verificar o forno, e Sofy respirou aliviada ao ver a expressão de alívio no rosto da tia quando constatou que a massa ainda estava crua. A tensão momentaneamente dissipada, Estela retornou à conversa.

— Precisa de mais alguma ajuda? Eu realmente preciso organizar minhas coisas para amanhã — tentou se esquivar Sofy, sentindo um nó se formar em seu estômago.

— Pelo momento, está tudo bem. Pode ir — respondeu Estela com um sorriso, mas a preocupação ainda pairava no ar. — Qualquer necessidade, estarei à disposição — acrescentou Sofy apressadamente enquanto se retirava da cozinha, deixando Estela mergulhada em suas próprias tarefas.

Ao voltar para o quarto, uma onda de ansiedade a envolveu ao notar dez chamadas perdidas em seu celular, todas presumivelmente de seu pai. O coração acelerado, ela hesitou por um momento antes de retornar a ligação, temendo que algo grave tivesse acontecido.

— Garota! Por que não atendeu? Você não compreende a gravidade da situação? Parece que não se importa mais com sua mãe! — vociferou seu pai do outro lado da linha. As palavras cortavam como facas, fazendo-a tremer involuntariamente.

— Tentava explicar... eu não estava... — balbuciou Sofy com a voz trêmula, mas foi bruscamente interrompida pela severidade paternal.

— Não quero saber de desculpas! Aqui está o endereço. Esteja lá pontualmente às 19:00 e peça para falar com Falcão em meu nome. Ele lhe explicará o que deve fazer. Caso contrário... adeus mamãe — finalizou abruptamente a ligação, deixando Sofy atônita e paralisada.

— Espere... — tentou argumentar Sofy em vão, mas o silêncio ensurdecedor do outro lado da linha foi sua única resposta.

O celular vibrou em sua mão como um aviso sombrio. Uma mensagem apareceu na tela:

— Boate X7, Avenida Principal às 19:00hs. Não falte. Seja uma boa garota...

A pressão crescente no peito de Sofy parecia quase insuportável. O tempo estava se esgotando e ela sabia que cada segundo contava.

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