Grandes Alianças

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Narrador
Lauren caminhou em passos levemente desequilibrados pela recepção do prédio onde vive, pretendendo ir até o elevador para então chegar até o seu apartamento amplo e luxuoso, situado no Coral Gables, em Miami. O que não a permitiu passar despercebida por alguns dos seguranças que ali se mantinham firmes, em seu turno da madrugada. Passavam-se das 3:30 AM e ela acabava de chegar de uma festa privada, como sempre fazia. A noite foi regada por muito álcool e a festa particular, como sempre, abarrotada por belas mulheres e até mesmo homens da alta sociedade. Não que Lauren fosse assim tão sociável com qualquer pessoa para com estes dividir o ambiente em um momento relativamente íntimo, mas era mais uma dessas festas dadas por seus amigos, onde ela fazia questão de ir para se divertir. O recepcionista havia sido embalado pelo sono e escorava-se em uma pilastra atrás do balcão, estando este em um cochilo confortante, quando foi surpreendido pelo som estridente dos saltos de Lauren ecoando no saguão do prédio. O mesmo despertou-se em segundos, agitado e frenético, como se houvesse sido pego fazendo algo de muito errado, e não deixava de ser, mas era humanamente impossível se manter acordado em um horário tão sugestivo para se ter sono. O recepcionista então saudou Lauren, dando-lhe boa noite com a voz embargada pela sonolência, e era nítido o cansaço estampado em seu rosto.

— Boa noite. — Respondeu Lauren, sem sequer olhar para o funcionário, enquanto palpava sua bolsa clutch, a fim de encontrar suas chaves, com uma certa dificuldade.

— Senhorita Jauregui? Precisa de ajuda? — Questionou-a, observando a mulher se equilibrar com dificuldades em cima de seus scarpins pretos.

— Nunca precisei. Por que precisaria justamente agora? — Respondeu-lhe, retirando as chaves da bolsa para em seguida olhar para o homem e dar-lhe um sorriso amarelo.

— Tudo bem, senhorita. Eu só quis ajudar. — Disse-lhe, desconcertado, e deu de ombros, sentando-se em sua cadeira, e escorando-se novamente na pilastra gélida que lhe servia como um rígido e desconfortável encosto de cabeça.

Narrador
Lauren então saiu em passadas largas até a porta do elevador, e apertou o botão de seu andar em seguida. Ela estava levemente embriagada, e isso não era novidade, pois ficava em estados piores às vezes, quando curtia as noites de corpo e alma. Ela forçava a mente para lembrar de alguma coisa, e não conseguia. Não é boa com datas, horários e nem com a memória, de um modo geral. Sempre se esquece das coisas, dos objetos pessoais, e até mesmo das pessoas. Apesar de ter a mente um tanto avoada, se torna uma mulher centrada e precisa, quando quer ou necessita, mas àquela altura do campeonato ela não poderia raciocinar para se lembrar do que queria, e nem achava que fosse tão importante, mas aquilo lhe veio vagamente aos pensamentos como um lembrete e, após a tentativa falha de se recordar, desistiu. Durante os poucos minutos em que se perdeu em seus próprios pensamentos confusos, a porta do elevador se abriu e ela pôde notar seu apartamento logo à frente, saindo depressa e dando um pequeno tropeção quando o bico de um de seus sapatos topou contra as linhas entre o piso e o elevador.

— Droga! — Resmungou alto demais em um horário inapropriado, e pelo silêncio ensurdecedor que ali pairava, sua voz ecoou por todo o corredor.— Merda! — Resmungou novamente, desta vez em um sussurro.— As vezes eu me esqueço que as pessoas dormem.

Narrador
Ela foi até a porta de seu apartamento e testou três das cinco chaves que tinha em um pequeno chaveiro com formato de maçã mordida, até finalmente conseguir abri-la. Entrou rapidamente e fechou a porta atrás de si, sem ao menos se certificar de tranca-la novamente, mas estava cansada demais para seguir estes protocolos. Além do mais, ela vivia em um dos condomínios mais seguros de Coral Gables e aquele prédio era realmente repleto de seguranças especializados, alarmes, câmeras e tudo que se tem direito. Imediatamente retirou os sapatos, jogando-os em um canto qualquer da sala e sentindo um alívio reconfortante em seus pés, como se pisasse em nuvens macias. Puxou o ar profundamente, respirando a essência cheirosa que inundava todo o cômodo, e sentiu a sensação de paz lhe preencher. Apesar de amar as noites badaladas de Miami, o cheiro de sua casa lhe fazia bem, e ela gostava de ter o seu tempo e o seu espaço, sem ser importunada por nada e nem por ninguém.

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