Achievement

925 72 30
                                    

Gables Condominium
Lauren Jauregui

O soar da campainha despertou-me de um sono revigorante. Me espreguicei, ainda na cama, e com o braço estendido busquei contato com o corpo que eu jamais poderia tocar novamente, por força do hábito. Seria difícil me acostumar com a ausência de Desiré, e lembrar-me dela o tempo todo só dificultava ainda mais o momento de luto, deixando a impressão de que ele seria eterno.

Após ficar sentada na beirada da cama por alguns minutos, com o pensamento dissipado em memórias aleatórias, ativei minha função automática e me levantei para ir em direção à sala. Quem quer que tenha tocado a minha campainha àquela altura já deveria ter se cansado de tanto esperar ou talvez tenha errado de endereço, pois o chamado não se repetiu.

Ao abrir a porta, sem nenhuma dificuldade, pois carregava ainda a mania de deixá-la destrancada, notei diante de mim o jornal do dia deixado sobre o tapete. Eu não tinha assinatura com nenhuma banca de jornal ou revista. Não que eu me lembrasse, pelo menos, mas caso tivesse, eu teria que estar pagando por aquilo e não era o que acontecia, pois eu lia as notícias através dos meios eletrônicos e apenas isso era o suficiente. Por algum motivo alguém havia feito questão de subir até o meu apartamento para deixar um jornal perfeitamente enrolado como se fosse um presente.

Apanhei o rolo de papel e após deixá-lo ali mesmo na sala retornei para o meu quarto, sem me interessar muito pelo que estava estampado naquelas páginas que cheiravam a tinta fresca. Mal sabia que horas eram, mas eu não tinha com o que me preocupar porque pelo menos durante alguns dias não precisaria ir para a empresa ou para algum lugar vinculado à ela.

Observando o meu celular sobre o criado mudo o peguei, pois a única coisa que gostaria naquele momento era ter notícias sobre Dinah. Eu mal via a hora de poder falar com ela novamente e assim ter a certeza de que tudo de fato havia corrido bem. E que tudo ficaria bem, sendo para mim o que mais importava. Ao pressionar minha digital para efetuar o desbloqueio me deparei com uma mensagem de meu pai, e sem saber se estava lendo errado eu esfreguei os olhos para ter certeza.

Como poderia alguém perder o passaporte pouquíssimos dias antes de se ter uma viagem extremamente importante? Aquilo não parecia-se com o meu pai, parecia-se mais comigo. Era minha a função de perder, quebrar ou estragar as coisas, não dele. Saber que um problema daquela proporção havia surgido em meio à um tormento tão grande só me fez sentir-me ainda mais desesperada. Em questão de segundos eu pensei no casamento, no quanto estava feliz há alguns dias atrás, na morte de Desiré em seguida e na burrada que fiz ao me deitar com a Lucy. E pra completar o pacote, o meu pai havia perdido o documento que seria essencial para fechar de vez o contrato com a empresa parceira da Bacardi, pois somente ele poderia levá-lo até lá.

Um pouco zonza com tantas informações, busquei o fôlego e respirando fundo tentei me acalmar, para digerir tudo o que estava acontecendo e para pensar em uma solução antes de falar com o senhor Michael, porque eu precisaria de boas desculpas para convencê-lo de que eu não seria a pessoa ideal para solucionar — em um comparativo próximo — uma tragédia desta proporção. Sabia que se ligasse para ele no exato momento em que eu estava prestes a ter um ataque, só estragaria tudo e mostraria que sou insuficiente e incapaz de tomar as rédeas de uma situação, que dirá de controlar uma empresa gigantesca.

Tirei do corpo as poucas peças de roupa que vestia e me enfiei embaixo do chuveiro para um banho frio, por mais que o clima não estivesse tão tropical naquela manhã, apenas um banho frio seria capaz de me fazer recuperar a pouca sanidade que eu ainda possuía. Enquanto a água deslizava pela minha pele eu forçava o meu cérebro a formar alguma ideia plausível para apresentar a um empresário teimoso e que com certeza já tinha uma decisão tomada, que não permitiria ser contrariado ou questionado porque sabia o que era melhor para todos e que eu deveria me encorajar mais, afinal, é isso que os adultos fazem.

FRUTA PROIBIDA Onde histórias criam vida. Descubra agora