Narrador
Em um ínterim entre Miami e Índia, a noite avançava de um lado, enquanto do outro o dia mantinha-se frenético e comumente ensolarado ao iniciar-se, o que não permitia sequer o próprio horário prematuro interferir nas altas temperaturas do país. Em meio ao contraste das cores quentes, buzinas ensurdecedoras nas principais ruas da grande Mumbai mostravam a total escassez de paciência proveniente dos nativos, que recebiam em si os primeiros raios de sol daquela manhã, tendo ainda seus nervos à flor da pele ao traçarem a sua estressante rotina. Uma corrida entre homens e mulheres que buscavam seus destinos e objetivos naquele explosivo início de semana.Os vaixás e os sudras circulavam e realizavam suas atividades por entre as ruelas estreitas que caracterizavam-se por tons coloridos demais para que apenas míseros pares de olhos pudessem contemplar. Tecidos, iguarias, temperos, comidas de rua e arte local, exalavam o cheiro da cultura de um dos países mais ricos em peculiaridades instigantes para os estrangeiros que por ali pudessem passar.
Mulheres envolvidas por lenços que cobriam seus cabelos e parte de seus rostos, mantinham os olhares atentos para os quatro cantos por onde andavam, trajando suas longas vestes que hora ou outra eram capazes de sucumbir até as pontas dos dedos de seus pés. As roupas tradicionais da localidade guardavam mistérios, segredos e histórias que não somente a pele morena em tom de bronze reluzente que estas possuíam. Elas cresceram em alerta para que andar nas ruas da Índia fosse menos perigoso para si mesmas. Sempre sob o julgamento e o controle indecente dos olhares masculinos, dividiam os curtos espaços com aqueles que a todo momento achavam-se no direito de violar suas intimidades, que fossem estas corpóreas ou até mesmo os seus próprios sentimentos. O mesmo sol que nascia para todos e comunicava o início do dia, quando vinha a se pôr tornava-se o toque de recolher para as mulheres que não se arriscavam a permanecer nas ruas da Índia durante a noite, e muito menos sozinhas.
A fumaça transcendia a sensação de um falso nublado em partes da cidade, onde as grandes indústrias tinham papel fundamental de poluir abundantemente o péssimo ar do qual os indianos são forçado a inalarem todos os dias, causando doenças e sérios problemas de saúde aos mesmos. A triste realidade entre a pobreza e poluição abrangem parte da sociedade indiana e aparentemente nada é feito para que haja uma conversão dos fatos, se não a luta incansável e quase que insignificante de alguns membros mais poderosos daquela comunidade, que se sentiam no dever ou obtinham certas vantagens ao ajudarem algumas dessas pessoas a terem um pouco mais de dignidade em seus lares. Eram poucos os empresários e as figuras importantes que auxiliavam seu povo pelo simples prazer e pela satisfação de fazer o bem, mas mesmo que em nítida raridade, eles ainda existiam.
Já em um bairro nobre da antiga Bombaim, a família Essel reunia-se para que pudessem dar início aos rituais cotidianos matinais, e para que assim pudessem juntos deliciar-sem do abundante café da manhã, composto por tofu indiano, lentilha, salsicha vegetariana, torradas com banana e pimenta e batatas assadas com alecrim, além dos típicos pães Chapati, semelhante ao pão sírio, Parathas e Puris, massinhas fritas que lembram o pastel. As frutas locais também não poderiam faltar, pois Ally não abria mão de suas refeições saudáveis para iniciar bem o seu dia e estar pronta para uma cansativa e desgastante rotina de trabalho.
— Não vejo necessidade em abdicar todo o seu tempo livre para dedicar-se inteiramente ao hospital. Você é tão jovem e já está tão cansada e desgastada. Tem trabalhado demais e isso não está te fazendo bem. — Hari conversava com Ally, sua filha mais velha, sobre a pesada rotina que ela mantinha em seu trabalho, e a jovem não discordava de seu pai, respeitando-o e compreendendo-o, mas também não concordava totalmente com ele.
— Papa, é realmente muito cansativo estar tanto tempo naquele hospital, mas eles precisam de mim. Como uma das diretoras, me torno responsável pelos bônus dos bons serviços prestados, mas principalmente pelos fracassos inevitáveis que sucedem-se ali. — Respondeu-lhe, enquanto mordiscava um delicioso bolinho imergido em um molho apimentado que muito lhe satisfazia e lhe enchia os olhos.
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FRUTA PROIBIDA
FanfictionKarla Essel é filha de um indiano milionário, dono de uma multinacional com sua sede situada em Mumbai. Cresceu sob os holofotes e na mira da mídia, por se envolver profundamente com os negócios da família e por querer dar segmento a carreira de seu...