Narrador
Após uma vida inteira de espera, literalmente, o dia do casamento de Ally com Kabir havia chegado. Tudo estava pronto e preparado para a cerimônia; para a etapa principal que haveria de suceder todos os rituais preparatórios. O dia amanheceu belo na Índia, e desde muito cedo ambas as famílias estavam despertas para as venerações e orações fervorosas aos Deuses. Hari e Sinuhé estavam radiantes, mas ao mesmo tempo, estavam melancólicos, pois entregariam sua filha ao futuro marido. Dali em diante, Ally não mais viveria em sua casa, com seus pais, e sim na casa de seu esposo, com seus sogros e seu cunhado. A partir daquele momento ela seria responsabilidade de Kabir, tal como sua felicidade, seu bem estar e sua prosperidade, ainda que ela não precisasse disso. Tradicionalmente, na Índia, o marido tem esse papel, embora a esposa seja o principal pilar da família, em termos de sabedoria, respeito, cuidado e zelo para com a casa e com os membros.
A noiva estava sendo vestida em seu quarto, com o auxílio de sua mãe, de algumas mulheres da família e de sua estilista. A maquiagem já havia sido feita, tal como seu penteado. A rena, com grandiosidade de detalhes, que haviam sido desenhados nos rituais do dia anterior, escondia em uma parte de sua pele o nome de Kabir, que deveria ser encontrado por ele na noite de núpcias. A médica, emocionada, sentiu falta da presença de Karla durante aquele momento tão especial. Ela havia permanecido recolhida em seu quarto desde a noite passada e, no mesmo lugar, naquela manhã, tomou o seu desjejum, banhou-se e estava sendo arrumada com a ajuda de outras auxiliares. Estava tão bela quanto sempre era em todos os dias e ocasiões, mas seu olhar estava triste, e em sua face o descontentamento era completamente visível. Após estar pronta, a mais velha pediu licença a todas aquelas que lhe rodeavam e moveu-se para fora de seu quarto, dirigindo-se então para o quarto de sua irmã, que estava de portas fechadas. Com batidas leves e receosas, Ally sinalizou que gostaria de entrar, através de seu chamado com a voz baixa, enquanto aguardava para ser recebida. Após um breve momento, a porta se abriu e as auxiliares deixaram o recinto, informando à ela que Karla lhe aguardava no interior do cômodo.
Ao entrar, a mulher sentiu pairar no quarto o delicioso e inconfundível cheiro do perfume. A jovem estava sentada diante de sua penteadeira, olhando-se no espelho e finalizando os últimos detalhes na colocação de algumas jóias. Parecia um anjo. O sári lilás com detalhes dourados realçou sua pele, assim como o véu sobre seus cabelos, exatamente da mesma cor, com desenhos que complementavam-se com as vestes. Os cabelos estavam soltos, e aquilo era algo raro, levando em conta que preferia utilizar coque em diversas ocasiões, embora não fosse possível ver as madeixas tão nitidamente porque elas estavam sob o tecido. Vagarosamente, enquanto observava-a, Ally aproximou-se dela, posicionando-se atrás de seu corpo. Ela permaneceu sentada, e olhou para a irmã através do reflexo no espelho.
— Você está tão linda, didi. — Com os olhos marejados e a voz embargada, a mais velha disse-lhe, enquanto acariciava-lhe os ombros. — Senti muito a sua falta durante a troca de roupas. Ouvir de mamadi que preferiu vestir-se aqui, longe de mim, angustiou-me profundamente.
— Este é o seu momento, Ally. — Cabisbaixa, limitou-se a curta resposta.
A médica então agachou-se ao seu lado, e com a ponta dos dedos, ergueu seu queixo para que ela a olhasse.
— Estou aqui para te pedir perdão, minha irmã. — Segurou suas mãos com carinho. — Eu me excedi porque estava nervosa, e porque me entristeci com a forma como agiu. Sempre fomos tão ligadas e sempre soubemos de tudo uma da outra. Pensar que você me escondia o que quer que fosse, fez parecer que você não confia em mim.
— Não se trata de esconder algo de você, e sim de ter o mínimo de privacidade no que diz respeito à mim, de forma íntima.
— Eu não quero que pense que meu intuito é invadir a sua privacidade, mas você sempre compartilhou tudo comigo. Tem acontecido algo ruim com você? Esta é a minha maior preocupação.
VOCÊ ESTÁ LENDO
FRUTA PROIBIDA
FanfictionKarla Essel é filha de um indiano milionário, dono de uma multinacional com sua sede situada em Mumbai. Cresceu sob os holofotes e na mira da mídia, por se envolver profundamente com os negócios da família e por querer dar segmento a carreira de seu...