Bolinha de Lã - Livro Interativo

Veracidades

Não seria a primeira vez que tentei interromper Kelly, mas posso dizer que desta vez, senti tanto nervosismo quanto fico apertada pra cagar, mas ainda estou na escola e ainda falta uma hora pra acabar a aula. Isso é o nervosismo eterno, que passa na cabeça e pensa “acho que vou cagar nas calças”, sério, você como diário nunca vai entender meu sofrimento.
Enfim, interromper Kelly foi como se levantar pra fazer um discurso de discordância:

— Kelly, é desnecessário roubar o diário da professora e ficar achando que a gente vai ouvir os segredos mais íntimos de uma mulher de trinta e poucos anos. Pelo amor de Matusalém, ninguém aqui quer ver seus segredos expostos apenas por curiosidade de uma simples mudança de uma professora. Façam-me o favor, quando essa invasão de privacidade acabar me chamem, licença.

E foi com estas palavras que eu te peguei e peguei minha mochila e sair da sala, sem olhar pra Kelly, eu sabia que ela me olharia com um olhar de “essa vaca me deixou levar a culpa sozinha sendo que ela estava comigo”
Mas falando a verdade? Kelly não se importava, eu pelo menos fiz o que você sugeriu, ou mandou... Enfim, você estava correto em interromper, não seria decente, seria o oposto disso.
Até porque, depois disso, alguns alunos saíram da sala sem ficar ouvindo o que Kelly tinha a falar, o que significa que meu plano deu certo, talvez não tenha sido tão ruim, ao menos Maicon estava comigo no refeitório.

— Te admirei muito ao você ser tão direta com Kelly
— Pelo menos você né, eu que vou ter que suportar o dragão que vai sair de dentro da sala pronto pra meter fogo em minha pessoa.
— Se ela te fizer alguma coisa, eu vou falar pra professora quem foi que entrou na casa dela e roubou o diário dela.
— Calma. Kelly não mencionou nada de ter ido à casa da professora, como você sabe?
— Eu vi vocês duas saindo de lá com esse caderno. Por coincidência, eu não fui à escola ontem e presenciei duas garotas pulando de uma casa, um tanto estranho, eu diria.
— Você não pode falar nada, as coisas já não estão muito boas, e já estou me arrependendo de ter aceitado isso.
Foi mal diário, foi o impulso, foi uma decisão sábia, as coisas não acontecem por acaso, ou acontecem?
— Eu não falo que vi você, falo que a vi.
— Mas ela negaria, inteligência rara.
Calma, eu não acredito que falei isso, há minutos atrás ela era a minha melhor amiga, e agora estou pensando nela sendo disciplinada sozinha por uma coisa que ajudei a fazer. Que droga, cara.
— Não com uma prova em vídeo.
— Mas teria eu no vídeo, e de onde viria o vídeo?
— É muito fácil manipular imagens, Kelly já pulou de vários lugares e com câmeras filmando, é muito fácil cortar a imagem dela e colocar num vídeo só da casa da professora. Windows movie maker de 2005 faz isso muito bem.
Estou ciente de que posso ferrar a Kelly se quiser, e ademais, eu posso fazer isso sem me ferrar totalmente. Seria tentador fazer uma coisa dessas, mas não seria certo. Kelly era errada pra caramba, mas eu também a ajudei, isso seria um erro atrás de um erro, e o que mais me assusta nisso, é que é o Maicon que está me dizendo isso, ele gosta tanto de mim ao ponto de quebrar as regrinhas de ser o “certinho”.
— Maicon, eu...
E foi quando Kevin chegou do nada, e eu perdi o foco.
— Ei, eai? Eu estava te procurando por todos os lugares, nossa, aquilo que você fez na sala, foi incrível. Sem palavras para descrever o quanto você foi sensata e coerente. Bem, eu estava te procurando, porque você não veio ontem pra escola, e ontem eu convidei alguns para ir a minha festa, e como você veio hoje e eu também, por incrível que pareça. Eu quero que você vá, vai ser sexta-feira à noite, eu gostaria muito que você fosse, está é a ultima semana que vou ficar na cidade e a festa vai ser como uma despedida e eu gostaria muito que todos estivessem lá. Então, te vejo lá?

Claro que a resposta foi exatamente sim, não havia nada de errado em ir a uma festa na sexta-feira, e eu poderia resolver as coisas sem me incomodar em relacionar com a festa, exceto por Maicon, ele não me pareceu confortável quando Kevin me convidou, não desconfortável do tipo ciúmes, mas desconfortável do tipo, “ele tá convidando ela na minha frente e nem faz questão de me convidar”.
É querido diário, bem vindo ao mundo daqueles que não são convidados a uma festa, aqueles que são invisíveis aos olhos dos senhores bonitinhos, se bem que eu também não faço parte, apenas estou dando sorte, ou é o que eu acho. Talvez eu não devesse ir, Maicon é legal demais pra eu deixar Kevin o fazer se sentir constrangido. Isso, eu não vou mais...
Mía acabou de passar e me deu um sorrisinho besta. Ah, você deve estar se perguntando, quem é Mía?
Mía Kelper, a minha amiga de sorrisos trocados quando nossos olhares se cruzam.
Ela faz parte do grupinho de meninas perfeitinhas, como eu chamo? Patricinhas

Nome: Mía Kelper
Idade: 17 anos
Profissão: Senhorita harmonia, mais conhecida como vocalista da banda da escola.
Hobbies: Cantar e fazer amizades (sim, ela sempre fazia amigos novos). 
Coisas que odeia: competividade e desorganização

Mesmo que eu não conversasse muito com Mía, eu e ela já tínhamos sido bem próximas, ela era a minha amiga da cola, me dava colas nas provas, e eu dava colas a ela. Éramos uma dupla bem dinâmica, mas isso foi antes de Kelly chegar. Não foi uma separação, a amizade não acabou apenas nos distanciamos à medida que Mía foi se aproximando da banda da escola e eu da Kelly, só perdemos o contato e ficou estranho, mas ainda sorrimos uma pra outra nos corredores e quando cruzamos os olhares, acho que todo mundo já teve um amigo assim.
E também ela é a melhor amiga da menina que me odeia, quer saber quem? Sarah Quintell?
ERRADO. Era Megan Albuquerque. Mas não faz muito sentido falar delas com você, até porque ficaremos bem longe delas. Por isso, só vou dar uma revisãozinha.

Nome: Megan Albuquerque
Idade: 17 anos
Profissão: Miss da Beleza
Hobbies: Cuidar dos cachos perfeitos do Black Power e cantar bem pra cacete (ela cantava junto com a Mía, as duas são Best friends).
Coisas que odeia: Eu e aranhas.

E só isso que merece saber mesmo, ela me odeia, sabe lá o porquê, não vamos perder tempo com isso.

Quando o intervalo acabou, eu voltei para a sala de aula, as coisas pareciam bem perturbadas, os alunos que ouviram o que Kelly tinha a dizer pareciam bem risonhos, parece que os babacas adoraram o showzinho, e foi quando eu sentei na carteira e escrevi o relato da Mía, que eu vi a Kelly a minha frente.

— Parece que alguém contou sobre eu expor a vida intima da professora, e nós duas sabemos que foi culpa sua, se tivesse me apoiado, não teria deixado vários alunos com pensamentos moralistas. E Eu pensei que você fosse minha melhor amiga.
— Mas eu sou amiga, posso...
— Se quer provar alguma coisa, me encontra na diretoria, mas saiba que não faço questão de querer você lá.

Caramba, eu não achei que fosse acabar neste ponto.
Talvez se eu for atrás de Kelly, e ajudar ela a se livrar dessa encrenca, até porque foi minha culpa, o que eu estava pensando ao ajudar ela a roubar o livro? E a interromper ela? Talvez se eu tivesse ido falar com ela não teria estragado isso, mas eu posso consertar a amizade.
E seu eu não fosse? O que poderia acontecer?
Minha amizade teria fim, e mais o que?

ENCONTRAR KELLY E EXPLICAR – SIGA O CAPITULO RÉPLICAS

FICAR QUIETA E ESPERAR. - SIGA O CAPITULO OPORTUNIDADE