Insídia

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13 de janeiro de 2006, Sexta Feira.

Rescrevi cada palavra que eu havia escrito, letra por letra, vírgula por vírgula. Sem qualquer erro de escrita.
Até chegar ao dia 13, ao qual, escrevi que levei você comigo.
E foi neste momento que eu me via novamente na frente da casa de Maicon, com o mesmo vestido e agora com uma bolsa pesada que com certeza você permanecesse dentro dela.
Agora estava seguro.

O encontro foi como o anterior, mas eu já sabia tudo o que Maicon iria dizer a mesma forma que ele faria as piadas, a mãe dele entrando e saindo do pátio ao qual nós ficamos. Eu sabia de tudo.
Foi como um dejavú eterno, eu estava lá apenas sorrindo e falando coisas como se fosse à primeira vez, até Maicon dizer que encontrou o diário da professora, resolvi mudar as coisas.
— Eu achei no mesmo dia em que nos encontramos, mas resolvi não entregar a você, você parecia um pouco mal por Kelly, mesmo que já tenha superado, amizades demoram a esquecer.
— E o que descobriu no diário?
A primeira mudança de fala, na primeira vez, eu elogiei o modo fofo que ele pensava, mesmo não achando mais fofo.
— Bem, a professora escreve coisas bem estranhas, e meio que deixa tudo bem abstrato no final, como se não soubesse tomar atitudes.
Eu já ouvi isso, eu tinha que estimular ele a me falar algo novo.
— Pode me mostrar?
Ele balançou a cabeça, sinal de coisa nova.
— Ah qual é? Nosso encontro, o momento é nosso, eu não deveria nem falar sobre isso, desculpa. Vamos mudar de assunto, você sabia que eu ganhei...
— Um disco original dos Beatles? Sim, eu sei. E que sua mãe comprou ele em promoção na internet? Sim, eu também sabia. E que você ouve as músicas pensando em mim, e com isso fez um remix no seu computador de última geração, que agora aceita cd e não disquete? Conte-me algo novo, algo que você não me contaria.
Ele ficou perplexo, eu não devia ter feito isso, mas eu já estava irritada demais ao ver tudo se repetindo como um     DVD velho.
— Você hackeou o meu facebook?
Isso foi diferente.
— Não, você que me contou tudo isso, mas eu voltei no passado e tudo se repetiu. Agora preciso que me conte sobre o que realmente descobriu no diário da professora.
— Bolinha de lã.
— Bolinha de que? O que isso tem haver?
É... Talvez não seja só eu que tenha ficado louca.
— É uma teoria que li há muito tempo atrás, uma menina me mostrou. Vem comigo.
Ele correu para dentro da casa, fui atrás dele, algo estava errado, eu sentia que Maicon sabia de coisas que não era pra ele saber. Entrei no quarto dele, era uma verdadeira central da NASA, nunca tinha visto tanta coisa estranha com coisas de Nerd, como vi no quarto dele.
— Aqui, achei.
Jogou-me um caderno cheio de anotações esquisitas.
— O que isso?
Ele veio até mim, olhando para os dois lados. O que ele estava aprontando?
— Bolinha de lã é uma teoria do tempo e universos entrelaçados. Eu ganhei este caderno quando era criança por uma garota mais velha que eu, e ela me disse que deveria dar esse caderno a menina da foto na primeira página. Eu sei que parece loucura, mas...
Abri a primeira pagina, e lá estava eu, minha foto de quando eu estava sentada na carteira. Mas a foto estava mais velha do que devia, parecia de anos. Sendo que a imagem da foto era atual.
— Você esta zoando com minha cara?
— Eu sei que é loucura, mas a garota me disse que eu deveria me aproximar dessa garota, e entregar a ela, assim que ela me dissesse algo sobre viagem no tempo.
— Como ela se parecia?
— Eu não me lembro.
Eu tive a imensa vontade de jogar um canhão de explosivos na cabeça de Maicon, ou uns socos bem dados na cara dele, mas resolvi ir embora.
— Ei, aonde você vai?
Eu já estava perto da porta pra sair da casa, quando ele me segurou.
— Você não pode sair daqui.
Puxei meu braço que ele segurava.
— Claro que posso.
Ele me segurou novamente, desta vez mais forte.
— Não até me dá o que aquela garota me disse que você ia me dar.
Encarei Maicon, ele falava sério. E me segurava forte, eu podia gritar.
— Eu não tenho nada pra te dar. E se você não me soltar, eu vou gritar. Sua mãe vai vir e...
Ele me mostrou um canivete, em que o gume estava bem afiado.
— Tente gritar pra você ver o que vai acontecer...
Por que sempre coisas assim aconteciam comigo?
— Então você sempre fingiu? Você nunca gostou de mim?
— Nunca. Eu só te ajudava, porque eu precisava. A garota disse que você tinha que vir por livre vontade, e que você deveria tomar toda a iniciativa, e eu não deveria mencionar nada, a não ser que você falasse sobre a viagem no tempo, sobre o passado e coisas do tipo.
— Você é um doente, eu não tenho nada pra te dar.
— Claro que tem. Está na sua bolsa.
Droga, ele queria você.
— Meu diário? Você já tem o da professora.
— Exatamente, eu quero os dois diários. Vamos, não tenho mais tempo.
CLARO.
Eu não ia arriscar minha vida pra te defender, até porque, uma garota morta não pode defender ninguém. O melhor seria te roubar depois.
Sai daquela casa, apenas com o caderninho em que ele me deu.
E depois da página da minha foto, havia apenas uma folha com algo escrito.

Bolinha de Lã - Livro InterativoOnde histórias criam vida. Descubra agora