Mundo das Bizarrices

Capítulo 3 - Vila dos Pombos

Ane e Shad saíram de Infame Brigadiça e enfrentaram as primeiras horas de sua jornada. Passavam pelo fim da floresta morta, onde as árvores secas de cor roxa contrastavam com a grama azulada em decorrência do luar. Ane reparou no brilho prata da bola gigante que tomava o céu. Ouviu alguns uivos que achou serem de lobos, mas ao olhar para Shad, que respondeu com uma expressão sugestiva, ela teve a certeza de que eram de lobisomens.

Até então, seguiam o caminho em plena paz e tranquilidade. Shad se guiava pelas placas para passar por aquela região de muros de trepadeiras. Mais à frente, Ane observou que além de uma grade de madeira, havia um bonito jardim. Reparou na fonte, nos bancos em meio às árvores secas, pequenos arbustos ao redor, e fantasmas que vez ou outra denunciavam sua posição, cintilando flashs de luz verde ao andarem. Shad parecia temeroso, Ane notou. O que era estranho, pois ele sempre esteve calmo.

"OLÁAA!", eles ouviram uma voz rouca dizer.

O coração de Ane pulou para a garganta com o susto. Ao se recompor, a garota olhou adiante e notou quem havia bloqueado o caminho antes que chegassem ao jardim.

Um Lobisomem.

Mas não um lobisomem qualquer, este usava terno e chapéu de mafioso.

— Quando vai pagar o que nos deve, Shad?! O chefe não está nada satisfeito com seu atraso...

Ane achou que já tinha visto muita loucura por um dia, mas não deixou de notar o semblante nervoso de Shad diante do lobisomem agiota.

— Seu traidor! Como ousa me cobrar? Se vendeu para esses seres adoráveis... Diga ao chefe da gangue dos patos de borracha que eu não farei nada! — Shad se enfureceu.

— Tem certeza que vai comprar briga conosco, vampirinho? — provocou o lobisomem debochado. — Você sabe que nunca ganhou de mim em uma briga.

Shad apenas o ignorou, seguiu adiante pela escada e Aneline com ele.

Para a felicidade dela, finalmente haviam chegado ao final da floresta quando raiava o dia. O céu foi tomado totalmente por um tom de rosa, e ela pôde aspirar ar puro finalmente. Shad aproveitou para colocar sua boina, pois a fraca luz já havia quase o cegado assim que saiu da densa floresta. Aproveitou também para passar protetor solar de fator altíssimo no corpo. Ane o aguardava, olhando da região alta uma cidade adiante. Ou melhor, um vilarejo.

Assim que Shad terminou, ele voltou a enrolar seu cachecol em volta do pescoço, então começaram a descer a colina. Ele aproveitou para tomar um pouco de Sanguynho de caixinha.

Chegando ao vilarejo, Ane notou uma grande fonte à direita com a escultura de um golfinho. Em sua frente, uma longa avenida de pedras brutas e, à esquerda, várias pequenas casas de telhado cinza tumultuadas.

— Que lugarzinho é esse... — Ane ponderava até que ouviu um barulho, e sentiu uma lufada de vento agitar seu cabelo. Virou-se para a fonte ao lado e tomou um grande susto ao se deparar com grandes olhos laranja a poucos centímetros de seu rosto. Ela caiu de bunda, arrastando-se para trás, apavorada.

— Se acalme. Eles são pacíficos — pediu o vampiro.

Ane vislumbrou o pombo gigante que havia chegado para beber água da fonte. Pendurado nele, uma mochila de couro. Seu coração palpitava forte, e ela ainda não acreditava no que via. Engoliu em seco, refugiando-se no olhar de Shad, que mantinha o semblante sereno ao tomar seu sangue de canudinho.

— Você ia perguntar que lugar é esse, não é? Vila dos Pombos! Essas aves vêm e vão. Costumam parar aqui entre suas viagens de levar mensagens pelo mundo. São bem-educadas. Apenas bebem água da fonte e vão embora.