Capítulo 23 - Portal arco-íris

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Shad e Ane passavam por um pântano adocicado. Um vale que antecedia o litoral noroeste da ilha, para onde deveriam ir. Andavam sigilosos entre as árvores de bala de menta. Concentraram-se tanto no que poderia vir pelos lados ou pelas costas que não se deram conta do sorvete movediço. Quanto mais se mexiam para tentar sair, mais afundavam. Shad se transformou em morcego para escapar, depois voltou a ser vampiro e estendeu a mão para ajudá-la a sair.

A garota já não aguentava tanto doce. Ficou revoltada por estar suja e grudenta novamente. Quis chorar, mas os músculos de sua face estavam rígidos devido ao frio.

"Parados aí!", eles ouviram alguém.

Olharam de um lado para o outro e não avistaram ninguém. Shad tentava puxar a garota para fora do lamaçal de sorvete o quanto antes.

— Eu disse: parados aí!

Eles avistaram o ser que emitia a ordenança. Era uma jujuba falante. De cor verde, tinha braços e pernas finas e açucaradas. Ostentava um sorriso maroto no rosto. Braceletes esportivos nos punhos e uma faixa na testa.

Ane e Shad não entenderam nada da situação. Apenas observaram o ser de trinta centímetros com aquele ar convencido. O jujuba parecia constrangido com a situação, esperava por algo. Ele pigarreou, então mais uma jujuba surgiu ao cair da árvore.

— Carola! Não acredito que você estragou nossa entrada triunfal! — O verde ficou furioso.

— Desculpa, Brendolim. Eu escorreguei. — A de cor amarela levou a mão à cabeça com dores. Logo tratou de se recompor e recolher seus granulados de açúcar do chão.

— Sempre atrapalhada! — Uma jujuba vermelha saiu de trás da árvore de hortelã. Ela usava óculos escuros descolados e chegou desfilando. Seu nome era Franchesca. — Quem são esses daí? — Ela encarou Shad e Ane de alto a baixo com desdém.

— Por favor, me digam que eles serão transformados em doce! Por favor, por favor! — Uma jujuba laranja chegou ao local. Ela pulava radiante, alegre com os novos reféns da Gangue das Jujubas. Seu nome era Estefânia, a mais alegre.

— Calma, Estef. A hora deles irá chegar! — A última jujuba chegou ao local. Tinha um cachecol enrolado no pescoço e ostentava um sorriso sádico. Era muito segura de si. Seu nome era Tamira.

Aneline estava agarrada com Shad. Não porque queria o abraçar, mas sim porque ele havia tirado ela da lama e ainda não haviam percebido que estavam tão próximos desde que as jujubas chamaram sua atenção. Assim que notou, a garota ficou constrangida e se afastou. Tentou mudar de assunto antes que ficasse vermelha.

— Como falam nossa língua? — Ane perguntou às jujubas, com cara de raivosa.

— Nunca subestime o poder da Gangue das Jujubas. — Brendolim, o verde, foi firme. — Adoráveis são bobos e facilmente dominados. Nós, por outro lado, somos donos de nós mesmos. Fazemos nossas próprias regras no Mundo das Bizarrices. E quando destronarmos a Princesa de Corações Floridos, tomaremos conta de toda a Ilha!

— Vocês sabem que a Princesa já dominou o Mundo, não é? — Aneline tomou a frente e tentou falar racionalmente com as jujubas. Shad permaneceu calmo, de braços cruzados. Confiava na garota. — Ela possui a Espada de Morango e monta em um unicórnio. Ela é muito mais forte que qualquer um de vocês. Como pretendem detê-la?

— Quem essa daí pensa que é?! — Franchesca, a vermelha, desceu de seu salto e já partia para a luta, mas desistiu. Não iria se rebaixar ao nível da ralé. Tamira, a roxa, se lamentou, pois queria ver a porradaria.

— A verdade é que ainda não temos um plano — disse a amarela, a mais pequena.

— CALA A BOCA, CAROLA! — todos gritaram em uníssono. Ela sentou no chão e fez cara de emburrada, quase chorando.

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