Capítulo 22 - Rave dos Adoráveis

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Eles desciam aquele barranco escorregadio. O sorvete estava congelado por ali. Eles temiam uma avalanche, por isso desciam com cuidado. Shad deu a mão para Aneline, e Eucrânio colocou Cogumelo Guri entre os ossos de suas costelas.

A garota, que já tinha o sapato desgastado, patinou um pouco e acabou escorregando. Ela deu umas três capotadas desfiladeiro abaixo e caiu de cara no pavê.

— Ane, você está bem?! — gritaram lá de cima.

— Urrrrrrr!!! — Ane surtou de maneira inédita. Estava mesmo nervosa. Afinal quem não ficaria com o cabelo todo melecado por chocolate.

Seus amigos desceram o barranco e a ajudaram a se levantar do pavê pastoso. De mau humor, ela usou a Hidromarreta para gerar um redemoinho fraco, no qual ela entrou para se livrar de todo aquele grude.

Aneline sempre foi muito inteligente, mas neste momento deixou a impaciência falar mais alto. Ela estava molhada em uma terra gelada, poderia morrer congelada em poucos minutos. O recomendado por sobrevivencialistas seria tirar as roupas, mas não poderia fazer isso na frente dos meninos.

Morrer ou manter a dignidade; estava difícil decidir.

Havia um vulcão ali perto, ao encalço da Montanha Bolo, onde ela poderia se aquecer. Dali jorrava calda de caramelo sem cessar. Eles não tinham tempo, no entanto. O que valeria mais a pena afinal, salvar o universo ou a garota?

Shad deu uma olhada afiada para Eucrânio — Não poderia julgá-lo, o esqueleto estava apenas preocupado com a missão. Mas o vampiro havia ido até o inferno por aquela garota, e não iria deixá-la congelar. Eles deixaram a festa dos doces por um instante, mesmo que estivesse tocando La Bouche, e eles quisessem muito dançar na pista de dança. Shad abraçou Ane, de modo a aquecê-la, então seguiram por um desvio, deixando para trás o som alto e o gelo seco por um instante.

Foram pela estrada entre as árvores de açúcar cristalizado, circundando a montanha. A garota tremia de frio. Shad não tinha muito calor corporal a oferecer. Eucrânio acabou se condoendo pela situação e lhe forneceu sua capa de mago. Isso a manteria quentinha até que secasse suas roupas.

Eles percorreram a estrada que os conduziram a uma ponte de waffle que levava para dentro do Vulcão Caramelo. Ane reparou que o caramelo que formava o cone vulcânico tinha a cor mais escura, já ressecado pelo calor; e por cima jorrava mais calda que escorria no seu tom café com leite e se solidificava ao longo da descida.

Tudo parecia uma delícia, mas muito perigoso.

O interior era bem aconchegante para a surpresa dela. A calda de caramelo borbulhava em uma cratera cercada por churros, que funcionavam como uma barricada. A temperatura era elevada, mas eles poderiam permanecer ali por alguns minutos sem grandes riscos, desde que ficassem sobre o chão firme e não se aproximassem demais do lago. A garota tirou aquele manto de mago e começou a sentir a fonte termal aquecer sua túnica roxa de elfo. Sentou-se sobre um biscoito recheado, cruzando os dedos para que ele não ganhasse vida e a atacasse.

Enquanto ela se secava, o vampiro se aproximou. Eucrânio ficou de olho no Cogumelo Guri, para que não acabasse caindo na calda quente do vulcão.

— Então você era o guia de Mundo das Bizarrices? Conduzia os humanos e apresentava a este mundo? — perguntou a garota. Fazia referência ao que ouviu do pato mafioso na fortaleza da banheira. Shad sentou ao lado dela no biscoito recheado.

— Eu nunca guiei ninguém — confessou. — Desde que eu fui instituído como guia pela velha mocoronga, nenhum humano leu o livro. Eu estive dormindo durante todo este tempo. Por isso ainda sou uma criança de treze anos.

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