Capítulo 19 - Elfos da Desordem

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A Grande Banheira estava carregada por uma neblina de leite Ninho, destacando-se o clima melancólico. Eucrânio repousava sobre uma tábua flutuante, um pedaço da Fortaleza de Sucata que foi destruída. Cogumelo Guri permaneceu dentro de um balde que foi amarrado à tábua; e Shad, dentro da água, apoiado na mesma tábua. Mesmo quase totalmente submerso, o sol causava queimaduras na pele sensível do vampiro. Ele desejava muito não ter perdido suas roupas juntamente com a fortaleza destruída.

Cada vez mais, a tábua à deriva se aproximava da tão temida Ilha da Alegria. Eucrânio sentia-se determinado a seguir com a missão de ir em busca da Espada de Morango, a arma da Princesa de Corações Floridos, a antiga varinha-purpurina em uma forma superior. A preocupação de Shad, no entanto, era outra.

— Se ter um coração significa sofrer assim, talvez eu não queira ter um! — O vampiro expressou suas lamúrias. Lembrava-se das coisas boas que vivenciou com Aneline. Ele sentia que poderia melhorar. — Amigos podem até se machucar, mas evoluem, aprendem juntos. — Ele estava decidido a não desistir da garota.

— Você ouviu muito bem. Ela disse que não queria saber de você e sumiu de repente — respondeu o esqueleto, que tentava proteger Shad dos raios solares, cobrindo-o com seu manto de mago. — Ela já deve ter ido para o portal... — Eucrânio olhou para o grande arco-íris que já podia ser visto do outro lado da ilha feita de sorvete. A névoa ficava para trás.

— E se Aneline não fugiu? E se ela foi engolida pelo Boto Rosa? — indagou o vampiro.

— Um boto na banheira, Shad?! Você sabe que não existem Emulacros[1] na banheira!

— Dizem que um boto ficou represado aqui quando os adoráveis construíram a banheira. Um ser rosa gigante com olhos repletos de energia escura. Ele engole tudo o que boia na superfície. Dizem que até uma tribo de elfos vivem dentro dele.

— Ora, não diga besteira, Shad...

"La ra ra ri la ra la ra", uma voz foi ouvida por eles. Cantarolava de maneira doce.

— É ela! É a Corações Floridos... Precisamos ir atrás dela! — reafirmou o esqueleto. Shad estava com o semblante congelado diante dele.

— Eu vou atrás de uma princesa, mas não dessa princesa má, feita de chiclete. Minha princesa tem pele marrom, cabelos crespos e usa um escudo de coração — Shad se afastou da tábua, e começou a boiar deitado na água, fazendo drama.

Ficou em formato de estrela, com as pernas e braços abertos. Sua pele começava a criar manchas vermelhas devido ao sol, então o vampiro afundou pouco a pouco.

— Aff... — O esqueleto reclamava. — Não acredito que Shad vai me obrigar a fazer isso.

Eucrânio vestiu seu manto, e pegou seu cajado. Criou uma bolha em volta de seu crânio e em volta da cabeça do Cogumelo Guri. O pegou no colo, e antes de pular, deu uma última olhada na Ilha da Alegria. Ele conseguia ouvir um som de festa. Sabia que seus inimigos estavam próximos de conquistar o Mundo das Bizarrices, mas não poderia deixar seu amigo para trás. Ele suspirou e então pulou na água da banheira, afundando pouco a pouco até ser engolido por algo grande e de cor rosada.

***

Dentro do boto, Aneline estava sendo arrastada por uma corda. Os elfos a levavam pelo percurso.

Pela primeira vez, a garota se sentia uma guerreira de verdade. Por mais que tivesse sido capturada, sentia que tinha amadurecido. Estava lascada, mas lascada por conta própria em uma aventura particular. Não dependia de Shad, não dependia de ninguém. Infelizmente não podia contar com a ajuda do querido Besouro KPopper, que descanse em paz. Apesar disso, ela mesma colocaria a situação sob controle...

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