Capítulo 44

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  Eu teria que lidar com isso de qualquer forma. Sentia que estava fazendo uma leve tempestade em um copo de cachaça. Então como eu não bebia,  apenas ignorei. Respirei fundo, coloquei a mochila nas costas e me aproximei de casa. Eu evitei Pedro a manhã toda na escola, não frequentei as mesmas aulas e sequer comi com ele no refeitório já que o mesmo seguia muito bem com seu grupinho. Na verdade eu iria me sentar com ele, já havia respirado fundo e me preparado psicologicamente para isso. Mas não consegui. Ele estava animado demais com a turminha dele e Sarah estava lá, ao lado dele e aquilo me subiu algo no qual eu não consegui explicar. Peguei meu lanche e me sentei ao lado de fora. Foi horrível. As pessoas por algum motivo de olharam e cochichavam. Sabia que elas pensavam o motivo de eu estar sozinha e meu suposto  namorado seguia com seu grupo. Na verdade isso sempre aconteceu, porque me sentia encomodo agora?

   A porta foi aberta por mim sem muito ânimo olhando para todos os lados. Ele não estava por ali, mas eu sabia que havia chegado pois seu carro estava ocupando a garagem de minha mãe. Fui direto a cozinha para fazer algo, iria comer qualquer coisa e ir pro quarto, mas tarde faria uma janta para minha mãe e assim como já havia falado com meu pai, ele iria levar a minha mãe. O meu peso na consciência estava enorme.

   Assim que abri a geladeira havia uma tigela transparente e  o meu sorriso não podia ser maior. Ela estava intocada. O meu padrinho havia feito para mim. Eu não podia deixar de sorrir. Puxei a tigela e logo peguei uma colher, abrindo a mesma e enfiando um pouco do doce em minha boca. Ah eu amava.  Isso só fazia com que eu me sentisse péssima por ter faltado ao jantar

—  Solara.

   Meu rosto seguiu rapidamente a Pedro, que estava a batente da porta me olhando. Seus braços estavam cruzados e eu sentia que ele não estava ali a pouco tempo.  E como esperado, o meu modo automático foi desativado. Inclusive o meu coração que batia de forma descompensada.

— Hey... - me ajeito colocando o cabelo atrás da orelha, claramente desconfortável -... Tudo bem?

— Sim, e com você?

   Iria levar mais um pouco de doce a boca mas travei. Eu nunca tive que me preocupar em responder para Pedro se estava tudo bem, já que era algo no qual ele nunca perguntou de volta.

— Você não vai me dizer exatamente o que sente, então eu uso uma palavra retórica para ver se assim você me explica o motivo de estar me evitando.

  Sua explicação foi em um leve e desagradável tom de deboche. Mas eu sequer sabia o que responder a ambas questões. Eu não queria sair dali.

— O meu nível de discernimento é grande, confesso. - ele se aproxima - E eu sei o motivo, mas queria que você me explicasse.

— Você quer me ver explicar algo pra que? Rir? - balanço a cabeça ficando a sua frente- Não tem nada pra explicar porque nada aconteceu. E eu não estou te evitando. Jogou futebol hoje? Deve ter levado uns baques na cabeça.

   Sorrio tentando mostrar um pouco de indiferença, mas sentia que não serviu de nada. Tampei o doce colocando a geladeira, e quando iria sair do lugar,  ele fica mais uma vez a minha frente.

— Não? - ele ergue as sombrancelhas

— Não. Coisas feitas sem intenção são esquecidas por mim. - digo simples quase tremendo - Não é atoa em que eu insisto de que sua grosserias e maldades são sem intenção e esqueço.

— Se esquecesse não as citaria agora. - diz óbvio, mas logo respira fundo encarando meus olhos  - Eu não queria agir como se não me importasse com você Solara.

— Sobre qual momento você está falando Pedro? Já  que você sempre faz isso, esse é o problema. Você não se importa.

— Eu me importo e é por esse motivo que eu sempre achei melhor te manter longe, pra não te magoar.

— Tá querendo dizer que me manter longe é uma forma de não me magoar? Pedro, não me magoar é uma decisão que você toma antes de fazer tal ato. Longe ou perto.

— É por esse motivo que eu não quero me aproximar. Aproximação levam a exigências e...

— É exigir demais respeito de alguém? - questiono rápido. - Você sequer se esforça Pedro. Você sequer se esforça para fazer com que algo dê certo, ao menos uma amizade. Na verdade você deixou claro que não quer.

— Eu estava tentando melhorar Solara, mas você não pode esperar que eu mude de uma hora pra outra. Não se exige de alguém mais do que ela pode dar.

  Respiro fundo engolindo em seco, balançando a cabeça. Eu sequer sabia o motivo de eu ainda estar ali, mas eu não iria fugir.

— Você está certo. - encaro o mesmo - Mas enquanto você cobra de mim, mais do que eu posso te dar?

— Você é patética.

— Sou patética pra você todo o tempo em que digo algo sincero. Você não gosta de ouvir ?

— Sabe a quanto tempo...- ele se aproxima rápido -... Eu devolvi o seu diário?

   Não consegui tirar a rigidez de meu rosto. Não podia acreditar no que ele estava dizendo.

— Você está mentindo.

— Você pode pensar o que quiser. Só não pense que eu não me importo com a merda daquele beijo porque eu não sou o idiota. Eu sei que era algo pra você. E eu queria aquilo também.

— Então demonstre Pedro. Mostre. Eu não vou adivinhar os seus sentimentos a todo tempo. Não posso chutar em minha cabeça que você precisa de minha ajuda e receber grosserias suas. Ou ouvir de você que algo não devia ter acontecido, que só houve porque te convém. - digo clara. - Não vou me fazer de sonsa, eu também o fiz. Mas...

— Eu só preciso de sua ajuda por mais algumas semanas. -  ele me corta - Não tem ameaça. Não tem diário. É algo no qual estou pedindo. Você vai me ajudar ?

— Me conta. Por que você quer a Sarah?

— Eu te fiz uma pergunta.

— Por qual motivo você tem que agir dessa forma? Estávamos conversando, esclarecendo as coisas. Por que está fugindo?

  Me aproximo rápido do mesmo, completamente nervosa e desapontada.

— Pedro.

— Você tem duas opções Solara. De insistir na pessoa errada que sou, sem resposta para suas perguntas. Ou simplesmente acabar com tudo isso Aqui. - ele molha os lábios mostrando sua feição séria.

     Ele me olhava fixamente. Sua seriedade me fazia querer socar o seu rosto e aquela conversa queria me fazer, estranhamente chorar. Mas aquilo era o fim de suas ameaças e ... E tudo? Ele queria minha resposta. Queria que eu dissesse que tudo iria continuar como antes? Comigo aguentando a soberba de Sarah? Ele esperava que eu dissesse sim. E algo em mim também. Minha cabeça queimou. Não conseguia falar. Sequer concluímos a conversa.

— Ok.

  Ele da as costas com rapidez e eu logo tento impedir, mas ele foi rápido. Eu não podia responder. Eu não...

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