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Capítulo 60

    
 

  Era só um coração partido. Tentar diminuir o tamanho do problema era umas das coisas que fazia para não desabar de vez. Sentia que estava fazendo um drama, mas quando tentava parar de chorar, a dor apenas aumentava. Estava sendo cruel comigo mesma e eu não merecia isso. Então apenas deixei fluir. Sem culpa. No momento era apenas eu, lutando por mim mesma. Agarrada a um travesseiro me acalmava, tentava organizar meus pensamentos, e afastar a cena do beijo no qual parecia se repetir mil vezes em minha mente. E nas mil repetições, a dor parecia se intensificar mais.

  Meu celular começou a tocar e ignorei na primeira vez pensando na possibilidade de ser Pedro, mas a luz rosa indicou que era minha mãe. Sabia que o diretor iria lugar para ela, a minha cena mais cedo não era algo normal. Chorar realmente não é uma coisa que faço com frequência e sem motivo. Não podia deixar ela preocupada.

Então, a garota que só sabia atuar como uma árvore, engoliu toda a lágrima. Se levantou e seguiu até a sala, ligando a TV. O barulho iria ajudar a amenizar minha voz.

—  Mãe?

—  O diretor disse que você saiu chorando da escola, o que aconteceu? - ela já estava preocupada - Está com dor?

Mordi meu lábio sentindo meus olhos cheios de água.

—  Cólica. Dessa vez foi forte demais e eu não aguentei. - digo bufando - Decidi vir pra casa e tentar dormir, mas advinha? Tô enjoada!

—  Você espera que eu acredite nisso? - ela briga do outro lado - Não sei o que está acontecendo Solara, mas é bom você me falar!

  
Fiquei quieta. Não tinha outra coisa pra falar. Me deu branco total. Só me lembrei do quão seria bom realmente conversar sobre o que estava acontecendo. Limpei meus olhos com a manga do moletom branco, já encharcado de lágrimas.

—  Aconteceu alguma coisa com aquele Tate?  Seu padrinho me disse que aconteceu alguns problemas e, eu não sei exatamente, mas resolvi deixar que você me conte.

—  Sim. É um problema que envolve ele, confesso. - digo sem mentir - Mas eu realmente estou com cólica. Hoje falaríamos pela primeira vez sobre o baile, falta pouco pras férias então acho que não seria tão necessário assim ir a aula. Desculpa se te preocupei!

—  Você está mentindo! - disparou do outro lado. - Solara, tô indo pra casa.

—  Mãe!

—  Escuta Solara, o diretor me descreveu como você estava. Alguém sorridente como você, não pode sair desesperada da escola só por causa de uma menstruação! Posso até acreditar que envolva Tate, mas é algo a mais. Sua voz não mente.- ela resmungo - Carla vai ficar no meu lugar e eu vou pra casa. Vamos conversar!

—  Olha não precisa mãe! - o silêncio tomou conta da linha - Mãe?

  Ela havia desligado. Fechei meus olhos com força jogando meu celular no sofá, mordendo meus labios com força. Não podia chorar perto dela. Não podia falar sobre Pedro, a confusão seria maior e eu não acho que estou preparada pra isso. Na verdade eu não me sinto preparada para nada. Dormir seria a melhor opção para mim.  Poderia dizer a ela que Tate estava me usando para fazer ciúmes em alguém. A seriedade seria a mesma, seria exatamente a verdade. Uma verdade incompleta, mas algo que me magoou. Deveria inventar algo. Do hospital até aqui eram trinta minutos, devia me arrumar o máximo possível, passar maquiagem. Do contrário ela iria duvidar de qualquer coisa que eu diga.  Ela podia reparar que as coisas estavam erradas um pouco antes. Queria que ela fosse adivinha, não precisava contar e me sentiria menos péssima.