É tarde para pedir desculpas.

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POV Paola Ricci

Eu encarava o celular em minha mão com a foto do contato de Lia. Era ela em sua amada Harley, distraída, olhando para o nada.

Vinte dias desde que Lia se foi e todos estamos irreconhecíveis. Meu pai não fala mais com a gente, Luca me evita à todo custo, Ramon e eu viramos estranhos um para o outro.

- Assim vai estraçalhar o celular. - a voz de Ramon invadiu a cozinha.

Rosa o olhou de rabo de olho e permaneceu em silêncio, cozinhando algo para o almoço.

- Talvez eu queira. - respondo. - Só queria saber como ela está.

- Quase um mês que a menina foi embora e só agora vocês pensam em fazer algo. - Rosa resmunga.

Bufo frustrada. Abaixo minha cabeça apoiada em minhas mãos. Que inferno. Lia partiu e fez exatamente o que disse que faria, levou tudo com ela. Mas eu não imaginava que isso incluía a harmonia da família.

- Não é culpa nossa, Rosa. - Ramon diz - Ela fez a escolha dela.

- Ela não escolheu nada. - Luca se anuncia no ambiente - Vocês não deixaram opções, para ninguém.

Vai até a geladeira retirando de lá uma garrafa de água e enchendo um copo.

- Uau, reunião de família? - era meu pai - Que surpresa.

Ficamos em silêncio tentando não nós encarar e não iniciar uma discussão. A discussão que estamos apenas adiando.

- Paola queria ligar para ela. - Ramon diz.

- Tente. - Luca fala irônico - Talvez ela faça uma faca atravessar a linha. - abaixa a cabeça negando.

- Luca. - meu pai o repreendeu - Menos.

- Menos pai? - se indignou - Fala sério! Paola nos culpa até hoje pela morte de mamãe e olha só - bateu palmas - o espetáculo que estamos vivendo, por causa da máfia. - bate as mãos na bancada me assustando.

Realmente, sempre culpei meu pai e Luca pela morte de minha mãe, Adeline. Ela foi alvo da máfia após meu pai e Luca tentarem renunciar e os mesmos não conseguiram chegar à tempo de salvá-la.

- Luca, calma cara - Ramon tenta apaziguar - Estamos todos nervosos.

- Realmente Ferrini! - fala em um falso tom de animação - Vamos todos encerrar a reunião de família para que o jovem Ramon corra para suas carreiras de pó branco. - finaliza.

Encaro Ramon que está pálido como papel, meu pai está com o queixo no chão, Rosa parou o que estava fazendo e eu olhava para meu namorado em busca de algo que me dissesse que as palavras de Luca eram mentira. Ramon havia me dito que tinha parado.

- Os pinos... - meu pai falar quase sussurrando - Eram seus? - pergunta.

Ramon abaixa a cabeça, provavelmente absorvendo a culpa. Eu não podia acreditar. Uma vez Lia me disse promessas são apenas formas de não magoarem as pessoas, hoje entendo isso, acabei de entender na verdade.

- Porque não me disse a verdade? - foi a primeira vez que falei no meio daquela confusão. - Que droga, Ramon! - gritei irritada.

- Não me julguem, tá legal? - disse gesticulando - Todo mundo aqui tá se trancando no próprio mundinho, porque eu não posso?

- PORQUE ISSO PODE TE MATAR, MERDA! - perdi a paciência.

Rosa nos olhava atônita e incrédula.  Ela praticamente assumiu o papel de mãe após a morte de Adeline. Criou todos, inclusive, Ramon.

- Eu não consigo acreditar! - disse batendo o pano de prato no Ramon - Eu te criei pra ser gente - bateu o pano de novo - Seu moleque!

Apesar dos pesares a situação era engraçada. Era realmente engraçada, mas, considerando as circunstâncias, estávamos bem fodidos. Drogas são proibidas pelo Conselho Maior, e lá vamos nós, para mais um segredo.

Meu pai continuava imóvel, estático, como em um tipo de transe. Eu não o culpo, minha mente também está um turbilhão. Tudo estava ruindo aos poucos por conta de minha estupidez e covardia.

Meus pensamentos são atravessados por um Fergus descabelado e ofegante deslizando pelo chão de mármore.

- Tenho notícias! - praticamente gritou - Sei onde ela está e mais! - e assim como um farol, todos naquela bolha de tensão se animaram mesmo que minimamente.

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Nota da autora: Capítulo curtinho porque estou com um pouco de ressaca e comecei à escrever esse cap durante o rolê. :)

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