Capítulo 10

61 2 0
                                    

As coisas acontecem
E temos que esperar
Tudo está escrito
Em algum lugar
Mas ninguém pode ler
Melhor assim
Deixa acontecer

André L.A. Pimenta

William abriu a porta do seu quarto já com a coroa adornada com rubis nas mãos, e a jogou sobre a cama, sem se importar se faria algum estrago nela. Era uma peça única e realmente linda, mas William a dispensava, assim como o traje elegante que fazia parte da vestimenta de um rei.

— Pensei que não chegaria mais.

William conhecia bem a voz vinda da sacada. Caminhou a passos lentos, tentando ao máximo relaxar os músculos tensos que o movia no dia-a-dia.

Arthur trajava o clássico uniforme preto, feito sob medida para o chefe da guarda real. Os adorno em fios de ouro que emoldurava toda a veste era um tanto chamativo para ele, mas não negava que, gostava dos olhares o secando quando passava com tamanha elegância.

— Como foi o dia com seu pai, futuro rei de Chester?

O oficial notou o príncipe revirar os olhos enquanto apoiava os cotovelos sobre o parapeito de mármore da sacada. O conhecia bem ao ponto de saber que William estava em seu limite. Os olhos cansados observavam sem muita certeza, toda a vista do castelo. Sabia bem o que melhoraria a noite de seu velho amigo.

— Já percebi que não foi muito bom — o oficial disse se aproximando — Acho que você precisa de uma noite regrada a cerveja e mulheres — completou animado, enquanto o amigo lhe lançava um olhar sem muita alegria. — Ah! Que isso, William? Não vai me dizer que está apaixo...

— Espero que você não termine essa frase, Arthur! —suspirou ainda observando a vista na sua frente. — Hoje foi um dia extremamente tenso, meu pai está a um passo de me levar á loucura. Tem uma jovem princesa, que até então me parece ser uma mulher decente, esperando por um príncipe perfeito e gentil, e eu definitivamente não estou preparado para ser marido... Ou rei. Não estou com cabeça para diversão.

— Por isso digo que uma distração trajando vestes curtas te animaria. — Arthur insistiu com um sorriso malicioso brincando sobre os lábios. — Por uma noite apenas, vamos nos divertir como antigamente. Sem preocupações e responsabilidades.

William analisou a proposta do amigo tentando imaginar o que aconteceria se fosse descoberto. Durante boa parte da adolescência, fugiu várias vezes na companhia de Arthur a procura de mulheres e bebidas, e algumas vezes foram flagrados, acarretando não só o oficial, mas também para o príncipe, uma série e castigos, mas nada se comparava com a sensação de aventura ao se esgueirar vestindo roupas velhas para não serem reconhecidos pela população.

— Preciso de roupas adequadas para isso. — o príncipe disse passando a mão pelos cabelos loiros revoltos.

O amigo enrolou o tecido encardido sobre o uniforme preto, de forma que nada ali ficasse amostra, enquanto William colocava o capuz do tecido sujo sobre a cabeça. Não queria correr o risco de ser reconhecido enquanto se esgueiravam por entre as vielas de Chester. O caminho até a taberna foi feito com muita cautela. As ruas estavam agitadas e os comerciantes começavam a organizar a feira anual de Chester.

Chester, além de ser conhecida pela beleza e as divertidas festas, ganhou fama por ser a cidade medieval inglesa por excelência. A taberna de Salteny estava cheia. Os comerciantes e moradores lotavam as mesas do pequeno estabelecimento, torando difícil a circulação por ali. No pequeno palco improvisado com caixotes dos próprios comerciantes, homens trajando vestes simples tocavam alguns instrumentos enquanto um deles cantava numa melodia dançante. Jovens mulheres balançavam seminuas dentre as mesas, servindo a todos que estavam ali.

Uma Janela Para O AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora