(16) Fear

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Jeon Jungkook

Era como segurar uma jóia delicada, como atravessar um corredor liso segurando um vidro. Eu me sentia responsável, chateado, muito preocupado e odiava isso.

Odiava sentimentos embaralhados e confusões, mesmo que nesse momento fosse um pouco difícil decifrar e organizar tudo, eu só dirigia o mais calmo possível com uma das mãos sobre a palma pequena de Jimin que estava chorando ainda sonolento pela droga que já estava desfazendo o efeito.

- Hey, se acalme por favor - eu pedi quase implorando para que ele quietasse, as mãos pequenas do menor estavam tremendo, seu nariz estava com as pontas vermelhas e os olhos cansados de chorar encolhido no banco ao lado, do carro. Não tive resultado algum, ele gritava por socorro como se ainda estivesse em perigo, parei o carro no posto de abastecimento para tentar fazer algo, daquela forma eu estava sem condições para dirigir.

Me aproximei um pouco mais tentando lhe passar segurança mas pelo impulso Jimin me empurrou, não me machucou mas me doeu no peito a forma como ele parecia com medo... de mim.

- Sou eu Jimin,o Jungkook - falei esperando que ele me reconhecesse ou pelo menos me encarasse - Veja, sou seu vizinho, não farei mal pra você. Já saímos daquela casa.

Passaram alguns minutos e ele ainda olhava para o vidro do carro encarando o leve movimento de automóveis no local, fungando e só depois de olhar para o tapete do automóvel pude ver seus pés descalços pálidos e possivelmente gelados pelo frio, não fiz nada de início com medo de suas reações.

Tocar nele não parecia boa ideia, precisava recuperar um pouco de confiança então, alguns minutos depois de colocar uma música no rádio ele me encarou. Não estava mais gritando, apenas fungando baixo como se estivesse com medo de escutarem seu choro.

- Estou com medo - ele falou com as mãos inquietas que seguravam seus pés em cima do banco de coro. Me senti aliviado por saber que pelo menos ele ainda me reconhecia e já estava mais consciente - O-onde estou?

- Vou levar você para um apartamento onde sempre fico, não se preocupe, só acho que levar para sua casa vai deixar seus pais ainda mais preocupados pelo seu estado. Mas se você quiser ir para casa tudo bem, eu farei o que te deixar melhor.

- Não! - ele disse alterado. Apenas concordei.

Pelos seus olhos distraído e marejados eu acho que ele nem prestava mais atenção a minhas explicações, me virei e ergui meus braços a ponto de alcançar algo para aquecer o menor mas só consegui encontrar um moletom, entreguei para ele que agradeceu quase que em um sussurro, e só quando o vi dormir consegui voltar a dirigir menos agitado.

Sabia bem que com ele precisava ter cuidados especiais mais não fui alertado de quais, me causava medo acabar machucando ou traumatizando ele.

Eu estava cuidando de alguém e isso era o que agora me assustava, talvez fosse por seu olhar tão indefeso, ou por sentir culpa. Eu poderia ter evitado mais coisas desde quando o vi o convite que preparam para ele, esse tipo de festa entre amigos não existia convite mas por ser novo achei que Jennie e Jiyoung queriam ser legais. Minha mãe sempre me contava sobre tais pressentimentos que tinha e eu sinceramente nem acreditava mas quando meu coração doeu fortemente ao ver Jimin subir as escadas com aquele que para mim era desconhecido, quase liguei para minha mãe só para pedir perdão pelas vezes que duvidei.

Eu não deveria ter demorado tanto para chegar lá.

Antes de levar Jimin até a cama única de solteiro daquele quarto pouco espaçoso tranquei as portas e me certifiquei de ligar o aquecedor. Daria até banho nele se não fosse incoveniente no momento, ele com certeza me acharia um tarado e ficaria com mais medo ainda.

- Por favor não chore mais, está seguro agora, prometo - falei levando seu corpo deixando com certa delicadeza no colchão, soltei suas mãos do meu pescoço e procurei cobertor pelo guarda roupa que felizmente tinha o suficiente para ele.

- Eu estou com medo hyung, está doendo aqui - levou o indicador até o peito onde seu coração batia forte.

- Não precisa mais sentir medo, não vou deixar que lhe façam mal.

- Pode dormir comigo?- pediu de repente e eu arregalei os olhos surpreso - é que.... não consigo...

O interrompi - Tudo bem, ficarei aqui o tempo todo.

Com a manga comprida do casaco ele limpou as lágrimas e me abraçou, sem saber como reagir fiquei como estátua assim não mexeria com ele, os olhos pequenos de Jimin alertavam seu sono e se fechavam aos poucos mesmo ele lutando para não dormir. Quando senti desconfortável naquela posição sentado que com certeza não iria conseguir dormir daquele forma, encolhi um pouco colocando a cabeça dele em cima do meu braço de forma que suas bochechas encontrassem em meu peito e seus fios que exalava muito bem, ficassem fazendo cócegas nas minhas narinas de forma agradável.

De alguma forma Jimin demonstrou confiança em mim e isso me deixava mais tranquilo quanto estar tão próximo dele, toque tão especificamente físico era um passo gigante na nossa "relação" de vizinho.

Em nenhum momento Jimin soltou minha mão, era como um sinal de que eu estava mesmo ali, talvez, ele não soltou e era tão adorável a diferença de nossas mãos, segurar aqueles dedinhos e sua palma gordinha semelhante a de uma criança me dava sensações estranhas mas nenhum pouco ruim.

- "Eu ando vivendo em meio de ondas,não sei se na terra firme encontrarei você mas os meus olhos brilham toda vez que você chama meu nome" - o rádio ao lado da cama, na qual eu liguei para saber a hora citava e eu detestava aqueles canais bregas mas por instante me senti incapaz de desligar o aparelho sem antes terminar de ouvir tudo.

Sem conseguir pregar os olhos, passei toda a noite ouvindo frases de amor e até de tristeza que me fizeram pensar mais uma vez.

"Será que estou maluco?"

Se eu estivesse esperava de verdade não melhorar, pela primeira vez senti paz no meu coração como se cuidar de alguém fosse minha missão e depois de cumprir uma fase minha alma se limpasse aos poucos. Aquelas trevas que se transformavam em luz,a chuva que traziam o arco íris.

A noite havia sido tão agitada logo cedo mas só foi eu ficar sozinho com Jimin que eu já não sentia mais nada, apenas egoísta já que para Jimin com certeza seria mais complicado esquecer.

Não conseguia entender

Eu só queria protegê-lo de tudo. E desejava nunca mais vê-lo naquele estado, tão cruel e sujo.

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