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Hungria, 1945

Meus olhos percorreram todo hall e  a escada procurando se havia alguém no topo dela. Inconscientemente procurei entre as vozes uma em particular.

— Ela está o esperando na sala de jantar, alteza. — Albert saiu sabe-se lá de onde.

Mordi a boca para não soltar um palavrão.

— E quem disse que estou procurando ela?

— Foi apenas um palpite.

Maldição, o que poderia retrucar para aquela águia velha quando fui pego no flagra. Ele esticou o braço para que fosse na frente. Passei a tarde toda ansioso para voltar, ansioso para saber se não era uma completa loucura tê-la em minha casa.

Como esperava, ansiando na verdade, os demais estavam sentados a mesa. Talvez eu tivesse passado a tarde ansioso por aquele momento. Por poder ter a companhia eles.

- O que fizeram o dia todo? - perguntei me sentando.

Ilda tagarelava com a srta. Izzy sem parar.

- Viraram amiguinhas? perguntei quando não me respondeu a premira vez.

-  Não fique enciumado! - Ilda repreendeu.

- Não estou!

Só um pouco, mas estava com ciúmes de quem: dela ou da outra? Balancei a cabeça tentando fazer aqueles pensamentos desgrudarem da minha cabeça.

- Srta. Izzy é um amor. Conversamos o dia inteiro.

- Sobre o que, posso saber?

Ilda deu uma risadinha. Agora tinha segredinhos com minha protegida e convidada! Esfreguei o polegar e o indicador no cenho. Para com isso! me repreendi. Aghr, nunca tive que cuidar de alguém. Ter alguém sobre minha proteção debaixo das minhas asas era muito estranho ainda mais quando a pessoa desde o primeiro instante atormentou meu coração.

- Sobre a vida dela; sua casa; seus estudos; seu pai e sua madrasta.

Bufei. Ela conhecia e sabia mais da srta. Izzy do que eu quem lhe acolheu!

- Ah. 

Foi a primeira vez que percebi que existia alguém no mundo que fazia meu coração palpitar. Meus primos gostavam de me provocar dizendo que ninguém no mundo iria conseguir fazer com que meu coração se agitasse. Porque eu não era digno de amar e ser amado; porque minha mãe me amou tanto que deu a vida para que eu nascesse.

Diziam que alguém que nasceu de uma desgraça jamais poderia sentir aquilo. Eu dizia a mim mesmo, todas as vezes, que era merecido. Entretanto algo naquela mulher me fazia querer saber até onde meu coração se exaltava em sua presença.

Porque seu sorriso era o mais lindo que já vi e a sua presença a mais agradável de todas. Ali foi a primeira vez que fiquei em silencio apenas para escutar sua risada, para observar seu rosto, para apreciar sua companhia alegre. Logo eu acordava querendo ir tomar café da manhã somente para sentar ao seu lado e aproveitar sua presença radiante.

Tudo nele fazia meu coração palpitar. Ela virava para o lado e o perfume de seus cabelos causavam uma onde elétrica em meu peito. Ela me ofereci uma colher de açúcar e ao me entregar a xicara nossos dedos se tocavam e lá ia mais uma descarga elétrica. Ela suspirava de tanto rir e eu sorria sem poder controlar.

Me tornei sua sombra. Senti a necessidade de estar ao seu lado. Izzy Espósito me trouxe de volta a vida. Ela poderia ficar seria, chorar ou gargalhar que meu corpo reagia conforme suas emoções como se compartilhasse de suas dores, alegrias e preocupações. Eu queria descobrir mais e mais. Me via explorando a mim mesmo chegando aos meus limites e os ultrapassando.

As vezes me escondia em algum canto quando por coincidência cruzamos o mesmo caminho e eu soltava um "ohh" ao sentir meu coração acelerar num piscar de olhos. Ilda me pegou uma vezes, cinco dias depois da chegada da srta. Izzy, sentado no chão com a mão no peito e os olhos fechados. Eu havia acabado de ser assustado não por meu coração descontrolado, sim por minhas bochechas ardendo como fogo. 

Eu corei! Sim eu corei ao vê-la. Corei como um garotinho tímido que um dia fui. Ilda deixou claro que deixaria os cafés da manhã e almoços para nós dois sozinhos. Que não se juntariam a nós nestas partes do dia. Agarrei a barra de seu vestido com ela andando eu a seguindo praticamente sendo arrastado, implorando para que não fizesse aquilo comigo.

Novamente o garotinho tímido voltava. Depois de me afastar como se fosse um gato andando em volta dos seus pés, rosnou:

- Para com isso, vai tomar o desjejum e almoçar com ela! A srta. Izzy não irá o morder.

Morder! Eu poderia aguentar uma mordida. Mas não sabia se teria sanidade para ficar sozinho no mesmo lugar que ela. Ela não iria me morder, iria me matar! Causar um infarto na certa!

Albert que não falava muito com ela, embora fosse muito educado e gentil as vezes intrometido, me incentivou a me aproximar e conhece-la melhor alegando que havia começado a faze-lo e descobrirá que era uma moça extraordinária. 

Não existia uma saída ou um buraco para eu me esconder, então tive que fazer oq eu sugeriram: conhece-la melhor. Claro sem os informar sobre minha provável doença, algo relacionado ao meu coração. Porque somente uma doença grave poderia deixar meu coração daquele modo. Só que fiquei de bico fechado. Ninguém precisava saber que o fadado a solidão estava começando a encontrar uma companhia. 

No segundo em que me aproximei tentando ser amigável o bastante para que tivesse confiança e não fugisse de mim, descobri que não só meu coração foi encantado como ela como eu todo. Izzy Espósito era fascinante, enfeitiçante, cativante, graciosa, engraçada, divertida, solitária como eu, tinha uma risada que me fazia olha-la por longos minutos sem dizer nada, além de lindos olhos e cabelos que cheiravam a caramelo. 

Em sua presença eu me sentia um garotinho explorando o mundo e seus sentimentos. Um garotinha que apoiava a cabeça nas mãos para admirar e observar uma mulher tão fascinante quando uma bailaria dançando em uma caixinha de musica. Eu poderia olha-la e ouvi-la o dia todo.

Algo nela me prendia e isso há mais de cinco dias, desde a noite em que a encontrei. Curioso com isso quis me aproximar mais e mais. Me aproximaria o quanto fosse possível para descobrir o que se passava comigo e qual a importância dela em tudo isso.

Certa noite a vi observando o jardim morto da janela do corredor. Me aproximei cauteloso. Embora não tivesse emitido nenhum som ela se virou para mim como se tivesse sentido a minha presença.

- O que foi? - perguntei, parando alguns metros de distancia para não me distrair com o modo em que seus olhos brilhavam a noite. 

- Nada demais.

- Nada é uma palavra vazia para ser par de uma palavra tão ampla como demais.

Ela riu.

- Apenas algo bobo, pode ser assim?

Seu lábios sorriram provocadoramente.

- Desde que eu possa saber o quão bobo é esse algo.

Onde eu estava com a cabeça! Mas já era tarde ela havia se aproximado e não pude conter o suspiro quando encontrei seus olhos brilhantes como uma joia lacrada em um museu. Eu quis diminuir o espaço pequeno que nos separa. Quis saber o que se passava em sua cabeça, no que pensava.

Me detive não reconhecendo o meu autocontrole, porém entendendo-me. O dono de um jardim sempre tem uma única e especial flor dentre milhares, e ela é a sua favorita, ele nunca vai toca-la para que suas pétalas não se desfaçam e perca sua graça como nunca vai arranca-la para dar de presente a alguém porque dar a alguém o seu jardim junto de sua flor era melhor do que vê-la morrer ao ser arrancar.

Escorreguei o indicador na lateral de seu rosto dando meia volta e indo me trancar no meu quarto, após uma mensura de despedida.

Izzy era a única flor em meu jardim morto. 

Discovered - Destinados a se amarOnde histórias criam vida. Descubra agora