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Romênia, 1948.

Tumm... Tumm... Tuuummm

Meu coração martelava nos ouvidos e saltava nas veias de meu pescoço e pulso. Um certo calor subia por meu corpo até meu rosto e peito.

Seria ansiedade ou eu estava prestes a ter um infarto?

Minhas mãos tremiam quanto tirei-as do bolso da calça. Era um sonho... E que sonho mais maravilhoso. Gostaria de morar nele para sempre.

Eu conhecia aquelas mechas onduladas; o perfume de jasmim e limão; os movimentos daquelas mãos pequenas; a pessoa de costas para mim e de frente para Kirsty Munteanu.

Aquela mulher me pertencia, digo, pertencia a minha vida e, ultimamente, aos meus sonhos. De uma maneira estranha e boa meu corpo reconheceu sua presença.

Jamais havia reconhecido alguém com tanto entusiasmo e alegria. Era como se estivesse encontrando com um familiar querido ou uma pessoa muito estimada.

No caso eu acabava de encontrar a maldita mulher que não saía de meus sonhos, a causa de minha agitação e de minha insanidade.

— Izzy...— chamei, relutante, com medo de que fosse mais uma ilusão.

Para minha surpresa e certo desespero, ela se virou para mim. Ahh, como sentia a falta do calor que aqueles olhos me causavam e do modo em que eles brilhavam mais luminosos do que a própria lua ou ouro no garimpo.

— Mitchell?! — gritou de volta, começando a andar em minha direção como uma criança dando os primeiros passos.

Kirsty Munteanu e o marido instantaneamente olharam para mim com expressões de espanto e surpresa.

Sem perceber eu próprio ia ao seu encontro pegando-a nos braços antes que caísse de joelhos ao agarrar minha camisa. O calor de seu corpo, seu toque, sua respiração... Era real... Não era uma sonho, pois se fosse ao tocar-me ela já teria sumido.

Izzy havia voltado. Eu havia a encontrado depois de tantos dias... Tantos anos. Ela estava ali novamente. Meu corpo se aquietou quando lágrimas desconhecidas e raras brigaram até caírem de meus olhos.

Que se dana-se tudo, por Izzy eu choraria na frente de quem fosse, fosse até mesmo meu inimigo, eu choraria se a causa fosse a alegria de reencontrar e poder abraçar a pessoa que passou a ser a mais valiosa de minha vida.

Diziam que aonde estivesse seu coração ali estaria seu tesouro, Izzy era o meu tesouro que perdi e muito depois reencontrei. Não conseguia deixar de abraça-la com força.

De sorrir ao ouvir seu choro em meu ombro de chorar ao escutar meu nome saindo de seus lábios. Ela havia voltado para casa, enfim.

— Não sabe como senti sua falta. — disse, lamentavelmente.

— E não imagina o quanto eu senti a sua. — retruquei, em seu ouvido.

Peguei seu rosto entre as mãos e beijei sua testa. Meu tesouro. Para alguém que nada tinha, ter alguém como ela em minha vida era ser o homem mais rico da face da terra.

Agora eu sabia, ou a menos tinha noção, do que era ter alguém, uma companhia, uma presença, um tesouro mais valioso do que qualquer pedra preciosa.

— Por onde esteve? Por onde andou? O que fez? Você se alimentou corretamente? Não sentiu frio nem medo? Alguém lhe fez alguma coisa?... Argh, como eu enlouqueci pensando que poderiam ter lhe feito mal. Como desejei ter o poder de encontrá-la e traze-la de volta a mim. Como quis saber porque sumiu sem ao menos se despedir. Pensei que iria morrer. — confessei, as palavras rápidas por conta de tudo o que estava preso dentro de mim.

Palavras que jamais admiti ou disse. Porque jamais me importei com alguém como me importava com ela. Ao sumir senti que o mundo, finalmente, estava vindo me cobrar por todos os meus pecado.

Imagino que sofri o suficiente para que então o destino me devolvesse ela.

— Oh, Mitchell. — Me abraçou com mais força quase fundindo-se a mim.

Foi quando lembrei que não estávamos sozinhos e fiquei um pouco preocupado. Como um príncipe possuía inimigos demais, sendo Mitchell Lazar possuía ainda mais.

Se descobrissem que ela era meu ponto fraco certamente eu estaria morto. Precisava protegê-la.

A afastei escondendo-a atrás de mim. Encarei Declan, seria uma vingança por sua esposa? Ele também pensava que eu era a causa do sumiço repentino de Aimee? Como ele havia descoberto sobre Izzy, aliás como a mantivera aqui todo esse tempo?

Inúmeras perguntas, o medo quase me fazendo ficar de joelhos e implorar por perdão.

— Mitchell eles são meus amigos, foi Kirsty quem me trouxe de volta. — Izzy informou, sorrindo ao ficar ao meu lado.

Ela segurou minha mão.

Eu ainda não conseguia pensar direito no que estava acontecendo apenas queria protege-la e mantê-la por perto.

— Kirsty este é o homem de quem lhe falei aquele dia.

A Sra. Munteanu olhou de um para outro perplexa e depois, inusitadamente, caiu na gargalhada abraçando o braço do marido que permanecia paralisado nos olhando sem entender o que estava acontecendo.

— Calma... Você conhece Mitchell Lazar? Espera... Como o conhece, senão quando? — Declan perguntou, gaguejando.

Kirsty rindo eufórica.

— Você entendeu o que aconteceu, minha cara? — Ela apenas concordou com a cabeça sorrindo para nós.

— Deixaremos vocês a sós por alguns minutos, com licença. — Kirsty disse, sorrindo largamente enquanto arrastava Declan para fora da sala de estar.

— Mas... Espere Kirsty eu ainda não entendi o que está acontecendo. — falou ele, relutando em deixar o cômodo.

— Eu explico no escritório.

Os dois saíram.

E lá estava eu depois de anos a sua procura e enlouquecendo por conta de seu sumiço, sozinho com ela outra vez. Avancei nela e a puxei para os meus braços.

Ela me envolveu com seus próprios braços acomodando a cabeça em meu peito. Com toda certeza devia estar escutando a agitação do meu coração e sentindo minha respiração ofegante e irregular.

— Por onde esteve? O que aconteceu?

Acariciava seus cabelos de olhos fechados.

— É uma longa história, direi mais tarde.

— Vamos.

Ela levantou a cabeça encostando a testa em meu queixo, abri os olhos encontrando os seus.

Odiava o sentimento de impotência e rendição, odiava não poder encontra-la, mas agora estava encantado em tê-la em meus braços sem ser uma ilusão ou um sonho ou um devaneio.

— Para onde?

Vamos para casa. Venha vou levá-la de volta para casa, todos sentiram sua falta e aquele mordomo irritante ficará muito feliz em vê-la. Estão nos esperando, eu preciso dizer que está de volta. — falei, rapidamente pegando sua mão.

Ela permaneceu parada.

— Eu não posso sair daqui sem agradecer a Kirsty e o marido dela. Se não fosse ela eu jamais teria voltado e teria apodrecido naquele hospital.

Suas palavras me surprienderam.

— Hospital? Foi lá que esteve todo esse tempo? E como conheceu a Sra. Munteanu?

— Conto quando chegarmos em casa.

Ela sorriu e eu não pude deixar de assentir. O que importava, Izzy estava comigo e iria voltar para casa junto dela. Poderia ficar o resto do dia ali, contando que ela não sumisse de novo, eu ficaria em qualquer lugar com ela.

Afinal, havia encontrado-a e mais cedo ou mais tarde retornariamos para casa.

Lhe dei um sorriso.

— Como quiser.

Discovered - Destinados a se amarOnde histórias criam vida. Descubra agora