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Izzy

Ilda puxou as cobertas e amaciou o travesseiro. Era a primeira cama decente que via em muito tempo. Além do mais eu estava em casa e não havia melhor lugar para se deitar e descansar do que no seu lar.

Depois de uma banho quente na banheira eu me sentia limpa; nova em folha.Minhas roupas estavam limpas, meus cabelos, minha barriga saciada e meu coração calmo. Era bom estar de voltar.

Deitei de lado vendo Paco dormindo no tapete. Enquanto estiquei o braço para afagar suas orelhas peludas Ilda me cobriu até o queixo. Virei-me para ela que sentou com um braço sobre minhas pernas.

Ninguém nunca me colocou para dormir, nem meu pai muito menos minha madrasta. Mas Ilda fazia aquilo desde o primeiro dia.

Ela insistiu que queria me ajudar no banho mesmo eu dizendo que poderia me lavar sozinha. Sua persistência foi tanta que não protestei quando começou a lavar meus ombros sentada em um banquinho com flores talhadas nas pernas de madeira.

Foi menos constrangedor do que eu esperava. Paco também decidiu nos acompanhar até o banheiro, ele deitou nos pés da Ilda abanando o rabo freneticamente.

A sensação de proteção nadou por minhas veias protegendo meu coração em um conforto e calmaria que desconhecia. Segurei sua mão macia me segurando para não chorar mais, meus olhos estavam inchados o suficiente por aquela noite.

Nunca pude contar com ninguém, nunca pude segurar a mão de alguém e me sentir revigorada, nunca pude me sentir amada.

- Senti como se minha filha tivesse sido arrancada de mim. - falou, pensativa.

Seus olhos castanhos brilhavam como os de um gato. Filha. Meu pai não me chamava de "filha", ele me chamava de "Izzy" e minha madrasta de "queridinha". Torci o nariz ao sentir um nó se formar na garganta prestes a explodir em um derramamento incessante de lagrimas quentes.

- Você se tornou minha filha desde o primeiro dia em que veio para o castelo. Eu sofri com seu sumiço como uma mãe sofre com o de um filho amado. Eu a amo como a filha que não tive. E seria uma grande honra que  ao invés de Ilda me chamasse de "mama". - A abracei sem a necessidade de falar mais nada.

Mama em búlgaro significava "mamãe e mãe" tanto quanto "mama" em italiano. Se era uma arrebatadora coincidência do destino eu não tinha ideia. Mas, que era maravilho isso eu não tinha duvidas. Era a primeira vez que eu tinha alguém para chamar de mãe, a primeira vez eu tinha uma mãe.

- Mama... Mama! - sussurrei testando as palavras em meus lábios como em meu coração. - Oh como isso é bom. Mama, eu sentia a sua falta a também.

Ilda chorava soluçando alto. Ela acariciou meus cabelos, beijou minha testa e me acolheu em seus braços como uma mãe de verdade faria com sua filha - como sempre sonhei.

- Minha filha, meu doce, boa e linda Izzy. 

- Posso chama-la de mãe para sempre?

- Para sempre desde que eu possa chama-la de minha filha.

Encostei nossas testas.

- Não conhecia a minha mãe, não sei como é ter uma, nem nunca fui chamada de filha pelo meu próprio pai, mas quero ser a sua filha e que você seja a minha mãe por toda a minha vida.

- Ohh, minha filha. - Deu um beijo molhado em minha testa. - Albert não gosta de demostrar suas fraquezas, mas ele também a considera como filha. Espere só em pouco tempo também estará exigindo que o chame de pai. 

Comecei a rir baixinho. Eu tinha uma mãe, um pai e um irmão. Eu pertencia a algum lugar, eu tinha uma família. Embora no futuro tivesse um pai biológico ele não se referia a mim como filha e eu a ele como pai, o chamava de "Esposito". Porque se ele não me chamava de filha nem em segunda pessoa logo eu não era uma filha para ele.

Discovered - Destinados a se amarOnde histórias criam vida. Descubra agora