Senti o cheiro do seu perfume doce tomar conta do ambiente, não quis abrir os olhos, não queria sair dali. Continuei fingindo que estava dormindo, escutando os seus passos pelo o quarto, a cama se afundou um pouco, cogitei que ela estivsse sentada.
Mais um pouco, ouvi o barulho do chuveiro e pude abrir os olhos. Estava sendo muito invasiva, mas não podia controlar esse meu lado. Não queria perdê-la assim tão fácil.
Depois de um considerável tempo longo, senti mais uma vez a cama se afundar e o edredom ser puxado para cima com leveza. Eu gritei por dentro de felicidade, ela não estava me rejeitando de fato. Confiante o suficiente para passar um braço por cima da sua cintura.
- Já está sendo bem difícil e estranho te deixar dormir aqui, Lalisa. Não force a barra, ou volte para o seu quarto.
- Como foi a noite?
- Maravilhosa. Agora me deixe dormir.
Ela murmurou, a única coisa que eu mais queria era abraçá-la, mas tudo que fiz foi tentar pegar no sono novamente. Acordei com o barulho de chuva que caía lá fora, Jennie ainda dormia, acabei sorrindo em ver a sua mania de criar um bico quando estava em um sono profundo, aquela era a imagem que eu queria todos os dias ao acordar, queria ela do meu lado, do mesmo jeito que estava ali. Maravilhosa.
Decidi que não iria trabalhar naquele dia, eu sabia que não teria nada de importante nas duas empresas, e se tivesse poderia fazer pelo o laptop. Andei até o mais novo quarto de Ari, que já tinha alguns desenhos grudados na parede e a vi ali em um sono pesado, para uma menina pequena ela ocupava muito espaço na cama. Logo senti a companhia de Louis ali, balançando o rabinho com uma bolinha na mão.
- Hoje não, amiguinho, está chovendo muito. Vem, me ajude a fazer o café para Jennie.
Geralmente de finais de semana Jennie não precisava trabalhar nem fazer nada que se dizia respeito a casa, mas ela era teimosa, e sabia que a casa não duraria até segunda em perfeita ordem. As vezes parecia que ela me conhecia muito bem. Eu não tinha jeito na cozinha, mas fiz o meu melhor. Não me importei se estava ou não invadindo o seu espaço, se era melhor dar um tempo, eu a queria e ponto.
Ok, isso me pareceu muito psicopata.
Quando entrei ela estava sentada na cama mexendo em seu celular, seu olhar se levantou e logo pude notar a surpresa em sua feição. Tentei sorrir de uma modo natural, mas eu não conseguia ser natural perto dela. Eu sentia muita vergonha em alguns momentos, não conseguia olhar para ela, pois as minhas bochechas estavam mais vermelhas que dois narizes de palhaços.
- Porque está trazendo café na cama? E ainda pra mim, senhora Manoban?
- Pra me redimir da grande burrada que eu fiz. Queria te dar um espaço, mas não consigo ficar longe de você. Espero... espero que goste...- cocei a nuca, me virando para sair, eu era péssima quando estava nervosa. Parecia uma adolescente no primeiro encontro, toda enrolada e insegura.
- Espera. Tem muita coisa aqui, não vou conseguir comer tudo sozinha.
Acabei sorrindo, tentando esconder a minha empolgação, o sorriso era maior do que eu poderia controlar. Me sentei ali junto a ela, que me dizia que era muita coisa, pude ouvir a sua risada simples, e só de escutar ela me chamando apenas de Lalisa, já estava de bom tamanho.
- Não está atrasada para o trabalho?
- Não vou hoje, semana que vem eu entro de férias.
- Hum, costuma passar o natal aqui?
- Sim, eu, Ari e Louis. Você pode se juntar, claro se você quiser.
- Já prometi a minha mãe que ficaria com ela e o meu pai, mas obrigada pelo o convite.
Em passos de tartaruga eu me aproximava dela de novo, só aquele começo de dia me animou muito para qualquer outro tipo de tentativa ou aproximação. Porém, foi um pouco difícil, Ari acordou com muita febre e reclamando de dores pelo o corpo, resultando em querer a minha atenção o tempo inteiro. Não saía do meu colo e me doía vê-la tão fraca.
- Lili, porque temos que sentir dor? Eu não gosto.
- Para podermos ser mais fortes futuramente.
- Porque o papai não volta logo do jardim, Lili?
Senti meu corpo ficar tenso, meu pai morreu quando Ariana tinha três anos, apenas um ano depois que ela havia sido adotada. Os dois eram como um só, meu pai fazia de tudo tanto por mim quanto por Ari, quando ele morreu, contei uma história para ela, dizendo que ele estava em um jardim de flores, cuidando dela de longe. Ela me perguntou se um dia nós os veríamos que sim, e eu apenas concordei, sentíamos a mesma dor em seu enterro.
- Lembra do que eu te falei? Ele vai voltar assim que estiver pronto, ele ainda não está pronto.
- Demora muito pra ele ficar pronto, mamãe? Eu sinto falta dele.
Não era a primeira vez que Ari me chamava de mãe, aquilo nunca me incomodou, e eu até gostava, ela ficava meio envergonhada depois e me pedia desculpas, mas sinceramente, não achava motivo para tal pedido.
- Temos que ter paciência, tudo bem? Agora vem, vamos comer alguma coisa.
- Ah não...
- Ah sim.
- Bolo?
- Está na hora do almoço, quem sabe mais tarde.
Até quando ela viu Jennie resolveu me abandonar e ficar no colo dela, eu achei aquela imagem linda. Ver Ari quase pegando no sono enquanto Jennie cantarolava qualquer coisa para ela, me fez querer aquilo pro resto da vida. Era pedir demais?
- Está dormindo.- eu concordei com a cabeça, esperando até que ela se sentasse no sofá novamente. Ainda pensando no meu próximo ato.
- Hum... você... você ficou com alguém ontem?
- Porque eu deveria te responder isso?
- Apenas curiosidade minha.- dei de ombros, fechando os olhos, querendo abandonar a ideia dela beijar outra pessoa. Que idiotice, eu havia transado com outra bem ali, apenas por uma parede separando eu e Jennie.
- Fiquei com dois meninos. Um na pista de dança e outro no bar que tinha lá.
Eu queria morrer.
- E foi bom?
- O que você realmente quer perguntar?
- Se algum deles foi melhor que eu?
- Isso é uma pergunta na qual você já sabe a resposta, Lalisa.
- Talvez eu não saiba, não agora.
- Ninguém é melhor que você.

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Sentir (Jenlisa)
FanfictionDepois de perder a sua namorada em um trágico acidente, Lalisa começa seguir a sua vida, mesmo achando que aquilo seria difícil. Em meio a tudo isso, Lalisa contrada uma diarista para ajudar com as tarefas domésticas. O diferente, é que Jennie Kim é...