Capítulo 19

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As marcas roxas em suas costas me fizeram lembrar da noite passada, aquilo por si só já arrancou um sorriso meu. Lembrar que ela se referiu a mim como namorada me fez sentir várias coisas ao mesmo tempo. Podia ficar bem de novo.

Vi o sol dar as suas caras junto ao seus olhos de gato abrindo, tirei aqueles fios que me impedia de ver o seu rosto, inchado mas adorável. Ela sorriu no mesmo instante que os nossos olhos se encontraram, acho que sentindo a mesma coisa que eu.

- Bom dia...- eu falei me aproximando mais dela, seus olhos se fecharam e uma risada baixa pude escutar. Abracei a sua cintura, vendo cada traço do seu rosto. Perfeita.- Dormiu bem?

- Huhum.

Acho que não era necessário falar nada, não naquele momento, só o sorriso já era o suficiente. Cada segundo que tivemos na noite passada era viva em minha mente, como se fosse ousadia apagar.

Eu me levantei rumando para o banheiro afim de tomar uma ducha quente. Eu busca de algum elástico para prender o meu cabelo achei algo, que havia procurado durante anos, e agora estava ali.

O colar de Ellen.

Havia um pingente em formato de "E" e foi a única coisa dela que sobrou aqui em casa. Meu coração doeu tanto, e uma saudade dela veio sem dó algum.

Ellen foi a primeira mulher que eu conheci e amei, acho que foi um amor inocente, tanto pra mim quanto pra ela. Os pais dela eram brasileiros, mas tentava a vida aqui na Coréia. Ellen tinha os cabelos escuros e longos, aqueles cachos tão perfeitos eram motivos de hipnose dá minha parte. Sua pele morena sempre me chamou atenção e aqueles olhos cor de me, era a minha perdição. Quando ela entrou na escola, tive que apresentar todo o ambiente para ela, e dês daquele dia andávamos juntas o tempo inteiro. Começamos um relacionamento sério mesmo com dezesseis anos. Até tudo acontecer. Lembrar do acidente era algo que eu não gostava. Seu corpo nunca foi achado, mas os bombeiros diziam que não havia mais nenhum sobrevivente nos escombros. Durante muito tempo acreditei que ela voltaria, que ela estava viva sim. Mas aquilo só me machucava mais, até que aceitei tudo de fato, a sua perda. A nossa perda.

Lembrar dela as vezes era bom, as vezes doía.

Guardei aquela corrente onde havia achado e logo senti os braços finos de Jennie abraçarem a minha cintura, senti alguns beijos em minhas costas, sorrindo ao saber que agora eu estava com ela, e tudo estava parcialmente bem.

A puxei até o chuveiro mantendo os nossos corpos grudados enquanto a água batia. Conversamos sobre algumas coisas, Jennie ainda parecia sonolenta e eu só pude rir de algumas respostas que ela dava.

- Como você está hoje, Ari?

- Com sono, mamãe.

- Quer dormir mais um pouco?- ela assentiu abraçando o seu ursinho de pelúcia enquanto Jennie a cobria mais uma vez.

Tomamos café na companhia de Louis, o sábado frio me lembrou o natal, ansiosa e receosa sobre muitas coisas.

- Bom, já que agora eu não sou a sua diarista, preciso arrumar outro emprego.

- Que? Porque?

- Ainda quero fazer faculdade, Lisa. Já tenho quase o suficiente para pagar o primeiro semestre.

- Posso te ajudar com isso, não é problema algum.

- Não. Não quero a sua ajuda em algo que posso fazer sozinha.

- Você é tão teimosa, Jennie.

- Obrigada?

- Hey, isso não foi um elogio.- acabamos rindo.

- Sabe, já que o natal se aproxima, porque você e a Ari não me acompanham até a casa dos meus pais? Tenho certeza que eles vão adorar receber vocês duas.

- Sério?

- Meio que eu já falei pra eles que vocês iriam... antes daquela noite que vi você e aquela menina-

- Tudo bem, eu entendi.

- E eles acharam a ideia muito agradável, e eu ficaria feliz em ter vocês lá. Ter todos que eu amo lá. Só faltaria a Jisoo, mas a vemos via Skype.

"Todos que eu amo lá." Então Jennie me amava? Meu Deus.

- O que acha?

- Você me ama?- perguntei apressada, sentindo meu coração bater tão rápido que me faltou um pouco de ar, sentia que estava morrendo. De ansiedade, e de medo pela a resposta. A olhava fixamente, seus olhos me pareciam fundos, ela me parecia envergonhada. Aquilo estava virando uma tortura.

- Amo...

Aquele momento deveria ter sido gravado por mim. Jennie me amava. Então era recíproco. Eu estava no céu?

- V-você... você aceita ir pra casa dos meus pais?

- Aceitaria até um pedido de casamento se me pedisse, amor. É claro que sim.

- Para de me deixar com vergonha, sua  chata.- ela falou baixo enquanto eu puxava a sua cadeira para mais perto de mim. Deitei minha cabeça em seu ombro, ainda não acreditando que ela era minha.

- Eu também te amo, Nini.

Sentir (Jenlisa)Onde histórias criam vida. Descubra agora