Por Acaso

Capítulo 23

H E L E N A
🇧🇷

Essas últimas duas semanas têm sido extremamente estressante. Aconteceu coisas que eu não imaginava e mudou bastante a nossa rotina.
Não falo com o Peter desde o ocorrido aqui em casa e espero mesmo que ele esteja bem. Não apareceu nem no aniversário do Noah, que cancelou e ficou emburrado o dia inteiro. Tive que inventar uma mentira (coisa que odeio mais que tudo) sobre ele está muito ocupado no trabalho, só que não adiantou tanta coisa, mas com certeza aquele trem gigante fez toda diferença, tivemos até que mudar um quarto cheio de bagunça pra tentar montar aquele negócio.

Fiquei muito preocupada quando ele saiu tão desesperado daqui, sem me falar o que tinha acontecido e o porquê dele ficar daquele jeito. Vi claramente que tinha sido um pesadelo, mas Peter gritou meu nome enquanto se debatia do meu lado.
Foi muito angustiante vê-lo daquele jeito.
Já tentei contato, mas vai direto para caixa de mensagens, então decidi dar um tempo e deixar que ele me procure.

Um dia depois do aniversário, chegou um pacote mediano aqui no apartamento, junto com um cartão destinado ao Noah. Mas, eu como uma mãe precavida, olhei antes de entregá-lo, e quase caí para trás.
Era a miniatura de um carro, um Mustang, e eu já tinha visto várias miniaturas como aquela antes. A raiva subiu na hora e eu fiquei sem reação até a Sara aparecer. O cartão ainda estava intocado em cima da mesa de centro.

- Helena, o que aconteceu? Você está assustada. - Sara se sentou ao meu lado, passando a mão pelo pequeno volume da barriga.

- É... Hum... Olha isso. - indiquei o cartão. - Pode ler, por favor?

- Bom, é claro. - ela abriu e arregalou os olhos, me deixando mais assustada. - Não acredito...

- Leia logo! - falei, nervosa.

Como pôde nos achar? Apesar dele ter tantos contatos importantes, tomei cuidado suficiente para que isso não acontecesse.

- "Espero que goste de automóveis tanto quanto eu. Ass: Papai Rodrigo". - leu e virou o verso. - Bom, acho que é só o que tem, além de um número de telefone atrás. Que babaca!

Confirmado! É mesmo o Rodrigo. Ele tinha várias miniaturas assim, é amante de carros clássicos e todas essas coisas. Quase obcecado. Qual a melhor forma dele se apresentar do que essa? Ele é mesmo um jogador, sempre foi. E como esse idiota ainda tem a coragem de colocar "Papai Rodrigo"? É muita falta de vergonha na cara!

- O que você vai fazer agora? - minha amiga me tira dos devaneios, mas eu continuo calada.

Pensei nas várias formas de contar para o Noah sobre seu pai. Esse assunto sempre foi um pouco delicado e, ele sendo uma criança de onze anos, nunca insistiu em saber mais do que o básico que lhe contei.
Há uns dois anos atrás, eu chamei ele para conversar e disse que seu pai não era casado comigo e morava em outro país, ele entendeu e não me perguntou mais nada. Eu também não quis mais falar sobre o assunto, até então venho mantendo assim.

***

Se passaram três dias e eu ainda tentava encontrar um jeito de falar com o Noah. Pedi conselhos a Cida, ela prefere que eu conte tudo de uma vez para ele, já a Sara discorda totalmente.
Sei que não posso esconder isso por muito tempo, é uma parte importante da vida dele e não seria nada justo se eu ficasse omitindo as coisas. Só não entendo porquê Rodrigo apareceu depois de tanto tempo, logo agora que minha vida estava indo muito bem. Reencontrei minha amiga, comecei a namorar um homem incrível e que a relação com o Noah é ótima, uma das coisas mais importantes pra mim. Só acho que Rodrigo quer destruir minha vida mais do que fez, coisa que ele não vai conseguir.