Capítulo 2

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H E L E N A
🇧🇷


Assim que entro no carro, o ar quentinho é bem vindo. Eu estava tremendo de frio e o pouco que fiquei na chuva já foi o bastante para ensopar minha roupa, que agora está toda grudada no corpo.

O silêncio paira no ar, a não ser pela música que toca baixinho no rádio, que por incrível que pareça, é uma das minhas favoritas: Revelry - Kings of Leon.

Gosto tanto que não freio minha boca, e começo a cantarolar baixinho junto com o Calleb Followill:

What a night for a dance, you know I'm a dancing machine
(Que noite boa para uma dança, você sabe o quanto eu gosto de dançar)
With the fire in my bones and the sweet taste of kerosene
(Com o fogo em meus ossos e o doce gosto de querosene)

Percebo que o estranho me olha pelo canto do olho, mas eu não estou nem aí, continuo cantando. Pelo menos minha música de pré-morte é legal.

I get lost in the night, so high, I don't wanna come down
(Eu fico perdido na noite, tão "alto" que eu não quero descer)
To face the loss of the good thing that I had found
(Para encarar a perda da coisa boa que eu encontrei)
Woo-hoo-hoooo... Woo-hoo-hoooo...

A canção não tem nada haver com esse momento; nem noite é. Mas veio bem a calhar. Nada como uma música para quebrar silêncios torturantes, ainda mais do Kings of Leon.
O som da voz do cantor continua enchendo o ambiente, me deixando imersa, mas, infelizmente, dura muito pouco.

Um rugido grosso corta minha cantoria e eu levo um susto.

- Tem um casaco no banco de trás. - diz ele sem desviar os olhos da estrada, que pelo que vi não é o caminho da minha casa.

- Não, obrigado. E para onde você está indo? Esse não é o caminho da minha casa. - falo, nervosa.

Para onde esse cara está me levando? Que ideia absurda foi essa de entrar aqui?

- Não me lembro de você ter me dado endereço. - o relento fecha a cara, soprando com raiva.

- Seu grosso! Você também nem perguntou. - preciso voltar logo para casa, o Noah já deve ter acordado uma hora dessas e preciso conversar com ele. - Vire a esquerda no próxima quarteirão...

Ele faz tudo sem dizer nada, e o caminho da avenida até o prédio é muito silêncio.

Assim que o carro para na frente do edifício, eu abro a porta querendo sair logo dali. Estou me sentindo sufocada, como se ele tivesse sugado todo o ar.

Bato a porta e já vou entrando no prédio quando ouço sua voz:

- Não mereço nem um obrigado? - mas que homem cínico.

- Só sou educada com quem é comigo. - com isso, entro deixando o babaca boquiaberto para trás.

Graças a Deus, pelo menos cheguei viva.

***
Horas depois, eu já estava tomando o café da manhã com Cida e Noah, que não disse uma palavra desde que cheguei, mas pretendo levar ele para passear um pouco e descontrair já que não temos passado tanto tempo juntos.

- Vamos sair hoje filho. - aviso.

- Sério? - por um momento vejo seus olhinhos verdes brilharem. -Para onde?

- Você decide. - digo, vendo a Cida sorrir do outro lado da mesa.

O Noah é meu filho mas não temos muita semelhança fisicamente, a não ser pelos cabelos que são pretos e um pouco cacheado, como os meus, fora isso é tudo igual ao cretino do pai dele; pele branca, olhos verdes e a personalidade forte, apesar que eu também tenho.

Por Acaso Onde histórias criam vida. Descubra agora