Capítulo 35

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H E L E N A
🇧🇷

Quando dizem que os hormônios deixam as pessoas loucas é a mais pura verdade. Mas esse não foi o principal motivo pelo qual dei a louca e ataquei o Peter no meio do nada e fiz tudo que sempre tive vontade. Tudo mesmo! Desde quando Helena Dutra Fernandes fala sacanagem durante o sexo? Nem eu conhecia esse meu lado mais devasso. Gostei muito, apesar de ter ficado surpresa e meio envergonhada depois. Quê isso, nem motivos eu tenho! Seja mais mente aberta, Helena querida!

Voltando aos motivos, na verdade, foram três. Primeiro: medo. Segundo: muito tempo sem nos ver. Terceiro: como eu disse antes, os hormônios.

Medo do quê? Bom, não sou uma mulher que depende de homens para viver, mas pensar em ficar sem o Peter... Isso me deixou um pouco insegura e medrosa. Muito angustiada.

Qual será a reação dele quando souber? E se ele ainda não estiver preparado para ser pai, tecnicamente, de novo? Pior... Se eu levo o Peter naquele penhasco e ele resolve cometer uma loucura, tipo... Pular?

Minha cabeça foi invadida por vários questionamentos e pensamentos mórbidos, que nem mesmo eu estava sendo capaz de controlar. A única coisa que pensei, por mais louco que seja, foi em transar com ele. Senti que precisava me conectar com o homem que amo, nem que fosse uma última vez. O que espero não ser uma última vez.

Pensei em esperar até o Natal para dar a notícia a todos, mas vai saber como iria ser a reação do Peter, ou do Noah. Ainda não contei a ninguém, nem confirmei nada com a Sara. O primeiro a saber precisa ser ele, o pai do nosso filho ou filha.

No momento, estou aqui sem saber o que fazer vendo um homem desse tamanho soluçando. Está apertando a roupinha amarelinha que comprei, e o papel do resultado do exame também já está todo amarrotado e molhado de lágrimas.
Do nada, Peter começa a rir histericamente e balançar a cabeça para o lados, como se estivesse... Possuído. Ele se levanta em um pulo, a coberta caindo para o meu lado, e me olha com lágrimas ainda descendo pelo seu rosto. Não consigo visualizar sua expressão por inteiro, porque já escureceu, mas parece que ele está sorrindo.

— É verdade? — me pergunta.

— É, sim. — murmuro. A neve está caindo mais forte, e eu estou congelando. Talvez não tenha sido uma boa ideia vir até aqui, no inverno.

Ele solta mais uma das suas risadas estranhas e grita, com toda a força que seus pulmões permitem:

— EU VOU SER PAI! — e me puxa pelo braço, tirando meus pés do chão e me girando no ar. — Eu amo vocês! É sério? Eu vou ser pai, mesmo?

Começo a chorar também, em parte por alívio, e de felicidade. Estou tão feliz, agora, e tão... Em paz!

— Sim, sim, você vai ser pai, Peter! — grito também, em meio aos soluços. — Nós vamos ser pais!

Ele me beija, tão docemente e com tanta ternura, que me faz querer que esse momento não acabe nunca mais.

Fui pessimista ao pensar coisas tão absurdas. Precisei de muito tempo para colocar na minha cabeça que ele não é o Rodrigo, e nunca será!
Tem pessoas que entra na sua vida só para bagunçar tudo, te privar das suas felicidades e fazer com que você se sinta insegura em relação as outras que nem de longe são igual aquele, o qual fez todo esse mal a você.
Fui tão egoísta e idiota ao forçar meu filho a conhecer o pai contra vontade dele, e sempre vou carregar esse peso na consciência. Meus pais nunca me forçaram a fazer coisas que eu não queria, e eu me sinto uma enorme vaca por ter feito isso. Precisava fazer tudo no tempo dele, não no meu.
Eu nunca perdoei o Rodrigo, e não sei se algum dia ainda serei capaz de tal coisa. Quem sabe no futuro, quando toda essa mágoa que eu tenho dentro de mim tenha se dissipado? Não sou uma pessoa que gosta de guardar rancor, mas o que aconteceu há onze anos atrás, para mim, é uma coisa imperdoável. Espero que com a chegada da sua nova filha, Antonella, faça ele pensar em todos os anos atrás. E que a sua companheira lhe faça o bem que parece está lhe fazendo. Quem sabe se ele teria procurado pelo Noah se não fosse por um empurrão da sua esposa? Pois é, são coisas, realmente, a se questionar.

Por Acaso Onde histórias criam vida. Descubra agora