Raziel
Levantei bem cedo para ir ao museu garantir que a espada ainda está lá e deixei Alicia dormindo em casa.
Já deu para perceber que gostamos bastante de espadas, não deu? Mas essa não é como as outras, nem as armas angelicais comuns chegam perto do que esta é e do que pode fazer. A arma possui um brilho azul único, é claro que não deixamos visível para os humanos, ela só se ilumina se chegar perto do único que pode usá-la, eu. Seu corte é tão potente que apenas com um toque, a pessoa poderia ganhar um ferimento grave.
É claro que não está à vista para todos, ela fica guardada na sala vip do museu, onde apenas pessoas importantes, doadores de objetos ou que pagam um alto valor podem entrar.
Ando pelo local e paro em frente à porta da tal sala que está fechada.
- Desculpe senhor, não pode entrar aí. - Um guarda surge. - É um lugar vip.
- Eu sou da família de um doador. - Respondo calmamente. - Se quiser conferir, meu nome é Raziel.
O objeto está aqui desde que o museu abriu e isso faz muitos anos, se eu dissesse que fui eu quem trouxe, não iriam acreditar.
O homem pega um caderno do bolso e folheia algumas páginas, até encontrar algo.
- É verdade, o senhor herdou o primeiro objeto posto aqui. - Abre a sala. - Venha, deve querer ver a espada.
Andamos até ficarmos poucos metros da arma e já posso sentir seu poder despertando, então paro para que não se ilumine. Meu gesto deixa o guarda confuso.
- Não vai querer se aproximar?
- Não é necessário, daqui posso vê-la por inteiro.
Uso como desculpa o que uma pessoa entendedora da arte diria.
- Então tem os olhos de um apreciador da arte. - Elogia.
- Eu diria que sim.
Apenas milhares de anos de experiência...
- Sem querer me intrometer, mas esse objeto está aqui faz tempo e nenhum dono veio procurar por ele. Posso saber o por que de só aparecer agora?
É claro que perguntaria isso.
- Para garantir que ainda estaria aqui.
Observo a espada atentamente.
- Não planeja tirá-la daqui, ou planeja?
Apenas saio da sala e ele me acompanha esperando uma resposta.
- Obrigado por me mostrá-la e tenha um bom dia.
Saio deixando-o ainda em dúvida com a pergunta não respondida.
Eu não planejo pegá-la, tenho um plano em mente e preciso que a arma continue aqui para que dê certo.
Agora aguardaremos o próximo passo da bruxa.- Raziel?
Vejo Lilith sentada em frente à minha casa quando chego.
- Olá Lilith. - Aceno.
- Olha, eu sei que foi confuso da última vez que nos vimos porque você lembrava de nada, porém preciso te fazer lembrar. - Fala em disparada. - Espera, você disse meu nome? - Franze a testa. - Se lembra de algo?
- Sim, de tudo. - A deixo boquiaberta.
- E já sabe que a Feiticeira está de volta?
- Acredito que eu tenha sido o primeiro a encontrá-la cara a cara. - Digo. - Eu ainda não havia recuperado minha memória, então a bruxa se aproveitou disso vindo até minha casa pedindo para que me juntasse a ela num plano de fazer desse mundo um lugar melhor.
- Como ela planeja executar esse plano maluco?
- Não tenho certeza, só sei que pessoas inocentes morrerão se eu não detê-la.
É ruim dizer isso, mas é o que vai acontecer.
- E você vai conseguir derrotá-la novamente não vai?
- Eu não sei... - Suspiro. - Ela está diferente dessa vez, parece mais forte e preparada.
É o que acontece quando se deixa uma bruxa presa por milhares de anos esperando uma chance de voltar e não falhar novamente.
- Razi, eu só espero que possa mesmo me perdoar por ter ficado do lado do Miguel. - Suas mãos estão tremendo. - Eu não sou mais um anjo forte e imortal, não quero morrer sem conseguir seu perdão.
Lilith ainda é um anjo caído, porém não é tão imortal como eu por exemplo. A Feiticeira poderia sim matá-la se quisesse.
- Está tudo bem, já te perdoei. - A tranquilizo. - E você não vai morrer, ok? Vai viver e dar as festas que tanto gosta, vai aproveitar ao máximo e quem sabe até encontrar alguém que te ame e saiba lhe dar valor.
A faço sorrir mesmo com lágrimas brotando no canto de seus olhos.
- Eu prometo que dessa vez vou estar ao lado de vocês desde o início.
- Fico feliz em saber.
- Não vou ocupar mais do seu tempo, até logo Razi.
Ela se levanta e vai embora.
Entro e encontro Ali já de pé. Chego perto e a abraço por trás beijando seu pescoço.
- Bom dia meu amor. - Sussurro em seu ouvido fazendo-a arrepiar.
- Bom dia. - Se vira e me beija. - Eu não pude deixar de ouvir sua conversa com a Lilith. - Sorri. - Estou orgulhosa.
Ouví-la dizer isso me alegra.
- Agora, pode me contar onde estava?
- Fui ao museu.
Nem preciso continuar, ela já faz uma ideia do que fui fazer lá.
- Entendi.
Algo se passa pela minha mente de repente.
- Ali, tenho que pedir para que se esconda com seus tios quando a luta contra a Feiticeira começar.
- Sabe que eu nunca deixaria você ir sem mim.
- Por favor. - Peço sério. - Vocês não tem suas habilidades enquanto ela estiver aqui, pedir para vocês lutarem seria pedir para que morressem.
- Tá bom. - Desiste. - Mas prometa que não vai fazer nada arriscado demais.
- Sim. - Beijo sua testa.
É claro que não há um jeito não arriscado de derrotar a Feiticeira, porém pensar em como Ali vai se sentir se souber disso me deixa péssimo. Quanto menos ela souber, melhor.
Felizmente tenho um plano em mente, agora é torcer para funcionar. Talvez assim eu não precise me arriscar tanto, mas se tiver, farei de tudo para deixá-la segura. Alicia é meu mundo e não quero que nada de ruim aconteça a ela.
Seus tios ainda não sabem sobre eu ter recuperado minha memória, é melhor dizer logo e explicar toda a situação.
Acredito ter apenas alguns dias antes do ataque. A Feiticeira está acumulando poder para vir com força total. É melhor eu também estar preparado quando acontecer.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Anjo Raziel
RomanceDepois que Victoria de "Victoria - Moradora do Submundo" escolheu ficar com Levi, seu coração despedaçou. Agora que se passaram 23 anos, Levi, Victoria e a filha Alicia retornam à cidade para ficar por um tempo. Poderia Raziel se apaixonar outra vez...