Depois do que aconteceu na festa da floresta eu evitei a Alicia por quase uma semana, mas sei que uma hora ou outra irei encontrá-la ou ela irá me encontrar.
Sobre as minhas asas... neste momento estou na frente do espelho com a camiseta levantada olhando as marcas que ficaram quando as perdi. Tenho evitado este assunto a tanto tempo e agora a dor de ver algo sendo tomado de mim veio à tona outra vez. Em uma explosão de sentimentos ruins acabo quebrando o espelho inteiro. Preciso sair para aliviar essa tristeza e raiva.
Andando sem rumo chego no parque, ao longe vejo alguém conhecido e me aproximo.
- Oi Alicia. - Tento mostrar meu melhor sorriso.
Por que ela tem uma mochila nas costas?
- Olá. - Me analisa. - Parece triste.
- Não é nada. - Respiro fundo para evitar explodir outra vez.
- Conta pra mim. - Senta-se num banco próximo para ouvir. - É sobre minha mãe?
- Na verdade não. - Espero criar coragem para contar. - Sinto falta das minhas asas. - Abaixo a cabeça triste. - Não me sinto completo sem elas.
- Eu queria dizer que entendo como se sente mas não tenho asas como meus pais ou você. - Morde o lábio inferior tentando achar um modo de explicar.
Tenho que admitir, fazer isso a deixa mais linda ainda.
- Meu pai é chamado de demônio, porém já deve saber que ele é parte anjo como meu avô e minha mãe tem o sangue deles. - Enquanto fala, presto total atenção. - Já eu... nasci com a parte vampira mais desenvolvida, não pude experimentar a sensação de voar. - Não demonstra estar abalada. - Vai conseguir passar por isso, quem sabe até conseguir tê-las novamente. - Sorri.
No dia em que a conheci eu me perguntei o que ela tinha de tão especial. Agora eu sei, mesmo tendo total atenção dos pais essa garota não se tornou uma pessoa mimada ou chata. Alicia é boa e compreensiva, tenho sorte de a ter conhecido.
- Obrigado por estar aqui. - Mesmo um pouco sem graça eu abraço ela.
Faz muito tempo desde que eu me abri com outra pessoa. Ter alguém para conversar sobre os problemas é um alívio grande.
- Eu tenho que ir. - Diz mesmo querendo ficar. - Consegui uma vaga na faculdade daqui e quero aproveitar a oportunidade. - Explica animada.
Agora entendi a mochila nas costas.
- Isso é ótimo. - Fico feliz por ela. - Então não vou te segurar aqui, vá lá e aproveite. - Acenamos um para o outro.
Novamente estou sozinho, ou pelo menos eu acho...
- Parece apegado a essa garota. - Vejo alguém encostado na árvore perto de mim.
- Não te devo satisfações Miguel. - Tento espantá-lo para longe.
- Ela tem o sangue sujo Raziel, tem que entender. - Insiste. - Sabe o que o pai acha disso.
- Eu não estou nem aí para o que ele pensa. - Aumento a voz. - Papai arrancou de mim o que eu mais amava. - Suspiro triste novamente.
- Você pode tê-las de volta irmão, basta...
- Não vou voltar! - Interrompo-o de forma agressiva. - Diga ao nosso velho que se quer me ver sofrendo, está pegando muito leve. - Meu tom é de total frieza. - Não vão conseguir me levar de volta nunca.
- Pensei que sentisse falta das suas asas. - Cruza os braços.
- E eu sinto, porém não é motivo o suficiente para que eu desista de ficar aqui. - Saio andando sem deixar ele falar mais.
Eu não sei mais o que devo fazer. Vou continuar sendo "torturado" se permanecer e se voltar não estarei feliz.
Acho que preciso se companhia neste momento. Recorro ao meu amigo de longa data que sempre ajuda quando pode. Vou até sua casa e bato na porta, em questão de segundos ela é aberta.
- Raziel? Não esperava te ver aqui. - Fica surpreso mas logo coloca um sorriso no rosto. - Entra aí. - Abre espaço.
- Acho que preciso de um amigo agora Alec. - Entro e ando vagarosamente até a sala me sentando no sofá.
- Aconteceu algo? - Se preocupa. - Belial te incomodou de novo?
Balanço a cabeça negativamente.
- O pai me quer de volta de qualquer jeito, não sei o que fazer. - O olho como se pedisse um conselho.
- Se não quer voltar então fique, não acredito que ele iria te torturar por isso. - Da de ombros.
- Você está muito enganado. - Sorrio tristemente.
Retiro minha camisa e o deixo ver minhas costas.
- Ele não fez isso... - Fala desacreditado. - Temos que dar um jeito de recuperá-las.
- Obrigado por querer ajudar mas essa briga não é sua Alec. - Dou um tapinha amigável no seu ombro.
- Se tiver qualquer coisa que eu possa fazer eu farei, te consideramos da família e ninguém mexe com os nossos familiares. - Diz determinado e eu concordo.
Conversamos até Sofia chegar com Alicia e eles me chamam para jantar ali, porém comida de vampiro não é pra mim, então recuso educadamente dizendo que outro dia eu volto e vou para casa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Anjo Raziel
RomanceDepois que Victoria de "Victoria - Moradora do Submundo" escolheu ficar com Levi, seu coração despedaçou. Agora que se passaram 23 anos, Levi, Victoria e a filha Alicia retornam à cidade para ficar por um tempo. Poderia Raziel se apaixonar outra vez...