Capítulo 6

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Carolina estava no banheiro a mais de 40 minutos. A essa altura eu já estava criando mil paranoias.

Será que ela está montando uma bomba no meu banheiro? Será que ela fugiu pela janela? Será que ela está mandando mensagem pra alguém e vão invadir meu apartamento e me sequestrar ou vai invadir com câmeras gritando que era tudo pegadinha? Hoje é 1 de abril?

Não aguentando mais, andei até a porta do banheiro e bati.

Babi: Precisa de ajuda pra tomar banho? Na sua mansão as empregadas que te davam banho e agora você não sabe tomar banho sozinho?⁣

Carolina: Ou ignorante, eu estou esperando a toalha pra me secar. Ou então, espera mais uns minutos que eu me seco sozinha. ⁣

Babi: Você é tão abusada. —Corri até o armário da pequena lavanderia e peguei uma toalha branca. Bati na porta e entreguei pra ela. ⁣

Alguns minutos depois ela já saiu devidamente vestida e com uma roupa limpa. Ela apontou pra mochila e disse que tinha roupas limpas ali.⁣

Voltei pra sala e sentei no sofá enquanto ela se sentava na poltrona na minha frente.⁣

Babi: Pode começar... —Carolina mordeu os lábios nervosamente e esfregou as mãos na bermuda.⁣

Carolina: Eu não posso te contar tudo, Bárbara. Mas, vamos fazer o seguinte: Você pergunta e eu respondo. O que eu não puder responder, eu não respondo. Pode ser? — Eu não fiquei satisfeita com a situação, mas acenei concordando mesmo assim. ⁣

Babi: Conheceu o meu pai?⁣

Carolina: Sim. O conheci há muito tempo. ⁣

Babi: O que ele tem a ver com o assassinato do Gs? —negou com a cabeça. Sinal que ela não podia responder essa. Pulei pra outra pergunta. — Você matou o Gs?⁣

Carolina: Não! Nunca faria mal a ele. -Disse.⁣

Babi: Não é o que pareceu quando vocês estavam se socando hoje mais cedo. —Carolina desviou o olhar e coçou a nuca.— Por que vocês brigaram?⁣

Carolina: Descobri que o Gs estava vendendo drogas na faculdade. ⁣

Babi: O que?!

Babi: Drogas? O meu pai usava drogas?! Você usa drogas?! -Perguntei desesperada. ⁣

Carolina: Meu Deus, calma! Não, seu pai não usava drogas, e eu também não.⁣

Babi: Ok. Você... Você promete que não vai tentar nada contra mim enquanto eu estiver dormindo... ou sei lá?⁣

Carolina: Prometo. Do fundo do meu coração! Nunca vou te machucar. —E eu de alguma forma acreditei

Bani: Por que você está aqui? ⁣

Carolina: Aqui é o único lugar que eles não vão me procurar.⁣

Babi: Quem?⁣

Carolina: Não posso falar... Só me deixa ficar aqui por um tempo. Eu tenho dinheiro. —Pegou a mochila, tirou uma caixa de sapato e me entregou. Abri a mesma e estava cheia de dinheiro. ⁣

Babi: acho que talvez não seja uma boa idéia... —Devolvi a caixa pra ela e juntei as mãos. Eu nem sabia de quem era aquele dinheiro.⁣

Carolina: Por favor, Babi... Eu não tenho pra onde ir.—Fechei os olhos e joguei a cabeça pra trás.⁣

Babi: Tá... Pode ficar aqui. Mas vai ajudar com as coisas. Lavar a louça, passar pano e principalmente lavar a roupa. -Apontei pra montanha de sangue seco em suas roupas dobradas perto da mochila.- Você não pode entrar no meu quarto e vai dormir aqui no sofá.⁣

Carolina: Sofá. Beleza, o sofá está ótimo! -Pareceu satisfeita.⁣

Babi: Ok. E toma cuidado com a coelhinha!⁣

Carolina: Coelhinha? Você? —Franziu as sobrancelhas e apontou pra mim.⁣

Babi: Não. A minha coelha. -Apontei pra gaiola atrás dela.⁣

Carolina: Espera... Você colocou o nome do seu coelho de coelhinha?⁣

Babi: Sim, é FÊMEA!⁣

Carolina: Ok, você é bem estranha... —Riu. É, parece que vou ter uma colega de apartamento...

O único som do local era o da televisão.⁣
Já́ era mais de meia noite e nenhuma de nós disse mais uma palavra e estávamos confortáveis assim. Lembrei-me do hambúrguer no balcão e corri pra buscá-lo. Peguei dois pratos e dividi o hambúrguer no meio. Dividi a batata frita e o refrigerante também. Levei o copo de refri e ofereci pra ela que pregou relutantemente. Depois voltei pra sala com meu prato e o dela. ⁣

Babi: Você deve estar com morrendo de fome. —Entreguei pra ela e sentei no sofá começando a comer. ⁣

Carolina: Acertou... Obrigada. —Sorri e acenei com a cabeça. Depois que terminamos de comer, coloquei os pratos e os copos na pia. Peguei um cobertor para Carolina e entreguei pra ela. ⁣

Babi: Vou dormir. Pode desligar a TV depois?⁣

Carolina: Beleza. O dia foi bem agitado hoje... —Sorri e me virei pra ir para o quarto. — Boa noite, Babi. ⁣

Escutei sua voz antes de fechar a porta do meu quarto.⁣
Não consegui dormir, é difícil quando se tem uma estranha a poucos metros. Já́ se passava das 3 da manhã quando eu levantei da cama e resolvi pegar um copo de água. O local era iluminado somente pela luz da lua, era pouca mas me permitiu enxergar o corpo da Carolina no sofá. Peguei um copo no armário e abri a porta da geladeira lentamente, a mesma iluminou o ambiente e eu dei um salto quando Carolina apareceu na minha frente. ⁣

Babi: PORRA! - Carolina sorriu minimamente e ergueu as mãos.

Carolina: Desculpa! Não quis te assustar. —Enchi meu copo de água e fechei a geladeira.— Não consegue dormir, né?⁣

Babi: Não quando tem uma estranha na minha casa. — Carolina abaixou a cabeça e se afastou, desconfortável.⁣

Carolina: Se você quiser eu posso sair. Tento procurar outro lugar...⁣

Babi: Não! —Gritei.— Não, não precisa. Eu sei que você confiou em mim pra te ajudar e eu vou fazer isso. —Coloquei o copo vazio na pia e me aproximei dele, relutante. Ainda não confiava nela. — E você? Por que não conseguiu dormir?⁣

Carolina: É meio difícil quando aquela imagem não sai da minha cabeça. -Abaixou a cabeça e foi até o sofá. ⁣

Babi: Que imagem? —Me sentei ao seu lado.—⁣

Carolina: O Gs no chão. Eu não... Não consigo tirar da cabeça. Fica repetindo e repetindo e eu não sei o que fazer. Isso tudo é um pesadelo enorme... —Arregalei o olho quando notei que a menina estava perto de chorar. Essa é a hora do abraço? Eu mal a conheça... Ainda sem saber o que fazer, passei meu braço pelos seus ombros e a abracei minimamente. Carolina deitou nos meus joelhos quando o choro intensificou. Eu não fazia ideia do que ela estava sentindo... Ser acusada do assassinato do melhor amigo e agora estar sendo procurada em todo o estado. Era realmente um pesadelo enorme. ⁣

Babi: Eu nunca soube dar conselhos, mas, a gente não pode mudar nossos destinos, Carolina. O destino sabe o que faz. Se é pra acontecer, vai acontecer e nós não podemos fazer nada pra mudar isso e nem adiar. Eu não faço ideia do que você tá sentindo nesse momento, eu não sei como te ajudar, e me bate uma frustração enorme por causa disso. Eu sei que a gente nunca se falou, mas se o meu pai confiava em você, aposto que você tem um bom coração. Seja o que for que tenha acontecido, você deu o seu melhor pra ajudar o Gs, e ele sabe disso. A gente só tem que acreditar que ele está em um lugar melhor agora. Você fez mais do que o suficiente, Carolina. — Carolina secou o rosto e se levantou. Seus cabelos estavam uma bagunça e sua bochecha estava vermelha por causa do choro. Ela estava esgarçada, parecia uma palhaça...

Carolina: Posso comer você?⁣

Babi: O QUE?!

Carolina: Posso cozinhar pra você? —Carolina franziu as sobrancelhas em dúvida pelo meu desespero e depois riu. A idiota tá rindo do que? Relaxei o corpo e acompanhei a sua risada.⁣

Babi: Cozinhar? Agora?⁣

Carolina: No almoço. Quero te recompensar por isso tudo que está fazendo...⁣

Babi: Você sequer sabe cozinhar? -Duvidei.⁣

Carolina: Eu fazia a minha própria comida. Meus pais quase nunca estavam em casa, então eu liberava a cozinheira e preparava a minha comida. Não sou uma chef, mas é comível. -Deu de ombros.⁣

Babi: Tá bom. -Cedi.- De manhã eu vou ao mercado e compro os ingredientes, aqui em casa não tem muita coisa...⁣

Carolina: Ok. —Nenhuma de nós se mexeu, apenas continuamos lá nos encarando.— Quer jogar um jogo?⁣

Babi: Claro. —Cruzei as pernas no sofá me posicionando de frente pra ela. ⁣

Carolina: É pra gente se conhecer melhor. Você me conta algo da sua vida e eu te digo algo da minha. Coisas leves pra passar o tempo.

Babi: Hm, gostei. Você começa.⁣

Carolina: Ok. Quando eu era pequeno, eu tomava remédio escondido dos meus pais. —Arregalei os olhos.⁣

Babi: Como assim?⁣

Carolina: Era aqueles de tutti-frutti... —Cai na gargalhada— Eu tinha seis anos!!⁣

Babi: Peguei catapora na noite da minha festa de quinze anos. Até o final da festa eu já estava toda inchada e vermelha. Ninguém quis tirar foto comigo, a metade dos convidados já tinham ido embora antes do parabéns. — Carolina riu escandalosamente. Quando ficou séria notei as lágrimas nos olhos. O que tinha de tão engraçada para fazê-la chorar de rir? Avancei contra ela e comecei a bater levemente em seus braços.— Para de rir de mim! ⁣

Carolina: Eu nunca consegui ter uma boa relação com o meu pai, e esse era o meu maior objetivo quando era criança. Tentava sempre tirar as melhores notas, ser a melhor nos esportes... Não adiantou muito. Mas eu sempre achei que o erro estava comigo e me martirizei muito por um longo tempo. Meu pai nunca fez questão de me ter ao seu lado e eu tive que passar por muitos psicólogos para trabalhar a minha autoestima...

DYNASTY - BabitanOnde histórias criam vida. Descubra agora