Capítulo 4

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Lyra

Eu encarava a janela e a porta de minha cela.

Passava horas assim.

Confesso que estranhei essa minha ideia constante de fuga...houve um tempo onde a possibilidade de fugir deste lugar nem passava em meus pensamentos, não acreditava que sair daqui fosse possível. Mas algo mudou dentro de mim. 

Hoje anseio sair daqui, tenho a sensação de que algo me puxa para fora deste lugar, fora desta corte. Algo em mim grita que meu lugar não é aqui e esse sentimento cresce a cada dia.

Mas que lugar seria esse?

A angústia gerou em mim uma forte dor de cabeça. Deitei em minha cama e depois de um tempo adormeci.

Não sei por quanto tempo dormi. Quando acordei as estrelas já pintavam o céu escuro. Eu passava horas admirando o céu, principalmente o noturno, algo nele me aquecia e me dava esperança. Amava observar como as pequenas estrelas iluminavam toda aquela imensidão, gostava de observar como alguns formavam desenhos e formas. 

Hoje, em especial, o céu estava lindo.  

Me levantei da cama e admirei aquele céu noturno de longe. Pensei em quantas pessoas nesse exato momento faziam o mesmo que eu.

— Será que em algum outro lugar existe um céu tão bonito quanto este? – Perguntei baixinho as estrelas. – Devem ter milhares de olhares admirando vocês agora...estão lindas hoje.

Eu senti a emoção incendiar meus ossos.

— Queria conhecê-las mais de perto...- tinha a sensação que as estrelas e o céu e a lua me encaravam de longe e, com o seu silêncio prestavam atenção em cada uma de minhas palavras – Eu espero que um dia...eu possa vê-las sem estas grades. 

As estrelas brilharam em resposta. 

Não contive o sorriso.

— Eu sei...não vou desistir. – Prometi a elas baixinho.

O barulho do ferro rangendo da fechadura me obrigou a sair de toda a emoção que sentia. O medo e a tristeza tomaram conta de mim, não queria que a sensação que acabara de sentir fosse tirada de mim. 

A porta da minha cela abriu. Não com força e fazendo um barulho estrondoso como todas as outras vezes, desta vez foi como se algo pedisse permissão para entrar...pedindo o meu consentimento...algo que eu mal sabia o que era há um tempo. Minha surpresa foi ainda maior quando reconheci quem estava bem em minha frente. 

Cabelos longos e ruivos, uma pele clara e cansada...a postura da fêmea em minha frente era de exaustão e tristeza. Eu pisquei algumas vezes...queria ter certeza de quem realmente era. 

Meu coração deu um salto ao vê-la.

A Senhora da Corte Outonal estava em pé em minha frente. E seus olhos encarando os meus. 

A julgar pelo céu e o silêncio que fazia...com certeza aquela visita não era de conhecimento do Grão-Senhor.  Ela entrou e fechou a porta. 

— O que...

— Shhh – ela me interrompeu, sua voz era mais baixa que o normal – Por favor, fale baixo querida...não podem descobrir que estou aqui. 

Eu a encarei confusa. 

— Por quê? O que a senhora está fazendo aqui? 

Ela me olhou e eu só via compaixão e tristeza em seus olhos. 

Corte de Sombras e EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora