Flashback

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2012

Já faziam alguns anos que eu morava em Nova Iorque, mas não havia me acostumado completamente com a cidade grande e agitada. Para quem viveu toda a infância morando num parque de trailers com menos de 500 habitantes, mudar para uma grande metrópole como essa é um pouco assustador demais para uma criança. Mamãe e papai conseguiam tornar tudo mais fácil, me mostrando a cidade. Minha mãe sempre que podia me levava até o trabalho dela, fazemos compras pelo centro e então, começo a me apaixonar pelo mundo da moda.

A diversidade dos tecidos, até a forma em que eles tomam. Toda a parte de criação até estar no corpo da modelo e enfim ir às lojas para serem consumidos. Esse processo me encanta e minha mãe usando as mais diversas roupas, fotografando-as com toda a luz que ela emana, parece ter acentuado a minha paixão pela moda mil vezes mais. Passei a querer sempre estar com ela dentro do estúdio, além de nos aproximar, me aproximava desse mundo encantado.

Quando o assunto era me enturmar, podia me chamar de desastre garantido. Não que eu não tivesse nenhum amigo na escola, sempre preferi ter poucas amizades, mas que realmente me identificasse com essas pessoas. Olhando ao redor, aos 14 anos é uma chuva de hormônios, enquanto todas essas pessoas se agarram escondidos pelas salas de aula entre os intervalos - no qual todo dia alguém está na sala da diretora justamente por esse motivo - eu ainda sonho com o príncipe encantado.

Mesmo basicamente todo mundo me dizendo repetidas vezes que não existe príncipe encantado, eu acredito que exista o meu príncipe encantando. Aquele que será perfeito para mim, que se encaixe comigo, e é apenas isso que eu quero. Não me importo em esperar alguns anos até beijar alguém, me importo que esse momento será especial e ficará marcado para sempre na minha memória como uma das melhores experiências. Por mais que eu saiba que algumas pessoas consideram beijos apenas beijos, não consigo pensar assim. A ideia de um ato tão íntimo quanto o beijo, encostar a boca na de alguém, deixar que te invada e descubra constelações, para mim não pode ser com alguém menos do que meu príncipe encantado.

Engulo em seco quando vejo Justin Davis passando pela porta da escola, ele é mais velho, popular e lindo, ou seja, zero chances para mim, mas isso não me impedia de ficar babando na forma em que ele mexe joga a bola de futebol de um lado para o outro ou como ele se apoia nos armários e sorri de canto de boca. Simplesmente tudo, até a forma em que se move é incrível, ele daria um príncipe perfeito, se não fosse pelo fato de não saber nem da minha existência. Ou melhor, não sabia, até eu surtar no meio de uma festa, ter um ataque de pânico e desmaiar. Não tenho sorte para festas, isso é um fato mais do que comprovado.

Abro os olhos lentamente sentindo minha cabeça doer e dou de cara com a própria perfeição.

— Meu Deus, eu morri? Sou muito nova para morrer! – Digo colocando a mão no rosto e ouço uma risada gostosa ecoar em meus ouvidos.

— Não, mas quase. Ainda bem que eu estava por perto para segurar antes que você batesse a cabeça ou fosse pisoteada. – Abro o indicador e o dedo médio colocando meu olho entre eles e encarando Justin.

— Obrigada por não ter me deixado morrer.

— Acredite, a última coisa que eu queria era que alguém morresse na minha festa de aniversário de 15 anos, nunca superaria o trauma. – Ele é bem expressivo falando e aparenta ser mais simpático agora do que quando está andando pelos corredores com seus amigos. — Quer que eu ligue para seus pais para virem te buscar? – Balanço a cabeça negativamente.

— Se eles tiverem que me buscar mais uma vez por causa de algum incidente de festa, vou ficar trancada pelo resto da vida em casa. – Justin dá outra risada e desejo falar mais alguma coisa engraçada para que eu possa ouvir mais dela.

Opposite Sides - Season 2Onde histórias criam vida. Descubra agora