Depois da guerra, tivemos um período de calmaria.
Fui preso junto do Sebastian e alguns simpatizantes que continuaram na cidade, lutando contra os resquícios da Elite que insistiam em tentar reaver o poder — mesmo quando estava óbvio que haviam perdido.
No meio disso, precisei me manter ocupado para não lembrar dos gritos das pessoas naquela névoa escura. Na maioria das vezes era fácil, afinal eu tinha muitos demônios dentro de mim que gostavam de se alimentar de mal-estar, mas havia alguns momentos de silêncio em que a depressão batia e culpa me alcançava.
A única forma de me sentir bem era pensando no Jonathan e no fato dele continuar vivo.
Foram seis dias de luta com o que restou da Elite, até que todos os prisioneiros de guerra foram libertados e o silêncio foi me deixando frio e distante das demais pessoas. Pensei que fosse superar aquilo, mas as lembranças da guerra me faziam ter pesadelos à noite.
Quando Jéssica decidiu ir embora, poucas semanas depois de tudo ter acabado, resolvi engolir a tristeza e ir até ela me despedir.
— Tem certeza de que é isso o que quer? – perguntei, pela centésima vez. – Vou sentir falta desse rapazinho.
Peguei o Lucas no colo. Ele tinha olhos enorme, de um azul intenso, e sempre que me encava era como se pudesse enxergar todos os meus demônios — o que foi assustador no início, até me sentir bem por ele não ter medo do que via.
Lucas carregava muito do Jonathan, mas alguns detalhes eram só dele, como aquele sorrisinho meigo, ainda desdentado, e o nariz em formato de batata.
— Quando crescer, trate de cuidar da sua mãe. Ela é louca, agressiva e extremamente irritante, mas é a bruxas mais poderosa que já conheci.
— Aff, não ensine pro meu filho esse sentimentalismo bobo – Jéssica interveio, revirando os olhos e tirando o bebê do meu colo. – O Lucas ainda é um Abraham, será o bruxo mais forte da sua geração, e o mais durão também!
— Aposto que sim...
Trocamos um abraço enquanto as outras bruxas esperavam pela minha prima. Sebastian tinha aberto um portal pra elas no meio da floresta e —seja lá o que Salém reservava para aquelas mulheres — esperava que estivessem indo para um futuro melhor.
— Sei que não fomos muito bons um com o outro – relembrei. – Mas, depois do que houve na mansão e após essa guerra civil... Quero valorizar mais a família. O Jonathan tinha razão, os Abraham eram os mocinhos. Nós lutávamos contra monstros, ajudávamos seres mágicos, salvávamos bruxas e quebrávamos maldições. Não somos perfeitos, mas nosso sangue ainda deve valer de algo.
Havia muita coisa pra dizer e pouco tempo para tirar do meu peito todas as palavras. Então sorri para a Jéssica e o bebê em seu colo.
— Só mantenha contato, tá bem? Sempre que precisar de mim, estarei a um portal de distância.
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Ele é o mal (Romance Gay)
General FictionGay | +18 | Em um mundo onde a magia é real, Theodoro está prestes a completar 21 anos e precisa lidar com a pressão familiar para casar-se e manter a linhagem pura da família. Apesar disso, ele se deixa apaixonar por Jonathan - um jovem com sede d...