11. O pacto

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NOTA DO AUTOR: O que você seria capaz de fazer para salvar quem ama? Eis a questão... 

— Salvar uma alma não é algo habitual para a nossa família

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— Salvar uma alma não é algo habitual para a nossa família. Pensei que fosse a habilidade mais inútil que eu adquiri com os meus demônios, mas pelo visto estava enganada. Toda semana alguém aparece querendo ajuda e consigo ganhar cada vez mais com isso.

— Todos sabem como você cobra caro para salvar uma vida – falei, olhando para Jonathan inconsciente dentro do círculo do pentagrama. – Com certeza foi assim que entrou no ranking dos mais fortes.

— É machista da sua parte achar que só porque sou a primeira mulher entre os mais fortes, trapaceei para conseguir meu posto. Estou fazendo uma coisa boa aqui, tente colocar um sorriso no rosto e ser mais educado.

Se a vida do Jonathan dependesse de um sorriso meu naquela hora, ele com certeza morreria.

Tentei ignorar o fato daquela garota me perturbar tanto e comecei a folhear o necronomicon em busca do feitiço de cura.

Jéssica estava feliz pelo nosso acordo. Um casamento com o segundo membro mais forte do clã colocaria ela na escala mais alta da família, herdeira ao posto de matriarca assim que os membros mais velhos da casa morressem — o que, convenhamos, não estava tão longe de acontecer.

Era assim que funcionava em nossa família: o poder sempre falava mais alto. Por isso o ranking, por isso o poço e por isso todos os jogos mentais e os pactos com os demônios. Havia algo de terrível naquele lar e todos davam as costas para os problemas que nós mesmos causávamos nas vidas uns dos outros.

Desde a minha infância, nunca vi felicidade de verdade. Por anos, pensei que tudo o que existia ao meu redor era morte e destruição. Minha vida só mudou quando conheci Alef. Foi ele quem colocou um pouco de luz dentro de mim. Com ele, cheguei a pensar de verdade que poderia me livrar daquela mansão maldita, mas então tudo foi por água abaixo rápido demais...

— Pode colocar isso aqui em volta do pescoço dele, por gentileza? – Jéssica me entregou um colar de rosas brancas.

— E quanto aos espinhos?

— Não seja bobo, esse é o menor dos males.

Isso era verdade. Por isso assenti e fiz o que ela me pediu.

Senti um nó na garganta quando cheguei perto de Jonathan e enxerguei o rosto dele azulado, como se já estivesse morto mesmo que eu ainda sentisse seus sinais vitais batendo, fracos. Suas bochechas costumavam ser tão coradas e seus lábios tão vívidos, que congelei por um instante.

Era difícil admitir, mas acho que estava apaixonado por ele. Meus sentimentos se misturavam e se confrontavam com a minha relação com Alef, mas as dúvidas iam embora sempre que observava aquele rosto meigo.

Por que tudo tinha que ser sempre tão complicado?

— Deve ser difícil para você. – disse Jéssica, colocando a mão sobre o meu ombro antes que eu deixasse o círculo do pentagrama. – Sempre estar apaixonado pela pessoa errada e ver o tempo inteiro o amor escorrer entre os seus dedos feito areia de praia.

— Não fale como se a minha felicidade fosse importante para você. – Falei, me afastando dela e voltando para perto do livro. – Por que feiticeiras sempre são tão sorrateiras?

— Ainda bravo com o que fiz com o negro?

— O nome dele é Alef.

— Não sei por que está tão irritado. – Ela revirou os olhos. – Foi só uma maldição boba, não é como se eu tivesse matado o garoto.

— Graças a você eu nunca mais poderei vê-lo. Então desculpe se não estou feliz pelo nosso noivado.

— Tenho certeza que você irá se acostumar.

Viver com Jéssica seria como passar o restante da vida com uma unha encravada. Ela era irritante e extremamente desagradável.

Bem que meu pai me alertou que as feiticeiras eram bem mais perigosas que os feiticeiros. Quando ela evoluísse magicamente e se transformasse em bruxa, ou quando eu me transformasse em bruxos — como aconteceria após nosso casamento — seríamos os seres mais poderosos e mais infelizes da história da nossa família.

Mesmo Jéssica salvando o Jonathan, de uma coisa eu tinha certeza: sua vida seria tão medíocre quando a minha. Eu garantiria isso.

— Está tudo pronto. – ela alertou, após lançar o feitiço e as flores brancas no pescoço de Jonathan começarem a ficar vermelhas. – Vamos deixá-lo descansar enquanto arrumamos a cama.

— Cama?

— É claro. Acha que eu teria feito isso tudo sem uma garantia de que cumprirá a sua parte?

Não consegui compreender o que ela queria dizer com aquilo.

Franzi o cenho e encarei seus olhos demoníacos, tentando me preparar psicologicamente para o que viria.

— Não basta ficarmos noivos. Você poderia sair desse compromisso na hora que quisesse.

— Quer um pacto então?

— Não... Todo pacto tem uma brecha e você é talentoso o suficiente para conseguir encontrá-las. Ao invés disso, quero algo mais efetivo e permanente: vamos para a cama, nós dois, e você me dará um filho. 

Ele é o mal (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora