6. A ninfa da água

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Quando a noite chegou, senti um arrepio na espinha e soube que era hora de começarmos o ritual.

— O que eu preciso fazer? – perguntou Alef, terminando de preparar o pentagrama com as pedras próximas ao lago enquanto eu olhava para a água, à procura de algum sinal da ninfa.

— É só nadar até o fundo. O resto, deixa comigo.

Ele me entregou o revólver. Dava para ver que estava preocupado comigo, mas, sinceramente, me sentia no controle da situação.

— É só engatilhar. Apontar. E atirar. – Ele explicou, fazendo uma breve demonstração e me devolvendo a arma. – Sei que tudo vai dar certo, mas me sinto melhor se você estiver protegido.

— Tudo bem. Obrigado por me ajudar.

Ele piscou para mim, alongou os braços e se preparou para voltar ao lago.

— Só não deixe aquela coisa me matar.

— Prometo tentar!

Quando ele mergulhou, corri até a minha mochila e peguei a poção que precisaríamos. Deixei o revólver na cintura, recolhi o frasco com o líquido azulado e o joguei na água imediatamente.

Aquilo manteria Alef seguro e abriria os olhos dele para tudo o que existia abaixo da superfície. A missão dele era encontrar uma joia antiga, um colar que fora deixado naquela área há milênios pelas ninfas.

Se eu havia feito a poção do jeito certo, não demoraria para ele encontrar o objeto.

Tudo o que me restava era aguardar.

O que diabos vocês fazem aqui?

A voz infantil me pegou desprevenido.

Me virei, assustado, encontrando à minha frente uma garotinha de 1,30 metros, cabelo sujo, pele esverdeada como as folhas das árvores e olhos exageradamente grandes — o que a diferenciava de qualquer outra criatura que eu já tivesse visto.

— Merda! – exclamei. – Achei que minha poção fosse te afastar.

Da água? Sim. E você não tem ideia do quanto detesto deixar a minha casa.

Apesar da voz de criança, a ninfa da água devia ser uma das criaturas mais velhas daquele local. Tudo o que ela tocava ganhava vida, incluindo os pedaços de terra onde os seus pés pisavam que faziam crescer musgo e fachos de grama.

— Meu nome é Jonathan Abraham. – Me apresentei. – Vim pegar emprestada a joia das ninfas. Li sobre ela. Preciso para encontrar um amigo.

Um Abraham? — ela mostrou os dentes, deixando à mostra presas longas e afiadas. — Vocês se aliaram à demônios, são inimigos da natureza e de tudo o que é bondoso neste mundo.

— Isso não é verdade! – me senti ofendido. – A minha família ajuda as pessoas! Eles já salvaram monstros, ninfas, humanos... Mesmo que ninguém reconheça isso, pelo visto.

Ser um Abraham costumava ser motivo de orgulho para mim. Tanto que, ainda era difícil me desvincular das críticas à família.

Aquilo não pareceu agradar a ninfa da água.

Nenhum Abraham irá roubar o tesouro das ninfas!

— Espera – falei, quando ela se aproximou perigosamente de mim. – Desculpe. Não quis ser rude. Preciso da joia para encontrar meu primo. Ele é muito importante para mim, entende?

Ela me analisou, cheirando o ar ao meu redor.

Pareceu pensar se deveria ou não atender ao meu pedido. Pareceu, inclusive, tentada a acatar o meu pedido.

Ele é o mal (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora