12. A escolha

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NOTA DO AUTOR: Eis um momento muito importante do nosso personagem, algo que diz muito sobre a personalidade dele e o futuro desta escolha. Espero que curtam! E não deixem de me seguir no Instagram: @lorde_underworld. 

Ter um filho

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Ter um filho...

É claro que eu já havia pensado na ideia, todos pensam, mas conforme os anos passam e nossa mentalidade muda, percebemos o que significa de fato trazer alguém para este mundo.

Durante a guerra, as crianças que foram concebidas pelas bruxas de Salém carregaram maldições severas que as marcaram e as tornaram inférteis para que o sangue dos nossos inimigos não se propagasse novamente pelo mundo. A iniciativa dividiu o mundo bruxo, mas todos estavam exaustos demais para debater sobre isso durante o pós-guerra. Resultado: as maldições foram lançadas sem grande alarde.

A história não conta o que de fato aconteceu com essas crianças depois, mas sempre imaginei como deve ser difícil crescer marcado e infértil. O quanto elas devem ter sofrido sendo condenados por algo que não tiveram nenhuma culpa — e que sequer estavam presentes para fazer diferente.

Não sei por que isso me veio a mente quando ouvi a proposta de Jéssica, mas tudo o que consegui pensar foi no quanto o mundo bruxo era cruel com crianças.

Eu poderia ter demônios em meu corpo suficientes para destruir uma cidade, mas jamais seria capaz de condenar alguém à vida que eu tinha — não naquela família.

Por isso, após dizer sim para Jéssica e aceitar aquele trato maluco como se não significasse nada para mim, dei uma desculpa para ir até a cozinha da mansão.

Lavei meu rosto na pia da cozinha, tentei respirar profundamente e saí pela porta de trás, em direção a cerca viva que cobria parte do muro da mansão.

Assim que passei por ele, vi Sebastian à minha espera.

— Mesmo sua cara não sendo das melhores, acho que isso significa que ele está vivo. – disse meu antigo tutor, sentado em cima de um tronco e me observando atentamente. – Um garoto de sorte, devo admitir. Não é qualquer humano que recebe um golpe daqueles e continua de pé.

— Trouxe o que te pedi? – perguntei, ignorando suas palavras.

Sebastian me observou com atenção e vi nele uma hesitação e preocupação que não costumava ser típico de um feiticeiro desgarrado.

Seus olhos foram em direção à lua, como se pedisse alguma orientação para ela.

Sebastian era o adulto entre nós, mas raramente conseguia dar conselhos sinceros e valiosos.

— Eu queria ter filhos –admitiu, enquanto cruzava as pernas e arrumava o cabelo. – Infelizmente, demônios não são capazes de se reproduzir. A parte demoníaca do meu sangue sempre falou mais alto do que a parte da minha mãe. Já você, sempre imaginei que seria um bom pai.

— Eu sou gay, Sebastian.

Nunca tinha dito aquilo em voz alta. Era a primeira que eu admitia para alguém, mas colocar aquelas palavras para fora tornava tudo mais real.

— Eu jamais iria ter filhos, de qualquer maneira.

— Não se trata disso. Tirar de si mesmo essa possibilidade é como arrancar a própria liberdade de escolha.

Estava cansado demais para aquela conversa. Jonathan estava inconsciente, Jéssica à minha espera e os demônios dentro de mim riam como se estivessem assistindo a uma verdadeira comédia televisiva.

Senti meus olhos lagrimejarem. Fazia tempo que não sentia emoções tão fortes. Por isso apenas estendi a mão e tentei ser firme em minha decisão.

— Eu quero a planta. – falei, sucinto. – Ou você me entrega ou darei outro jeito de conseguir o que quero.

Ele ainda pensou em argumentar, expor mais ideias e tentar dialogar para eu mudar aquela minha decisão, mas Sebastian sabia que eu era cabeça dura.

Afinal de constas, ele jamais entrou em uma guerra que não pudesse vencer.

— Essa foi uma das maldições mais cruéis que criei – ele continuou, tirando a flor negra de um dos bolsos. As pétalas tinham manchas amarelas que brilhavam sob a luz do luar. – Marcar aquelas crianças foi um crime imperdoável. E saber que farei isso de novo, agora com um aprendiz meu, destrói mais um pouco de bondade que existe dentro de mim.

— O mundo não precisa da bondade vinda de pessoas como nós – falei, segurando a flor entre os meus dedos e analisando suas manchas para ter certeza que era a certa. – Foi você quem me disse isso, quando absorvi meu primeiro demônio.

— Talvez eu estivesse enganado. – Sua voz era limpa e rude. – Vi como correu com aquele garoto em seus braços, senti a dor que emanou em você quando percebeu o que havia feito. Há muita bondade em você, meu querido. Mas talvez ela não permaneça aí por muito tempo se continuar se mutilando.

Em outras circunstâncias, talvez eu ainda teria alguma escolha.

Infelizmente sabia o que Jéssica era capaz de fazer se eu não cumprisse a minha parte. Os poderes dela eram fortes, tanto que mesmo se eu tentasse dar aquela planta para ela e condená-la a uma vida sem filhos, Jonathan ainda pagaria o preço.

Não... Se eu quisesse cortar o mal pela raiz, minha única escolha era me "mutilar".

E foi isso o que fiz.

Apenas amassei a flor entre os meus dedos, levei-a à boca e engoli a maldição que me tornaria infértil.

Minha escolha havia sido tomada: jamais teria filhos, jamais deixaria herdeiros neste mundo e jamais contribuiria para tornar aquela família mais forte.

Se dependesse de mim, todos os Abrahm teriam uma morte fria e dolorosa. 

Ele é o mal (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora