Capítulo 02

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Necessito de ar!


Soco o muro, diversas vezes na tentativa inútil de livrar-me da dor e raiva. Parando somente quando o sangue quente escorre pelos punhos e partes dos meus braços. Sou tão azarado que perdi a única coisa capaz de mostrar-me quem sou eu. Em meio aos soluços, escoro a testa no muro e permaneço dessa forma até não restar mais lágrimas.

Afasto-me da parede agradecendo aos céus por não ter pessoas passando pela rua. Tudo o que menos preciso agora e de gente me olhando feio ou com pena. Abaixo a vista e fito as minhas mãos ensanguentadas, ambas começaram a arder e doer segundos atrás. Respiro fundo, preciso dar um jeito para que ninguém as veja. Retiro a mochila das costas e passo a procurar por algo que dê para limpar esse sangue.

Quando amanheceu por completo, saí do casarão e voltei no mesmo lugar de ontem a noite, onde impedi o roubo. Procurei na rua toda e não achei nem vestígios do meu colar. Perguntei para muitos que passavam, sendo ignorado por alguns, se não tinham visto uma corrente dourada com um pequeno coração. No entanto, para o meu completo desespero, todos disseram não ter visto nada.

No fundo da mochila, acho uma camiseta que sempre carrego de reserva. Agarro o tecido e puxo de uma vez, fazendo os meus cadernos revirarem dentro da bolsa.

— Isso tem que servir, ao menos até eu chegar na escola. — Murmuro para mim mesmo.

Um pulinho rápido na enfermaria e estará tudo resolvido. Se questionado como me machuquei, invento uma mentira esfarrapada que cole.

O assunto do momento, é a festa de amanhã que será dada em comemoração aos cinquenta anos de existência da escola. Os meus colegas falam sobre mais algumas coisas, as quais não presto atenção. De repente, lembro-me de algo que vi na internet quando pesquisava sobre as famílias antigas com o sobrenome Evans. Pego o celular e passo a procurar onde salvei a informação contendo o endereço.

Talvez hoje eu tenha ao menos um mísero punhado de sorte.

✯✯✯

Depois de quase uma hora e meia de caminhada, finalmente entro na rua que anotei às informações. Não achei que para chegar aqui fosse preciso percorrer tudo isso. Paro no meio da rua, quase que largada a própria sorte, para tomar fôlego. Se para mim que pratico esportes, por obrigação, já é difícil estou a imaginar para alguém sedentário.

Para de enrolar e vai logo na casa, Eric!

Tento repreender-me. Respiro fundo e volto a andar, parando somente quando chego na frente da propriedade em ruínas. As paredes estão rachadas e o reboco que um dia cobriu a casa, começa a cair, deixando os tijolos da mesma a mostra. Estão abertas, somente as três janelas quebradas do segundo andar, exceto a do meio, localizada na parte de baixo. Encaro as duas portas protegidas por grades enferrujadas, sem saber o que fazer.

Ah! Merda. E agora?

O ferro, apesar de estar coberto por ferrugem parece tão resistente quanto o aço. Sem esperanças para conseguir entrar, forço uma das barras que cede milagrosamente. Eu tinha dito aço?

Porque não tentei fazer isso antes?

Termino de empurrar a porta, adentro o lugar silencioso e mal iluminado. A ansiedade para encontrar alguma pista útil, é tão grande que mal sinto medo ou desespero. Acendo a lanterna do celular e começo a explorar.

Te Guiando No SubúrbioOnde histórias criam vida. Descubra agora