Valsa diferenciada
— Se continuar andando em círculos vai acabar abrindo uma cratera nesse chão. — Camille murmura jogada em cima da minha cama com os olhos grilados no celular.
— Se não vai ajudar, não atrapalhe. — Retruco sem paciência.
— A culpa não é minha se você esqueceu de avisar esse seu amigo misterioso. — Cutuca novamente.
— Camille quer parar! Eu já disse que não vou falar quem é ele.
— Ai, para quê esse estresse todo? Não é como se nós fôssemos investigar a vida dele. — Dá de ombros.
— Ah, não? — Paro de andar e indago irônico.
A mesma diz como se eu não os conhecesse demasiadamente bem. Decerto, investigariam até o primeiro da árvore filogenética da família Howard.
— Ai Eric, hoje você está um chatonildo. — Se levanta e sai pisando duro para fora do quarto.
— E você está repetindo muitos “Ai”.
Não sou culpado. Ela que me viu aqui desesperado e, ao invés de ajudar, só piorou ainda mais a coisa. Deixando-me muito aflito. Ando poucos passos jogando-me de barriga para baixo sobre a cama. A vontade de gritar está incontrolável.
— Está tudo bem, Eric? — Estico o braço mostrando um joia.
Ouvindo o ranger da cadeira ao lado, viro o rosto para encarar Will.
— Escutei uma barulheira vindo daqui, e avistei a Camille sair soltando fogo pelas ventas.
Tento prender o riso, porém ele sai e eu gargalho alto. Will é o mais velho de todos. Ele raramente dorme no casarão. Costuma passar boa parte do seu tempo no trabalho e na casa da namorada. A qual, ele nos apresentou meses atrás.
— Esqueci de dar um recado importante para um amigo. — Digo e volto a enfiar o meu rosto no colchão de textura macia.
— Imagino que por você está dessa forma, já usou todos os meios ao seu alcance para tentar dar o recado? — Pergunta e eu confirmo.
— Então, o jeito é você se acalmar e esperar.
Encaro-o. Não entendo o que quer dizer com esperar.
— As melhores soluções costumam aparecer depois que deixamos o assunto um pouco de lado.
É... talvez ele tenha razão. O problema é: como vou encontrar uma solução para avisar Maizom de que hoje Irei levá-lo a uma festa do pessoal?
Não gosto da hipótese de surpreendê-lo. Afinal de contas, nem sei se ele gosta de ir a lugares desse tipo. Onde há muitos jovens, considerados pela sua realidade como “gente sem futuro”.
Embora uma parte de mim, diz que Maizom não é assim, a racional alerta para pensar dos dois ângulos.
O medo da reação dele ser negativa, está me corroendo por dentro. Era para ter feito isso ontem, logo que recebi o aviso. Caso ele não topasse, eu encontraria outro lugar para levá-lo. Porém, esqueci completamente de avisar.
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Te Guiando No Subúrbio
Roman d'amourVencedor do THE WATTYS 2022 🏆 Abandonado recém-nascido em um orfanato, Eric Evans aventura-se por toda a cidade através de buscas incessantes e muitas vezes perigosas, tendo que lidar com a frustrante falta de pistas concretas que possam levá-lo a...