Capítulo 25

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Expulso

De início, pensei em empurrá-la. Entretanto, descartei a ideia logo que a vi sendo aberta vagarosamente. Ando para dentro. A friagem me faz encolher, cruzo os braços pressionando a blusa de frio contra o peito. Não vou vesti-la.

A pouca luz, me obriga a estreitar os olhos para enxergar melhor. A passos cautelosos, corro os olhos pelo lugar. Há várias prateleiras que vão do chão ao teto. Umas com pilhas e mais pilhas de papéis. Outras, com grandes caixas verdes.

Começo a procurar por Maizom, encontrando-o escorado em um dos cantos da parede branca. Aproximo-me com rapidez. Os cacos de vidro afiados espatifados pelo chão, os quais já foram garrafas, faz a minha respiração aumentar.

Busco seus olhos. Encontrando-os baixos, fixos no chão. Porém, o que faz o meu coração atrofiar é a expressão abatida em seu semblante, acompanhado por lágrimas constantes que banham suas bochechas. Nunca o vi assim.

O que me faz querer ir até ele, abraçá-lo forte e soltar somente quando estiver melhor. Paro próximo, entre a bebida derramada e os cacos de vidros. Seus olhos vermelhos e inchados devido ao choro silencioso, encontram os meus.

— Agora que matou a curiosidade e viu o meu estado lamentável, pode se retirar. — Volta as vistas para o chão, novamente.

Dói ouvir essas palavras. Jamais faria isso! Entretanto, não vim para julgá-lo e sim ajudar. Assim como ele me ajudou quando precisei. Não é qualquer palavrinha que vai me fazer mudar de ideia.

— Claro! — Seus olhos voltam-se para mim outra vez. — Logo que te ver melhor.

Maizom não diz nada, apenas se limita a me olhar por breves instantes. No castanho angustiante das írises, está quase explícito o pedido de socorro para retirá-lo de perto de si. Salto os vidros quebrados, amarro a blusa na cintura e me sento ao seu lado.

— Saia enquanto há tempo. Vou acabar matando você também.

Tento não demonstrar impacto com o que acabei de ouvir.

— Acho que se quisesse realmente fazer isso, não me avisaria.

Noto o seu peito subir, permanecendo assim por um bom tempo antes de descer novamente, esvaziando-se num suspiro longo.

Os minutos penduram-se na sala fria, enquanto Maizom permanece na mesma posição. Largado, com metade das costas apoiada na parede. Aos poucos, o cansaço me domina.

No entanto, estou sem sono. Não tem como pregar as pálpebras sabendo que Maizom não está bem. Encarando o cômodo iluminado pela fraca luz do teto e com o peito apertado, sinto ele apoiar a cabeça no meu ombro.

— Eu a matei... — Murmura pouco depois.

Opto por permanecer calado e ele continua:

— Ela me pediu inúmeras vezes para andar devagar.

Não sei o que ele está querendo dizer, porém é como se uma parte de mim já soubesse da história toda e o corpo para demonstrar isso, arrepia-se seguidas vezes.

— E, justo no dia que eu estava devagar, a..aquele irresponsável bêbado bateu em nós.

Suspira forte e sinto as suas lágrimas quentes molharem o tecido da minha camiseta. Aproximo-me para mais perto dele. Essa matéria passava em todos os cantos quando ligava a TV. Fiquei sabendo por alto. Não imaginei que tivesse sido com Maizom.

Tomando cuidado devido a sua cabeça estar apoiada no meu ombro, passo os braços em volta da sua cintura, mostrando-lhe que estou aqui e não o deixarei só de forma alguma. Sinto a sua blusa e pele, gélidas.

Te Guiando No SubúrbioOnde histórias criam vida. Descubra agora